terça-feira, 28 de setembro de 2021

No caminho errado

Carlos Moedas deixou o país boquiaberto com uma vitória na qual, presumo, nem o próprio acreditava totalmente.

Sandra Felgueiras

Fernando Medina ficou tão atónito que não soube sequer elencar as razões que o conduziram à derrota. Mas que o país não estivesse à espera da surpresa da noite, é normal.

Que Fernando Medina, António Costa e Duarte Cordeiro tenham cantado vitória até não ser mais possível é só o espelho de quem se alheou das pessoas e do que as preocupa realmente. Quem conhece a história política do país sabe que o fim do cavaquismo começou assim.

Em 1995, o país cansou-se da prepotência. Do poder absoluto. De um partido que se confundia com o próprio Estado.

Nos últimos 14 anos, o PS e a câmara de Lisboa tornaram-se duas faces da mesma moeda. E Moedas foi o homem que ironicamente acabou por pôr um ponto final a essa lógica de poder que não é de Medina, mas de Costa, o eterno presidente que nunca deixou de governar a capital e que nunca se cansou de repetir que Lisboa é essencial à governação do país.

Quem conhece a Câmara de Lisboa, fala com os seus funcionários e sente o pulsar da instituição sabe que Fernando Medina nunca teve pulso na casa. Durante seis anos, deu-se ao luxo de nunca ter dirigido palavra a dezenas de funcionários.

Na verdade, Medina era "dono" de uma casa que não era sua. Uma espécie de inquilino de António Costa a quem foi delegada a missão de continuar a sua obra. Medina deveria ter dito não.

"Não" a ser uma linha contínua quando esbarrou nos primeiros casos de corrupção. "Não" quando viu que o desnorte era tanto que se podiam violar dados de manifestantes sem que ele próprio soubesse. "Não" quando, mais recentemente viu que a presidente da junta de Arroios, Margarida Martins, se abastecia livremente nos mercados de Lisboa com motorista e tudo. Mas confrontado com tudo isto, preferiu dizer sempre "sim".

E foram esses "sins" constantes que lhe custaram a vitória. Porque um homem tem, não deve apenas, tem de dizer "não" à política, mas sobretudo ao eticamente condenável. Um homem não pode passar a vida a pedir desculpa e a demitir os mais fracos, como fez no caso hilariante da violação da proteção de dados dos manifestantes russos.

Ontem, Medina não se deveria ter engasgado na hora de responder à pergunta da noite. Por que perdeu? Perdeu porque errou. Porque não quis ouvir os sinais. Porque acreditou que é possível não reagir e esperar que os maus ventos passem.

À semelhança de António Costa que ainda hoje finge que não tem um governo repleto de ministros que querem sair e que não consegue substituir.

Quem vota não se esqueceu de tudo o que se tem passado, julgou e disse "não".

Medina jogou o seu futuro político nesta eleição, ao ser totalmente subserviente a António Costa, e logicamente não lhe restava outro caminho senão assumir a derrota "pessoal e intransmissível".

Mas é apenas um perdedor por inépcia. António Costa é o grande derrotado.

Apostou todas as fichas na vitória do partido e do país que controla, a partir de São Bento, com um motor de geringonça e recebeu um balde de água fria nas capitais de distrito e na capital do país.

O resultado de ontem mostrou que Portugal não está assim tão adormecido apesar da liderança sonolenta de Rui Rio. E Portugal também não precisa de ser do Chega para dizer "chega".

Perder Lisboa é perder o coração do país.

Onde quer que Guterres tenha estado a observar a noite eleitoral, ontem, há de ter sentido, uma vez mais, que o PS se afoga no pântano. Por ter virado as costas às pessoas e preferir viver a alimentar a máquina partidária que não ganha eleições, só consome empregos de quem, por mérito, nunca sairia da cepa torta.

Título, Imagem e Texto: Sandra Felgueiras, Facebook, 27-9-2021

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2 comentários:

  1. Não concordo com a autora quando diz "Costa o eterno presidente que nunca deixou de governar a capital". Costa nunca foi presidente nem sequer quando o era no papel. Para Costa, a Câmara dava-lhe um pousio enquanto o socratismo não lhe permitia escalar mais na hierarquia partidária. Manuel Salgadou foi quem mandou, de facto, em Lisboa: Costa e Medina só lá estiveram para lhe dar a cobertura política e lhe aproveitarem a boleia.

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  2. Finalmente estamos a mudar! Graças a Deus!

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