Só o PT consegue enxergar um movimento
social no bando de estupradores do direito de propriedade
Augusto Nunes
Foto: Júlia Dolce/MST |
O descendente de imigrantes italianos inconformado com a existência de agricultores sem escritura é a camuflagem de mais um órfão inconsolável da União Soviética soterrado nos destroços do Muro de Berlim. Em entrevistas a publicações burguesas e encontros com papas que acreditam em anjos com sexo, o líder do MST jura que persegue exclusivamente a reforma agrária. Some-se o que seus liderados fazem ao que ele próprio diz em palanques ou no mundo das barracas de lona preta e se verá o personagem sem revisão, sem retoques nem botox. O Stedile como Stedile é escancara o comunista irredutível que estupra sem hesitação qualquer norma legal, de preferência uma cláusula pétrea da Constituição.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil |
Sumido do universo rural desde
o dia da posse de Jair Bolsonaro, o MST resolveu ressuscitar na semana passada
— e no coração do poder. Foi exumado da cova rasa por 60 arruaceiros que
invadiram a casa em Brasília que abriga as sedes da Associação Brasileira dos
Produtores de Soja (Aprosoja) e da Associação Brasileira dos Produtores de
Milho (Abramilho). O bando apedrejou o imóvel, pichou o muro e sujou paredes
com inscrições insultuosas ao presidente da República em particular e a
empresários do agronegócio em geral. Os desordeiros caíram fora antes que a
polícia chegasse ao local do crime e pudesse cumprir seu dever. A paternidade
da patifaria foi assumida pela Via Campesina, consórcio formado por velharias ideológicas
que chamam agricultor de “camponês” e funcionário público de “pequeno-burguês”.
Segundo o comunicado divulgado no site do MST, a “ação simbólica” fez parte de uma certa Jornada Nacional da Soberania Alimentar: Contra o Agronegócio para o Brasil não passar fome”. Participaram do ato quase 30 entidades. Portanto, cada patrocinadora enviou, em média, dois representantes. Sobraram siglas, faltou gente. Mas, a julgar pelo palavrório, os sem-terra não pretendem regressar voluntariamente à sepultura que começou a ser povoada no fim do governo do PT, quando secou a torneira de adjutórios que financiavam toda a gastança do MST, do salário do chefe à cesta básica dos chefiados, das procissões no acostamento às revoadas de Stedile pelo subcontinente sul-americano.
“A ação, que contou com a
participação de 200 camponeses e camponesas, denunciou o protagonismo que o
agronegócio cumpre no crescimento da fome, da miséria e no aumento do preço dos
alimentos no Brasil”, irritou-se num trecho o redator do palavrório. “Neste
ano, o agronegócio, com a produção de soja, milho e cana-de-açúcar, está
batendo recordes de exportação e lucros.” Mas isso tem cara de notícia boa,
precipitam-se os ansiosos. Nada disso, ensina Marco Baratto, um dos
“coordenadores” do MST que ajudam Stedile a evitar elevações de temperatura num
clube de baderneiros. Baratto explica que o que parece boa notícia, vista de
perto, não passa de informação desoladora.
Aos ouvidos dos reformadores agrários, então, o que soaria como notícia a celebrar com bandas e fanfarras? “O controle popular dos meios de produção”, recita o apóstolo do minifúndio e da agricultura familiar. Depois da mais extensa quarentena, Stedile e seus oficiais graduados imaginam que as margens das rodovias logo estarão congestionadas por caminhantes de camisa vermelha. Mas a indigência da ofensiva em Brasília reforça a suspeita de que, durante a pandemia, o vírus chinês encomendou um surto de raquitismo para ampliar os estragos causados a um exército que já foi temido.
Nos idos de março de 2006,
2.000 mulheres filiadas ao MST desembarcaram da imensidão de ônibus que ainda
manobravam nas imediações da Fazenda Barba Negra berrando a palavra de ordem:
“Vamos acabar com essa multinacional”. Ainda que pertencesse a estrangeiros, a
fazenda no município gaúcho de Barra do Ribeiro estaria protegida pela
Constituição. Mas a proprietária — a Aracruz, uma das maiores produtoras de
celulose do mundo — era uma empresa brasileira. Mais: os empregos diretos
passavam de 10.000, o laboratório admirado pelas experiências de ponta
funcionava havia 20 anos, o horto florestal era um orgulho regional e o viveiro
abrigava milhões de mudas de eucalipto. Nada escapou da destruição. O país que
pensa e presta contemplou com horror aquele monumento virtual à insensibilidade
e à violência. João Pedro Stedile gostou. Num seminário em Porto Alegre,
celebrou “a bravura das companheiras camponesas” ao lado de Miguel Rossetto,
ministro da Reforma Agrária de Lula.
O
exército do Stedile foi desde sempre uma tapeação forjada para silenciar
poltrões
Como as ideias e o sotaque,
também a fachada de Stedile não muda. A expressão funde a melancolia resignada
de quem carrega no cangote todos os problemas do mundo e a soberba de quem tem
soluções para todos — e para tudo. A tentativa de sorrir resulta num esgar que
combina com os cabelos grisalhos em queda livre, a barba rala e esbranquiçada,
o olhar insolente, a ausência do bronzeado que escurece o rosto exposto ao sol,
as mãos desprovidas das calosidades que não poupam lavradores. A contemplação
de Stedile adverte: eis aí alguém que, se fosse instado a pegar no cabo do
guatambu, reagiria como se tivesse ouvido um insulto obsceno. Se nunca empunhou
uma enxada, como saber de que madeira é feito o cabo? Bom para ele nem ensaiar
o manuseio de uma foice. Pode entrar para a história como o primeiro
revolucionário a decepar a própria cabeça.
Bolsonaro nem precisou passar
da teoria à prática para que os devotos de Stedile sossegassem. Bastou o fim
das relações promíscuas para que os convivas compreendessem o recado: a festa
acabara. Ainda não se sabe de onde vem o dinheiro que sustenta o rebanho,
quanto o sinuelo consome a cada mês, quem financia tão frequentes andanças. Mas
ninguém mais duvida que o exército do Stedile foi desde sempre uma tapeação
forjada para silenciar poltrões.
A constatação facilitou o
entendimento do triplo recado. Polícia assusta. Ações judiciais inibem. E
cadeia cura.
Título e Texto: Augusto
Nunes, revista
OESTE, nº 83, 22-10-2021
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