José Manuel
Há
datas que a gente quer esquecer, apagar da memória, mas infelizmente neste caso
não somos uma obra tecnológica criada pelo homem, como um computador, por exemplo,
em que nós simplesmente "deletamos" aquilo que não nos interessa, não
nos faz bem.
Não,
nós somos o " homem " que criou essas máquinas maravilhosas. Nós
somos o que não se pode esquecer, não há como o fazer. Nosso cérebro é simplesmente
“indelével".
Essas
marcas carregamos pela vida inteira num vai e vem nostálgico ao sabor do nosso
estado de espírito. Infelizmente!
Ao
tocar neste assunto, fica muito claro que é um assunto super desagradável, mas
memórias são memórias e precisam ser colocadas para fora a fim de liberar meu
HD natural, e suprimir mais um fardo da minha existência.
Tenho
total consciência de que naquele momento em que vi a notícia, aproximadamente
vinte mil pessoas sentiram a mesma coisa: um vazio profundo na alma.
Porém
não posso escrever por ninguém e este espaço é absolutamente meu e de minhas
memórias. Assim me sinto mais confortável para continuar.
A
notícia, em 12 de abril de 2006:
A Secretaria de Previdência Complementar
(SPC) do governo federal determinou, nesta quarta-feira (12/4), a intervenção
no Instituto Aerus de Seguridade Social e a liquidação extrajudicial dos planos
de benefícios patrocinados pela Varig, o que representa o encerramento deles.
Naquele
exato momento vi na minha frente como se fosse uma tela holográfica, tudo o que
construí durante 32 anos, ser posto na lata do lixo, por criminosos
empoderados. Vi a minha casa em construção, virar uma ruína, vi o meu filho
adolescente perder o direito ao estudo, ao seu futuro. Vi mais, vi todo o
futuro da minha família entrar em colapso. Vi tudo isso, mas não aceitei!
Como
assim?! Um órgão da própria União responsável diretamente pelo meu fundo de
pensão está me penalizando por ele mesmo não ter cumprido as suas obrigações?!
Não, definitivamente não deixaria isso tão barato assim. E não saiu!
E
não vai sair enquanto eu viver, o que não significa que eu não saiba quem está
ou não nessa luta.
Não
me acovardei e parti para a minha luta. Escrevi centenas de textos, quase um
por dia sobre o assunto, para chamar a atenção e colocar os verdadeiros
guerreiros na rua, pois enfrentar o imponderável era o dever de todos.
Tudo está arquivado em modelo jornalístico na revista virtual "Cão que Fuma", do Jim Pereira, nosso colega em Lisboa, para pesquisa.
Fiz
três greves de fome no Santos Dumont em 2013, tema
de um próximo texto, até que tivesse pelo menos uma luz no horizonte. E
consegui!
Aeroporto Santos Dumont, 1-7-2013 |
E
por falar em tutela, já que as feridas têm de ser expostas por força da
memória, que tal confessar e honrar nossos corações, nossa história, aceitando
que a nossa tutela existe graças a um grupo de abnegados da Transbrasil que
impuseram uma ação Civil Pública e uma derrota à União? E nós, donos dos
fundamentos primários do Aerus, o que fizemos?
Ficamos esperando que o STF, desse ao Aerus o ganho da Tarifária? Deram, e daí, onde está o nosso ressarcimento até agora?
E
se não existisse a ação Civil Pública, como estaríamos? Naturalmente esperando
a Tarifária ser homologada e nós famintos, na miséria, enterrando nossos entes
queridos?
É
tão certo isso quanto eu estar aqui agora escrevendo, e faço uma homenagem a
todos os colegas da Transbrasil, apenas.
A
minha memória, extremamente lúcida e honesta de princípios, também me pede para
clarear de uma vez por todas aquilo que muitos acham que a culpa do colapso do
Aerus foi da própria VARIG, por não ter repassado os valores devidos. Balela,
pura balela.
Como
em tudo na vida, há momentos em que você não pode só receber. Você, dependendo
do momento, também tem que dar, até para salvar o seu futuro. É assim que
funciona!
Por
que pagaram à Transbrasil R$ 750 milhões de defasagem tarifária e entraram com
recursos e mais recursos para não pagar à VARIG. Por que o BNDES recusou
empréstimo à VARIG, quando ela tinha ativos superiores como garantia? A nossa
empresa lutou bravamente para subsistir a todos os ataques possíveis e
imaginários e, claro, em algum lugar os provimentos iriam faltar na tentativa
de não acontecer o que conhecemos de sobra. Só quem passou por isso, como eu,
sabe o que significa tirar "leite de pedra".
A
empresa estava lutando desesperadamente contra um banditismo mafioso, cruel,
especializado em lesar tudo que viesse pela frente, não lhes interessando o quê
e quem.
Sempre
os mesmos, os donos do poder à época e responsáveis pelo maior assalto a um
país, na história das nações modernas. Precisa continuar?
Quando
o STF deu ganho de causa à VARIG, na tarifária, ela iria cobrir todo o passivo
do Aerus, com os três bilhões à época que receberia da União
E
tanto isso é verdade, que a VARIG ao sentir que iria sucumbir deixou ao Aerus,
aos funcionários a Tarifária e um legado corrigido, de quase quinze bilhões a
nos serem pagos, com aval do próprio Supremo.
Tenha
orgulho da sua Empresa. Proteja a sua memória.
Agora,
quando vamos receber?
É
só lembrar da Transbrasil, e ir à luta, sem ficar reclamando em redes sociais!
Felizmente
hoje em dia, nós temos uma associação, a APRUS, ressuscitada e resgatada pelo
Thomaz Raposo, em 2011, das cinzas da hipocrisia e que seria usada antes apenas
como alavanca para se locupletarem ao Aerus, em tempos de PT. Agora,
completamente saneada e com gabarito suficiente para enfrentar o futuro, é o
único porto seguro que temos.
E
o futuro, chama-se inteligência gerencial, no sentido de saber cutucar a União,
na lei e na hora certa, para que aqueles quinze bilhões voltem ao Aerus e aos
nossos bolsos.
Perdemos
a nossa empresa, mas não vamos perder nosso futuro.
Quem
achar que o Aerus, ou meia dúzia de abnegados da APRUS, sozinhos, irão resolver
o recebimento dos nossos ativos que ora estão retidos com a UNIAO, está muitíssimo
enganado. E só para lembrar, a tutela está sujeita aos humores de terrivelmente
evangélicos ou puxa-sacos de plantão por cargos públicos em governos vigentes,
apesar de estarmos sob o manto da justiça. E não esquecer de 2019, quando
tentaram atropelar essa mesma justiça que nos protege.
A
hora mais do que nunca é de união de todos, para não revermos uma tela
holográfica em nossa frente, às 10 horas da manhã como em 2006.
O
melhor a fazer é trabalhar com inteligência pelo seu futuro, exatamente como
fizeram os colegas vencedores da Transbrasil.
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