José Manuel
Corria o ano de 1995, eu,
felizmente, tinha conseguido fazer o meu processo de aposentadoria especial,
com sucesso, antes que o celerado da Av. Foch conseguisse fazer uma lambança na
vida dos Aeronautas.
1995 significava dez anos após
o término do regime militar, época em que o país viveu seus 21 anos de melhores
momentos, de paz e progresso em todas as áreas.
Foi também o melhor período da VARIG, pois assim como o regime militar, a Pioneira priorizava a ordem e o progresso, tendo como diretrizes exatamente a ordem, o respeito e o trabalho consciente, no sentido de gerar profissionais e formar uma empresa sólida e progressista em todos os seus atos empresariais.
No ano de 1995, apesar de até
então eu só ter visto um nosso DC-10 vazio no trecho Orlando-Miami, porque em
todos os trechos todas as nossas aeronaves andavam sempre cheias, pairava algo
no ar não muito claro e eu sentia isso. Nos dez anos anteriores a pseudo
redemocratização aboletada no poder desde Sarney, vinha criando uma profunda
recessão em nosso país, que começou a minar a base sólida anterior e a
estrutura das grandes empresas como a VARIG, por exemplo.
Para desmistificar de vez a
falácia de que as administrações VARIG foram as culpadas pela falência, vamos
fazer uma retrospectiva do que se sucedeu no período compreendido entre 1985 e
1995
1º) Seis padrões monetários
nesse período.
2º) Sete planos econômicos
mirabolantes, culminando com o oitavo, o plano Real, por milagre ainda vigente
e cambaleante.
O pior deles, em 1991,
praticado pelo celerado possuído da ocasião fez pior com a nossa empresa, do
que a atual pandemia virótica. O dinheiro simplesmente sumiu da vida de todo
mundo. Foi sequestrado por elllle!
E as obrigações aqui e no
exterior? E os leasings? E o combustível? E os quase vinte mil funcionários? E
peças de reposição? Quem pagaria por isso tudo?
Se fôssemos um país sério,
isso tudo teria sido ressarcido pela UNIÃO à época por ter sido a causadora
potencial desse caos econômico.
Mas, como sempre, se
esqueceram de que a conta sempre chega, e agora "chegou“ para a União, e
muito salgada!
E os desvairos alucinados de praticar um "Open Skies" para poder fazer uma empresa de ônibus voar para o exterior?
E a nossa terceira fonte de
sustento do Aerus que ELLLLE simplesmente suprimiu, reduzindo um acordo de
trinta anos a menos de dez, criminosamente, iniciando a liquidação do nosso
fundo Aerus?
Aqueles que adoram falar
bobagens, parece que não se recordam, mas estarei aqui sempre para lembrar!
Precisa desenhar o que nós,
simples mortais, sofremos nessa época com essa balbúrdia e principalmente a
VARIG, empresa aérea fortemente alicerçada e dependente de moeda forte
estrangeira, sofreu na sua administração?
Gostaria muito de conhecer
essa fórmula mágica que muitos dizem conhecer para se manter uma empresa aérea
gigante como a VARIG, num cenário político-monetário caótico como o que o
Brasil viveu nessa década. Cartas para a redação, por favor!
Sua base estrutural
simplesmente começou a criar fissuras visíveis, e só não percebeu quem vivia em
Marte e não dava a mínima para a sua empresa, para o seu trabalho e para o seu
futuro. Eu dava, e muito!
E por isso, percebia tudo
isso, eu sentia que algo não ia bem.
Então nessa época, em 1995,
comecei a fazer uma campanha nos meus voos, para que nós liberássemos 10% dos
nossos salários por determinado tempo como uma nossa colaboração à recuperação
da empresa, por que afinal isso por óbvio, iria reverter em nossa saúde
laboral. Só não apanhei uma surra, por
milagre apesar de ouvir toda a sorte de impropérios e ser relegado a um
ostracismo temporário.
Não me importei a mínima com
ataques pessoais, como sempre, pois eu sabia lamentavelmente o que iria ocorrer
com o meu futuro, e temia pelo futuro da empresa.
E onze anos depois, em 2006,
chegou o que eu, no íntimo, sabia e mais cristalino impossível.
Então, na minha visão e com toda a certeza, o início do desmanche da nossa empresa está forte e diretamente ligado a dois fatores preponderantes, como o narrado acima e mais um detalhe que passou desapercebido por muitos, mas que foi diretamente proporcional ao modo de como a empresa passou a se comportar gerencialmente, numa determinada época.
Infelizmente, neste caso,
desconheço o cerne e as nuances dessa mudança, mas isso era muito visível.
Saindo da esfera externa e com
tudo de ruim que aconteceu nessa década perdida, passamos às vísceras da nossa
empresa, pouco visíveis à grande maioria, mas não desapercebidas por mim que
acompanhava tudo sobre uma outra ótica além da minha função no voo.
De 1970 a 1990, ou durante
vinte anos a VARIG teve no seu quadro de administração, ótimas cabeças técnicas
e pensantes, mas um dos melhores, talvez o maior expoente, Sérgio Prates como
diretor, tinha uma cabeça excepcional em gestão de empresas.
Foi por essa época que o seu
nome, Sérgio Prates, administrador de empresas com currículo e uma experiência
ímpar à frente da Diretoria do Serviço de Bordo, foi fortemente ventilado
muitas vezes para a presidência da empresa, o que era dado como certo não só
por todo o corpo de colaboradores da sua diretoria, como também por outras
áreas na empresa.
Eu mesmo acreditava piamente
nessa possibilidade, pois vivenciei todas as vitórias que a VARIG conquistou
dentro e fora do país no período de sua administração. Infelizmente e custamos
a acreditar, naqueles 180° de guinada abrupta da empresa em seu capital
intelectual, naquele ano de 1990, e a saída do cargo que ocupava, não
totalmente compreendido por todos, até hoje, do homem que ajudou a dar vida, a
dar luz à estrela da Pioneira, tornando-a uma das melhores do mundo.
Teria sido um grande
presidente com toda a certeza, pois a liderança nata, o conhecimento
técnico-intelectual do que fazia, o seu trabalho como Diretor de uma das
principais áreas da empresa, lhe davam toda a expertise necessária para levar a
VARIG, mais longe do que foi, apesar dos problemas político-econômicos, o que
com certeza teria, senão soluções, um jogo de cintura hábil, para enfrentar a
maioria, inclusive as investidas de políticos corruptos que assediavam a VARIG
por ganhos pessoais, pois nas suas veias corre o mesmo tipo de sangue daquele
que foi o maior Variguiano em todos os tempos: Ruben Berta.
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