quinta-feira, 3 de julho de 2025

[Daqui e Dali] O sacerdócio é vocação ou profissão?

A velhice – vou fazer 81 anos – e as maleitas próprias da idade, leva-me, contra o meu gosto, a terminar a colaboração.

Não digo adeus, mas se Deus o permitir, (tenho artroses na mão direita, que me impedem ou dificultam escrever,) poderei, esporadicamente, se assim o desejarem, ainda enviar alguns textos.

Quero agradecer a oportunidade que me deram, que ficarei eternamente grato, e aos leitores, que tiveram a paciência de me ler, e os que me acicataram a continuar, apesar dos meus problemas de saúde, o meu muito obrigado.

Com cordialidade:

Humberto Pinho da Silva


Estando em Roma, apresentaram-me Frei António, frade franciscano, que trabalhou no Vaticano, que me disse: "Vindo à terra natal, de férias, fui abordado por sujeito esgrouviado, de cabelo ralo e aloirado, convidando-me para pastorear capela de seita, oferecendo-me quatro mil escudos”!...

No final dos anos sessenta fui ao Café, que ficava na Praça da Batalha, no Porto, conhecido por ser frequentado por tertúlia evangélica.

Após ter saboreado o cafezinho, fui contactado por homem, modestamente trajado, que pretendia evangelizar-me.

Como lhe dissesse que era católico, mas conhecia várias Igrejas Evangélicas, e até era amigo de alguns pastores, confessou-me: "Tenho grupinho de crentes, nos arredores. Reunimo-nos numa garagem, adaptada a templo. Mas escasseia-me dinheiro e material, para levar avante missionação séria, já pensei agregar-me a Igreja tradicional.”

Confessou-me que conhecera cozinheiro, que após frequentar alguns meses o seminário, ficara a pastorear a paróquia, com a remuneração de seis mil escudos!...

Na época dos retornados das províncias ultramarinas, apareceram pelas Igrejas Evangélicas, jovens, que pretendiam serem pastores. Alguns foram aceites, outros não.

Ser pastor ou padre, não é, nem deve ser, profissão, e muito menos lucrativa.

É vocação, que se adquire com estudo e oração. Infelizmente alguns desses jovens, pretendiam ser " sacerdotes" para, como dizia Frei Bartolomeu dos Mártires, tosquiarem as ovelhas…

Certa ocasião entrevistei pastor anglicano, que me declarou, quase á puridade: aceitara o chamado para pastorear a paróquia, mas como era professor, tendo vencimento certo, além de bens, que possuía, não lhe parecia justo, nem cristão, receber remuneração da Igreja, pois muito desse dinheiro, provem de crentes, que vivem em sérias dificuldades econômicas.

É justo viver do altar, mas São Lucas não o fazia, porque tinha profissão. - 1º Co 9:15. Já não é justo utilizar o Evangelho para ganhar dinheiro ou outras benesses, quando se sobrevive de outro modo. Jesus, ao enviar os discípulos para missão, recomendou-os a não procurarem dinheiro – Mt 10:9.

A meu ver o sacerdote (padre) deveria receber vencimento semelhante ao professor do Ensino Secundário, pago pela paróquia ou diocese, e esta deveria possuir lar, para os receber, quando se aposentarem; ou hospedarem, se o desejarem, enquanto estiverem no ativo.

Evitar-se-ia assim, escândalos e abusos condenáveis...

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, julho de 2025

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Homilias enfadonhas e sonolentas

2 comentários:

  1. O autor, Humberto Pinho da Silva, junto a este artigo enviou mais dois. Serão publicados nos dias 10 e 17 de julho (quintas-feiras).

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  2. Me perdoem os contras. Sacerdócio não é vocação, nem profissão. Sacerdócio, apesar de "ser dócio", digo dócil, sacerdócio se traduz por grana. O nosso Mingau, perdão, o nosso Papa, que o diga.
    Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rio.

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