segunda-feira, 27 de setembro de 2021

A humilhante resposta que Amoêdo recebeu no Novo

Rodrigo Constantino

João Amoêdo [foto] é o principal fundador do Partido Novo, não só pela idealização do projeto, mas por seu financiamento. Não obstante, justamente pelo Novo representar uma tentativa de mudança de postura na política nacional, o partido não tem dono - ou não deveria ter. Ele deve seguir princípios e valores, não caciques partidários com interesses próprios.

E é por essa razão que a criatura tem cada vez buscado se afastar mais do principal criador. Amoedo mudou muito de postura, só pensa em atacar Bolsonaro, pedir seu impeachment, agir de forma estranha e aparentemente sem qualquer espírito público. Não são críticas construtivas com base em discordâncias legítimas - essa é a postura da bancada do partido no Congresso.

Amoedo parece obcecado em derrubar Bolsonaro, não se importando de ficar ao lado de Ciro Gomes, do PCdoB e de movimentos esquerdistas para esse propósito. E passou a perseguir "bolsonaristas" no partido, ou seja, aqueles que não dormem e acordam só pensando em derrubar o presidente, como o próprio Amoêdo.

Com isso em mente, Amoêdo enviou aos diretórios do Partido Novo uma carta com a intenção de retomar ao comando da sigla. Amoedo se colocou com uma espécie de Messias salvador do partido, que está rachado por culpa dele mesmo. Disse em seu texto:

Prezados membros do Diretório Nacional, continuamos de luto pela morte de quase 600 mil brasileiros, vitimados pela COVID, e o Brasil tem hoje um quadro econômico, sanitário e social devastador. As escolhas políticas que faremos nas próximas eleições serão determinantes para a reversão deste cenário. Apesar de estar afastado há mais de 18 meses da direção do NOVO e dos poucos contatos que tivemos durante esse período, tenho, como filiado e fundador, acompanhado o desempenho do partido. 

Infelizmente, a polarização, as narrativas que não condizem com a verdade e a perda de identidade que contaminam e enfraquecem inúmeras instituições, estão hoje também presentes no NOVO. Entretanto, permaneço otimista e continuo a vislumbrar no partido, pela inovação que representa na política, todas as condições para ser um protagonista e uma plataforma importante no processo de reconstrução do nosso país. 

Mas, para isso, é fundamental que com humildade, profissionalismo, equilíbrio e coerência façamos antes a reconstrução do NOVO. Precisamos de uma instituição que represente a esperança de mudança, na qual a energia seja direcionada para o crescimento da marca e estejamos todos reunidos e trabalhando com um único objetivo: melhorar a vida do brasileiro. 

É com este propósito que me coloco à disposição para retornar, de imediato, ao Diretório Nacional para cumprir o mandato para o qual fomos eleitos de forma unânime pela Convenção Nacional e assim trabalhar, junto com vocês e com todos os integrantes do NOVO, na consolidação partidária e no pleito de 2022. Ciente de que esta decisão caberá aos membros do Diretório Nacional copio, por transparência e para conhecimento, os diretórios estaduais. 

No aguardo do retorno, desde já agradeço.

 Atenciosamente, 

João Amoêdo.

Amoedo recebeu respostas humilhantes de diretórios regionais bem diferentes daquilo que devia imaginar, acostumado talvez com a subserviência de quem mais parece funcionário seu do que colega de partido. Foi o caso da turma de Santa Catarina, por exemplo:

Prezado João Amoedo, ao tempo em que o cumprimentamos, reconhecemos sua importância como fundador do Partido Novo, uma ferramenta excepcional para transformar o Brasil ao atrair cidadãos comuns para a política, como é o caso de todos os membros do Diretório Estadual e dos Diretórios Municipais que assinam esta resposta, copiada aos demais da lista indicada no seu e-mail. 

Aprendemos no Novo, com o senhor, que partidos não devem ter donos e, portanto, devemos evitar a ascensão de caciques políticos. O dono do Novo são o seu estatuto e cada um dos seus filiados, que contribuem diariamente para o projeto, seja na organização de eventos, na contribuição financeira, na defesa dos nossos princípios e valores, nas discussões e debates, enfim, das mais variadas formas. O Novo é construído por muitas mãos e muitos pontos de vista. Naturalmente, dada sua importância em erigir o partido, o senhor foi o primeiro presidente. Tão natural quanto isso, tendo em conta sua popularidade entre os filiados, à presidência seguiu-se a candidatura nacional em 2018. Após, voltar à direção do Novo não foi tão natural assim, mas seu histórico e reputação suplantaram qualquer palavra contra o retorno. Além disso, a subida de nomes como Eduardo Ribeiro e Guilherme Enck para o Diretório Nacional nos deu a impressão de que a renovação seria questão de tempo. Com sua saída, em 2019, confirmava-se a impressão. 

Sua saída foi positiva para a instituição, não por lhe faltar competência, mas para que ficasse claro que a governança não é feita por um só homem. Passamos a ter mais diálogo e um jeito aprimorado de fazer as coisas por aqui. O Eduardo conseguiu, por considerável tempo, imprimir um novo ritmo ao Novo, mais participativo e colaborativo com os Diretórios Estaduais e com os mandatários. A tranquilidade institucional não durou muito tempo, infelizmente. A postura adotada pelo senhor nas redes sociais foi pelo caminho da destruição do diálogo e da parcimônia. Todos sabemos das dificuldades por que passam mandatários e dirigentes do Novo, uns pela pressão natural dos cargos que ocupam, outros por fazerem um trabalho voluntário e, por diversas vezes, dispendendo recursos próprios.

João, você fez questão de esculhambar alguns dos nossos mandatários, ignorar os pontos positivos das atuações de cada um. Pior, aproximou-se de notórios detratores do Novo, como o MBL, cujos pronunciamentos malcriados sobre alguns dos nossos representantes foram feitos na sua presença, sem qualquer tipo de revide ou contraponto da sua parte. É sobretudo surpreendente tal postura, vez que você mesmo proibiu, enquanto presidente do Novo, que qualquer candidato vinculasse a própria imagem a tais movimentos. Sequer o RenovaBR escapou da restrição. 

Sua mudança de postura, ao optar por um incessante estado de guerra, influenciou negativamente a atuação da direção nacional e cingiu o partido. O senhor menciona em seu e-mail que gostaria de "reconstruir o Novo" e "unir esforços com todos os integrantes". Seu discurso está distante da sua prática. 

Na semana passada, um dos nossos fundadores, filiado querido, que defendeu a chapa à presidência ao seu lado, desfiliou-se por seus motivos, em grande parte coerentes, e o senhor foi a público dizer que na sua avaliação "a saída de filiados que são contra o impeachment fortalece a unidade partidária, fundamental para o crescimento do partido”. Um pouco antes, o senhor fez publicação na qual afirmava que alguns dos nossos mandatários deveriam buscar outras legendas. Já criticou, também, reiteradas vezes o "Congresso Nacional", sem destacar o quão bem trabalham nossos deputados. Em alguns momentos, fez “oposição por oposição”, se colocando contra posicionamentos técnicos e acertados dos nossos deputados, que destacaram atuações equivocadas do STF, sobretudo em relação à liberdade de expressão. 

Tem dificuldade em reconhecer os acertos do Governador Zema, aliás, o senhor já assistiu a xingamentos vindos de Renan Santos ao nosso governador, pessoa decente e trabalhadora, um incansável defensor do Novo, e nada disse para defendê-lo. E nunca, em nenhuma situação, em suas redes sociais, destacou o trabalho de excelência do nosso único governador no Brasil. Isso tudo não parece indicar que o senhor esteja disposto a trabalhar com "todos os integrantes do Novo", mas apenas com aqueles que concordam integralmente com o senhor. 

Lamentavelmente, essa sua filosofia belicosa de agir contra as pessoas que discordam sobre os caminhos tem sido repetida por parte dos membros do Diretório Nacional, o que só desagregou ainda mais pessoas e contribui decisivamente para a nossa atual “paralisia”. João, nós não aguentamos mais, aqui na ponta, ter que explicar as suas postagens e atitudes. Elas só desagregam e parecem estar totalmente alheias ao que se espera de um líder político. 

O curioso é que o senhor é preciso, em muitos momentos, em analisar o cenário, mas erra grosseiramente na forma. E a forma importa. Não é isso que pensamos de um partido político. Nós temos 6 valores. Eles são um fim. Mas os caminhos para os atingir são diversos. Não podemos deixar que a discussão sobre quais os caminhos para os alcançar sejam motivo de "expurgos". Trata-se apenas de uma outra maneira de se procurar atingir o mesmo objetivo, este sim relevante. Aceitar sua volta ao DN seria como assumirmos que o Novo tem dono. E não temos dono. Também não acreditamos em salvador da pátria. Nem para o país, nem para o Novo. Por isso, aqui em Santa Catarina, preferimos acreditar no crescimento do Novo com a formação de novos líderes. 

Sua contribuição é grande e reiteradamente foi e é reconhecida por nós, mas gostaríamos que o Novo deixasse de ser apenas uma "empresa familiar", queremos que ele seja a efetiva mudança para o país, agregando todos aqueles que acreditam nos mesmos valores, ainda que considerem caminhos um pouco diferentes para os atingir, e para isso, a instituição precisa crescer para além da sua pessoa. 

Por isso, todos nós, dirigentes de SC, nos posicionamos contra o seu retorno ao DN. Aproveitamos para reforçar nossa confiança e apoio ao nosso presidente Eduardo Ribeiro e conclamamos aos membros do Diretório Nacional que o apoiem na adoção da sua agenda em prol de melhorias para o Novo, como as medidas necessárias para nos trazer uma governança melhor, que acabe com os indiscutíveis conflitos de interesses, crie uma rede de apoio e segurança a todos os nossos mandatários, todos bem-vindos e bem-quistos, pacifique conflitos e abra canais de diálogo com todos os filiados, dirigentes e mandatários do país. 

É agregando pessoas que transformaremos o Brasil num país admirável, livre, simples e seguro, em que todos possam chegar lá.

Vários outros estados deram respostas da mesma natureza. É triste observar o destino de João Amoedo, mas é alvissareiro notar a luta de resistência de membros do partido, justamente para reforçar seus valores de origem, o motivo pelo qual tanta gente resolveu entrar para a política para fazer diferente. O Partido Novo não tem - ou não pode ter - um dono. Não importa se Amoedo foi o principal financiador, o Novo não é uma empresa dele. Espero que, nessa batalha interna, aqueles que defendem os princípios fundadores do Novo vençam. A alternativa é o partido virar um puxadinho tucano do Itaú...

Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 27-9-2021, 10h38

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