Costa e outros responsáveis políticos do Governo e do PS interiorizaram uma ideia de impunidade, de que são os ‘donos disto tudo’, que podem dizer tudo, fazer tudo, e os outros têm de se agachar perante o seu poder.
José António Saraiva
Eu via e não acreditava. António Costa, muito exaltado, muito inflamado, muito suado, vociferava contra o encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos, dizendo que era «difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade, como aquela de que a Galp deu provas em Matosinhos».
E ia mais longe dizendo
esperar um castigo exemplar «para servir de lição» a outras empresas que
queiram fazer o mesmo.
Houve quem dissesse que
parecia Hugo Chávez; a mim fez-me lembrar Vasco Gonçalves em Almada no Verão
Quente de 1975.
A mesma exaltação, a mesma
arrogância, a mesma hostilidade à iniciativa privada.
Pensei: ‘António Costa não
está bem!’
Confesso que já tinha ficado
chocado há uns meses ao ouvir os ataques feitos por Pedro Nuno Santos à
anterior administração da TAP e depois aos acionistas da Groundforce.
Mas de Nuno Santos já
esperamos tudo, após ter ameaçado com voz grossa os banqueiros alemães.
Agora António Costa é
primeiro-ministro de um país da União Europeia, é o principal representante do
Governo de um país democrático, que supostamente respeita a iniciativa privada
e a sua autonomia.
Como poderia estar a falar
daquela maneira?
Como podia atacar tão
violentamente uma empresa?
Como podia negar-lhe a possibilidade de fazer as suas opções estratégicas?
Mais: como podia ter-se
esquecido do que dissera há poucos meses, em maio, quando, embora lamentando os
despedimentos, apontou o encerramento da refinaria como «um enorme contributo
para a redução de CO2», elogiando implicitamente a administração da empresa
pela sua sensibilidade às questões ambientais.
Agora, António Costa chamava
‘irresponsável’ e ‘insensível’ à mesma administração.
Seria isto normal?
Julgo que o poder subiu
doentiamente à cabeça de António Costa.
Há vários casos assim.
E talvez a pandemia tenha
contribuído para isso.
A facilidade com que o Governo
dava ordens e toda a gente obedecia sem protestar, mesmo quando as ordens eram
tão severas como a proibição de as pessoas saírem de casa, talvez tenha dado ao
primeiro-ministro (e a outros governantes) essa ideia de ‘posso, quero e
mando’.
O Governo manda, as pessoas
obedecem, ponto final.
Costa e outros responsáveis
políticos do Governo e do PS interiorizaram uma ideia de impunidade, de que são
os ‘donos disto tudo’, que podem dizer tudo, fazer tudo, e os outros têm de se
agachar perante o seu poder.
Exemplos destes de arrogância
por parte de ministros e do primeiro-ministro têm sido inúmeros nos últimos
meses.
Isso também explica o facto de
António Costa andar por todo o país, feito vendilhão de feira, a fazer
descabeladamente promessas a toda a gente, sem se aperceber da anormalidade da
situação.
Costa acha perfeitamente
normal vestir de manhã o fato e a gravata e ir despachar para S. Bento – e à
tarde despir o casaco, tirar a gravata, subir para cima de um palco e gritar,
atacar os adversários, prometer mundos e fundos.
Assinar contratos com as
câmaras municipais que ultrapassam em muito as verbas de que o Governo dispõe
para o efeito.
E pior do que tudo, fazer
promessas com dinheiros da bazuca como se estivesse a oferecer dinheiro do seu
bolso.
Como se o dinheiro fosse seu.
Trata-se de outro sinal de que
Costa não está bem.
Como é possível não ver que,
como primeiro-ministro e em pleno período eleitoral, não deveria fazer
propaganda a favor de um partido com base em dinheiros públicos?
Dir-se-á que foi sempre assim.
Que o partido que está no
poder faz sempre isso.
Não me lembro.
Não me lembro de ver um
primeiro-ministro em campanha eleitoral para as autárquicas a fazer tantas
promessas para o futuro, tão abertamente, tão descaradamente.
Um primeiro-ministro que em
vez de se limitar a falar da obra feita, de elogiar os autarcas pelo seu
trabalho, promete uma linha de comboio aqui, uma maternidade ali, um centro de
saúde acolá.
Tudo, repito, com dinheiro que
não é dele.
Que não lhe pertence.
Criticou-se a ministra da
Saúde por ir a uma ação de campanha com o carro do Estado.
Ora, Costa faz muito pior: usa
o dinheiro do Estado para fazer campanha eleitoral a favor de um partido
político.
Usar a ‘bazuca’ para
propagandear os candidatos do PS.
Só uma pessoa perturbada pode
não ver a perversidade da situação.
Título e Texto: José António Saraiva, Nascer do SOL, 24-9-2021
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