José Manuel
Esta semana, fazendo uma grande faxina no apartamento, em determinado momento me deparei com uma cena insólita lá pelo ano de 1975, ou seja, o que estava vendo na parede em frente a mim e próxima tarefa. Fui arremessado por essa imagem em um Túnel do tempo de 46 anos passados.
Comecei a rir admirando aqueles quadros e me lembrando de quando fiz meu
primeiro voo para Roma.
Nosso Comandante era o Grosman, um senhor comandante e mais judeu estereotipado
impossível, mas muito boa gente.
No dia seguinte à nossa chegada ao hotel Metropole no Termine, estava no
lobby, acho, e depois de tomar o café da manhã, quando o Grosman passou me
pegando pelo braço dizendo, vem comigo!!
Onde Capitão, aonde vamos? - Vou
te mostrar a feira de Porta Portesi, respondeu ele.
Logo em seguida na via Cavour, pegamos um ônibus e lá fomos nós, com ele
contando as maravilhas de antiguidades que iríamos ver em uma das melhores
feiras populares na Europa.
Em dado momento eu, copetinho de primeira hora perguntei - Capitão, nós
não tínhamos que ter comprado a passagem?
A resposta foi imediata, como tudo nele era: “Aqui em Roma ninguém paga
passagem, fica quieto!!”
Tudo bem, quem era eu para retrucar um 4 faixas e antigão na nossa Varig
e que já voava desde a Real Aerovias?
Chegando à feira, fiquei deslumbrado com o que via, pois sempre fui um
apreciador dessas velharias e grudado sempre nele pois afinal não saberia nem
voltar ao hotel
Em dado momento paramos em uma barraca que além de outras coisas tinha um
conjunto de 4 quadros encaixilhados e oitavados com a representação das 4
estações. Podem ser encontrados pintados sem vidros ou guache com os vidros
protetores, o que era o caso daqueles.
Fiquei hipnotizado pela beleza, e perguntei ao vendedor quanto era. No momento em que ia dar o dinheiro, o Grosman como um furacão que sempre foi, pulou na minha frente pegou os quadros que já estavam na bolsa plástica, pagou e eu...
Bem eu fiquei sem eles e pela segunda vez com um ponto de interrogação no
rosto sem graça e engolindo em seco, mas numa boa com o meu Comandante e isso
era o mais importante, pois afinal havia conhecido aquela feira famosa através
dele, sem esperar.... e sem pagar nada!
Na volta para o hotel nem perguntei, mas viajamos outra vez... de
graça!!!
Pulando mais uma vez no tempo, quatro anos depois, por volta de 1979, fiz
um outro voo com o mesmo Comandante para Nova Iorque quando... bem esta
história é bem tragicômica e será contada na parte II.
Dez anos se passaram, daquele voo de Roma e em 1985 num dos voos à cidade
do Porto, conheci através de uma prima, um importador atacadista que só vendia
para comerciantes, mas com apresentação especial lá fomos nós, eu e a Irene, às
compras. Havia coisas belíssimas e voilá... o que estava exposto? Os quadros do
Grosman!
Nem precisava escrever que a minha próxima tarefa e retornando a 2021, foi limpar delicadamente os quadros do Grosman, hoje deliciosamente pendurados em minha sala, mas com muita história para contar.
Não tenho a menor ideia onde anda o nosso Capitão, mas se ainda estiver
entre nós vai se deliciar com estas memórias.
Caso não mais esteja, nós sempre nos lembraremos de suas histórias.
Títul, Imagem e Texto: José Manuel - Varig para sempre. Setembro 2021
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“Estória” é uma adaptação do “story”, que se diferencia do “history”, usada por muitos brasileiros. Seu uso não é correto em português, como apontam linguistas e gramáticos.
ResponderExcluirDito isto, quando recebi em 3 de outubro de 2013 a primeira contribuição para a coluna, vinda do seu iniciador, o ex-comissário de voo, Alberto José, com o título “Estórias da Aviação” – não sei se proposital ou erro involuntário – logo me amarrei na... transgressão. Pois julguei “estórias” mais apropriado à leveza e ao humor que, com certeza, viriam nas próximas contribuições.
E já lá vão sete anos!
Agora enriquecida com as contribuições de outro ex-comissário de voo da Pioneira, José Manuel.
Muito obrigado e boas leituras!