quinta-feira, 22 de maio de 2025

[Daqui e Dali] Vamos falar de política


Humberto Pinho da Silva

Estando a conversar num domingo destes, da amiga primavera, com político, velho companheiro dos tempos escolares, este confessou-me:

"Julgas que todos os militantes do meu partido têm a ideologia que ele defende? Não, são-no por mero interesse."

Acreditei, porque na Primeira República assim sucedeu. Melhor ainda, sempre foi e assim será.

Meses após a Revolução dos Cravos ter triunfado, estava na sala de espera do advogado Dr. Mário Cal Brandão, aguardando ser recebido. De súbito, entra moça esbaforida, de faces ruborizadas, perguntando pelo Dr. António Macedo.

Minutos depois, o advogado apareceu à porta do gabinete, e mesmo diante de todos, a rapariguinha desabafou:

"Segui-a. Vi-a sair do partido ‘X’ e entrar no nosso. Confirma-se o que se suspeitava!... É uma espiã!...”

Seria? Ou apenas oportunista, em busca de oportunidade e ascensão social? Não sei.

Nos anos oitenta, colega de trabalho acercou-se de mim e declarou-me em surdina:

"Julgo que Fulano é duplo. Tem dois cartões partidários. Quando fala com dirigente mostra um, consoante a cor dele".

Acreditei, porque nessa época, a Internet ainda não era muito usada… O que facilitava fraudes...

Carlos Manuel, Duque de Sabóia, usava casaco de duas faces. Quando visitava a França, envergava-o do lado branco; virava-o para o lado vermelho, quando estava com os escanhões!

No início da República, muitos monarquistas mudaram de partido político e de regime.

Raul Brandão escreveu ter escutado de "gradas figuras monárquicas, dizerem de D. Carlos:

‘Era um pulha, um pulha e um doido.’”

Conta Rocha Martins, que após o regicídio, o corpo do Rei foi escoltado pelo tenente J. G. P., que dizia para os soldados:

"Se pelo caminho encontrares alguns desses republicanos, atirai-lhes como a cães", segundo o Juiz de Direito, Dr. António Manuel Pereira, no livro "Do Marquês de Pombal ao Doutor Salazar".

Mais tarde, esse tenente foi Governador Civil de Distrito Beirão, nomeado pelos republicanos, segundo o livro citado.

O mesmo ocorreu a alguns ferrenhos salazaristas, que depois da Revolução filiaram-se em partidos de esquerda e de direita, ocupando cargos de relevo.

Entristece-me escrever, mas é verdade, e não são poucos, os que se servem da política para subirem nas empresas, na Arte, na Música... e em outras profissões.

Nunca me filiei em partido político, apesar de ser várias vezes assediado. Não o fiz, porque prezo a minha independência, embora reconheça que me prejudiquei monetariamente.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, maio de 2025

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