Sem qualquer justificativa legal, o deputado se vê com menos direitos que os demais brasileiros
J. R. Guzzo
Não há nada que se compare ao caso do deputado Daniel Silveira, no Brasil de hoje, em matéria de ilegalidade em estado bruto. As classes intelectuais, a mídia e a elite em geral, que vivem à beira de um colapso nervoso com tudo o que consideram ameaças ao “Estado de Direito”, ignoram grosseiramente esse escândalo — da mesma forma que a OAB, as entidades que dizem defender direitos humanos e constitucionais e a central nacional dos “garantistas”.
Isso não muda em nada o
tamanho da extraordinária coleção de violências que o deputado vem sofrendo em
seus direitos mais elementares — apenas coloca em evidência a cumplicidade do
Brasil bem-pensante com o desrespeito flagrante, direto e permanente às leis
brasileiras por parte do Supremo Tribunal Federal. É ele, na pessoa do ministro
Alexandre Moraes, que impõe a Daniel Silveira a situação de perseguido político
oficial — uma aberração em qualquer democracia constitucional.
Solto depois de nove meses de
prisão integralmente ilegal, e proibido de manifestar-se nas redes sociais —
não pode comentar nem um jogo de futebol no Twitter — o deputado também não
pode, agora, dar nenhum tipo de entrevista à imprensa. É um fenômeno. Um
criminoso do PCC, por exemplo, pode dar entrevistas na cadeia — quantas
quiserem publicar. Silveira, deputado e solto, não pode. Esta exibição de
demência não diz respeito só a ele; agride diretamente o direito da imprensa de
entrevistar quem bem entender.
São ofensas particularmente primitivas à liberdade de expressão garantida no Artigo 5º. da Constituição Federal. Nada, nem ali e nem em nenhuma outra lei brasileira, permite que se faça o que está sendo feito em relação ao deputado. Ele não é o único, naturalmente, a ter os seus direitos rasgados pelo inquérito ilegal, perpétuo e totalitário do ministro Moraes sobre “atos antidemocráticos”. Mas o seu caso, sem dúvida, é um dos mais infames.
Silveira, como se sabe, foi
preso no início do ano por ofensas ao STF — uma ilegalidade absoluta, pois ele
é um deputado em pleno exercício do seu mandato e não pode, pela Constituição,
ser preso — a não ser em flagrante e no caso de crimes gravíssimos, como
qualquer cidadão brasileiro. Ele não cometeu crime gravíssimo: seu delito, caso
fosse julgado e condenado, é o de injúria. Mais: a prisão aconteceu dias depois
de ter feito as declarações. E daí? O ministro inventou um desatino legal
jamais ouvido antes, o “flagrante perpétuo”, para jogá-lo no xadrez. Ficou por
isso mesmo.
O deputado, de qualquer forma,
está protegido pelas “imunidades parlamentares” e jamais poderia ter sido preso
por ter expressado opiniões, mesmo insultuosas; teria de ser processado na
forma da lei, com a participação da Câmara dos Deputados. Durante sua prisão, o
ministro Moraes proibiu que ele fizesse uma ressonância magnética no joelho.
Foi uma sucessão de horrores.
Agora, em liberdade, Silveira
vive na condição de “sub-cidadão”. Sem qualquer justificativa legal, ele se vê
com menos direitos que os demais brasileiros. Se fosse aplicada a lei, jamais
poderia ter sido preso; foi roubado em nove meses de sua vida e está oficialmente
ameaçado de voltar para o cárcere, por vontade exclusiva de um ministro do STF.
A elite se cala diante deste e
de outros abusos porque os atingidos são pessoas politicamente amaldiçoadas
pelo “Brasil democrático”. Esquece que quando se anula dos direitos de um são
anulados os direitos de todos.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, via revista OESTE, 18-11-2021, 18h01
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