Rodrigo Constantino
As pesquisas apontam para
elevado nível de rejeição tanto de Lula como de Bolsonaro. Em que pese a
legítima desconfiança com essas enquetes, parece evidente que os dois despertam
mesmo um sentimento antagônico em muitos, o que seria a oportunidade para uma
"terceira via" mais moderada. Não obstante, ela não decola. Por quê?
Um dos motivos é seu claro oportunismo. Essa turma passa o dia inteiro demonizando Bolsonaro, culpando o presidente pode tudo. É como se Bolsonaro fosse o próprio vírus chinês. Os mesmos que antes repetiam que a economia deveria ficar para depois, agora só falam de economia, de inflação, apontando o dedo para o presidente como o responsável. É tudo falso demais.
Além disso, trata-se de uma
"terceira via" não só oportunista, mas esquerdista. No fundo, essa
turma prefere Lula a Bolsonaro, o que já expõe seu radicalismo, sua total falta
de compromisso com a ética, seu discurso furado sobre corrupção. É uma patota
que, na prática, vira as costas para a demanda popular, para as causas que
interessam a uma parcela significativa da sociedade, trata por ela como
"fascista", já que o conservadorismo é criminalizado em nosso país.
A deputada Janaina Paschoal
escreveu uma thread hoje em seu Twitter
tocando na ferida, e vale a pena reproduzir o conteúdo na íntegra, pois ela vai
ao cerne da questão: o desprezo da "terceira via" pelas bandeiras que
a população considera importantes. Ficou faltando mencionar as armas também,
diga-se de passagem:
Interessante constatar que
vários partidos pretendem expurgar bolsonaristas de seus quadros. Primeiro, foi
o PSL; na sequência, o NOVO; agora, o PSDB. Neste final de semana, o Deputado
Federal Marcel Van Hattem explicou que ele e seus colegas de bancada não são
bolsonaristas...
O que os dirigentes partidários não estão conseguindo enxergar é que os membros que eles definem como bolsonaristas são, na verdade, representantes da direita, indevidamente reduzida ao bolsonarismo. Essa cegueira deliberada impede encontrar a tal terceira via.
Ao negar a existência de
uma maioria que não quer a legalização do aborto, que não quer a
descriminalização da venda de drogas, que não quer crianças expostas a conteúdo
sexual nas escolas... as siglas partidárias incidem no erro de sempre.
A tal terceira via só terá
alguma chance de sucesso se corresponder às expectativas dessa maioria, que
finda ficando com Bolsonaro, porque as siglas partidárias lhes negam opção.
Mesmo nos Estados, não queremos mais do mesmo. Queremos Governadores que nos
representem...
Que respeitem a
diversidade, sem instituir uma ditadura de minorias. Os dirigentes partidários
não estão sabendo ler a sociedade... talvez por viverem encastelados, crendo,
equivocadamente, que podem criar um quadro e impor aos eleitores! Não funciona
assim...
Mesmo se os vários
aspirantes à terceira via abdicarem em prol de um único nome, se esse tal nome
não atender, verdadeiramente, às expectativas da maioria, o escolhido não vai
ganhar! Não adianta fundir partidos, não adianta criar legenda... nem fazer
prévias...
Não queremos retrocessos
nas pautas que importam à maioria. Esse é o ponto que precisa ser observado!
Acompanho os trabalhos dos ministérios e gosto. Só votaria em alguém disposto a
dar continuidade a esse trabalho. Como eu, há outros tantos brasileiros...
Quais as propostas dos que
alardeiam o expurgo dos "bolsonaristas" das siglas? O que eles
oferecem além do Fora Bolsonaro? São ocos! Por não verem a realidade, estão
fadados ao fracasso! Dá até dó!
Quando observamos o comportamento do Amoedo, dos tucanos, do MBL, salta aos olhos essa falta de coerência, de respeito ao bom senso, aos valores conservadores, pois eles preferem tratar qualquer um que enxergue virtudes no governo ou que rejeite as alternativas como "gado", como "vendidos", como "golpistas". É o mesmo jogo sujo da imprensa, que também cai em descrédito total, perdendo o que restava de sua credibilidade. Foi o que apontou o experiente jornalista Carlos Alberto Di Franco:
A sociedade está cansada,
exausta, do clima de radicalização que tomou conta da agenda pública. Sobra
opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações
categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma
overdose de colunismo militante. Um denominador comum marca o achismo que
invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: a politização.
A forte presença popular –
não de baderneiros, mas de brasileiros comuns com suas famílias – nas
manifestações do Sete de Setembro pediria uma leitura correta e manchetes
adequadas aos fatos. Não foi o que aconteceu. Dois equívocos afloraram nas
chamadas de alguns veículos. O primeiro deles foi simplesmente desqualificar os
participantes de um evento pacífico como radicais e desconsiderar o que
ocorreu.
Repudiar o que pensa uma parte
tão expressiva do povo brasileiro é o caminho mais seguro para cair na
irrelevância. Essa "terceira via", assim como nossa velha imprensa em
geral, só fala para uma bolha, uma elite cosmopolita "progressista"
que nutre profundo preconceito pelo povo, por pessoas comuns, pouco
"refinadas", que não acham a menor graça em chamar menino de menina
só porque um demente global qualquer acha "fofo" esse tipo de coisa.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 20-9-2021, 10h46
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