Rodrigo Constantino
A maioria achou melhor assim.
Intervenção militar não é brincadeira, e muita gente espera que ainda seja
possível contornar a situação evitando o pior, ou seja, usar a pressão popular
para persuadir os ministros supremos da necessidade de um recuo. Houve, então,
um suposto acordo que culminou na nota oficial do presidente, redigida por
Michel Temer. Seria a pacificação entre os Poderes. Mas a que preço?
Bolsonaro foi generoso ao
oferecer uma saída honrosa aos adversários ou negociou da posição de fraqueza,
por perceber que se excedeu na fala, xingando o ministro Moraes de canalha, e
que sem a disposição de agir só lhe restava um pedido de desculpas? O que esse
tal acordo tem de benefício para o povo que foi às ruas? É a pergunta que cada
vez mais gente se faz, todos angustiados com a possibilidade de que Bolsonaro
sacou uma pistola sem munição.
Os presos políticos continuam presos, afinal, e o establishment segue boicotando Bolsonaro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, devolveu sua Medida Provisória contra a censura nas redes sociais sem sequer levá-la ao plenário, enquanto seu indicado para o STF continua sem sabatina, por evidente chantagem de Alcolumbre, presidente da CCJ. Moraes pediu vistas, é verdade, do importante caso do marco temporal, que assusta o agronegócio. Mas parece muito pouco.
Nos bastidores bolsonaristas,
cresce a sensação de angústia, de que o “sistema” venceu a batalha, senão a
guerra. Bolsonaro chegou a rebater um apoiador crítico, que pedia sua ajuda
para um problema pessoal na justiça: “Acham que tenho superpoderes”. Claro que
não tem, e o jogo é bruto. Mas fica a impressão de que Bolsonaro não jogou como
um estrategista, e sim com o fígado. E depois se viu sem maiores alternativas.
É complicado mesmo bater de frente com o “mecanismo” que controla o Brasil.
Não sei qual a melhor opção
disponível para quem está alarmado com o arbítrio em nosso país. Mas fecho com
uma lição de Thatcher sobre liderança: “Se aprendermos as lições erradas da
Guerra Fria, também arriscaremos a paz. Se passarmos a acreditar que a melhor maneira
de evitar o perigo é contornando-o, ao invés de enfrentá-lo; se pensarmos que a
negociação é sempre a opção do estadista; se preferirmos gestos multilaterais
vazios a respostas nacionais poderosas, então pagaremos um preço alto – e
nossos filhos e netos também pagarão”.
Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 20-0-2021, 9h51
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