Carlos Moedas deixou o país boquiaberto com uma vitória na qual, presumo, nem o próprio acreditava totalmente.
Sandra Felgueiras
Fernando Medina ficou tão
atónito que não soube sequer elencar as razões que o conduziram à derrota. Mas
que o país não estivesse à espera da surpresa da noite, é normal.
Que Fernando Medina, António
Costa e Duarte Cordeiro tenham cantado vitória até não ser mais possível é só o
espelho de quem se alheou das pessoas e do que as preocupa realmente. Quem
conhece a história política do país sabe que o fim do cavaquismo começou assim.
Em 1995, o país cansou-se da prepotência. Do poder absoluto. De um partido que se confundia com o próprio Estado.
Nos últimos 14 anos, o PS e a
câmara de Lisboa tornaram-se duas faces da mesma moeda. E Moedas foi o homem
que ironicamente acabou por pôr um ponto final a essa lógica de poder que não é
de Medina, mas de Costa, o eterno presidente que nunca deixou de governar a
capital e que nunca se cansou de repetir que Lisboa é essencial à governação do
país.
Quem conhece a Câmara de
Lisboa, fala com os seus funcionários e sente o pulsar da instituição sabe que
Fernando Medina nunca teve pulso na casa. Durante seis anos, deu-se ao luxo de
nunca ter dirigido palavra a dezenas de funcionários.
Na verdade, Medina era
"dono" de uma casa que não era sua. Uma espécie de inquilino de
António Costa a quem foi delegada a missão de continuar a sua obra. Medina
deveria ter dito não.
"Não" a ser uma
linha contínua quando esbarrou nos primeiros casos de corrupção.
"Não" quando viu que o desnorte era tanto que se podiam violar dados
de manifestantes sem que ele próprio soubesse. "Não" quando, mais recentemente
viu que a presidente da junta de Arroios, Margarida Martins, se abastecia
livremente nos mercados de Lisboa com motorista e tudo. Mas confrontado com
tudo isto, preferiu dizer sempre "sim".
E foram esses "sins" constantes que lhe custaram a vitória. Porque um homem tem, não deve apenas, tem de dizer "não" à política, mas sobretudo ao eticamente condenável. Um homem não pode passar a vida a pedir desculpa e a demitir os mais fracos, como fez no caso hilariante da violação da proteção de dados dos manifestantes russos.
Ontem, Medina não se deveria
ter engasgado na hora de responder à pergunta da noite. Por que perdeu? Perdeu
porque errou. Porque não quis ouvir os sinais. Porque acreditou que é possível
não reagir e esperar que os maus ventos passem.
À semelhança de António Costa
que ainda hoje finge que não tem um governo repleto de ministros que querem
sair e que não consegue substituir.
Quem vota não se esqueceu de
tudo o que se tem passado, julgou e disse "não".
Medina jogou o seu futuro
político nesta eleição, ao ser totalmente subserviente a António Costa, e
logicamente não lhe restava outro caminho senão assumir a derrota "pessoal
e intransmissível".
Mas é apenas um perdedor por
inépcia. António Costa é o grande derrotado.
Apostou todas as fichas na
vitória do partido e do país que controla, a partir de São Bento, com um motor
de geringonça e recebeu um balde de água fria nas capitais de distrito e na
capital do país.
O resultado de ontem mostrou
que Portugal não está assim tão adormecido apesar da liderança sonolenta de Rui
Rio. E Portugal também não precisa de ser do Chega para dizer
"chega".
Perder Lisboa é perder o
coração do país.
Onde quer que Guterres tenha
estado a observar a noite eleitoral, ontem, há de ter sentido, uma vez mais,
que o PS se afoga no pântano. Por ter virado as costas às pessoas e preferir
viver a alimentar a máquina partidária que não ganha eleições, só consome
empregos de quem, por mérito, nunca sairia da cepa torta.
Título, Imagem e Texto: Sandra
Felgueiras, Facebook,
27-9-2021
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Não concordo com a autora quando diz "Costa o eterno presidente que nunca deixou de governar a capital". Costa nunca foi presidente nem sequer quando o era no papel. Para Costa, a Câmara dava-lhe um pousio enquanto o socratismo não lhe permitia escalar mais na hierarquia partidária. Manuel Salgadou foi quem mandou, de facto, em Lisboa: Costa e Medina só lá estiveram para lhe dar a cobertura política e lhe aproveitarem a boleia.
ResponderExcluirFinalmente estamos a mudar! Graças a Deus!
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