Comuns em áreas urbanas do Rio, morcegos que se alimentam de frutas e insetos habitam telhados e árvores — e podem trazer perigos à saúde humana
Patricia Lima Morcego da Artibeus lituratus, comum na cidade do Rio / Flickr (Arthur Tahara)
Conhecidos por sua imagem simpática na ficção — como o icônico Batman —, os morcegos podem representar sérios riscos à saúde humana. Na última semana, a jornalista Rosane Serro foi mordida por um desses mamíferos voadores dentro de seu apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro, enquanto assistia à televisão no sofá da sala.
O ataque foi inesperado, mas
os sinais deixados pelo animal — urina, fezes e movimentação incomum —
permitiram que Rosane identificasse o problema e buscasse ajuda médica
rapidamente.
A jornalista procurou
atendimento no Hospital Rocha Maia, em Botafogo, o único no município com um
Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE), responsável pela
imunização contra mordidas de animais silvestres e domésticos. No local, ela
apresentou inchaço no braço esquerdo, além de dormência do pulso até a axila.
Após ser atendida, a dormência
foi superada por volta das 19h. Enfermeiras do Super Centro Carioca de
Vacinação, que funciona no hospital, confirmaram a mordida. Rosane também
recebeu atendimento no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI)
e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Vacinação contra raiva e
cuidados imediatos
A rápida visualização do
morcego foi determinante para a aplicação do protocolo vacinal, que inclui:
·
Aplicação da vacina antirrábica e antitetânica;
· Administração imediata do soro antirrábico.
O esquema vacinal contra raiva
dura 15 dias e deve ser iniciado em até 24 horas após o ataque. As doses
subsequentes ocorrem no 3º, 8º e 15º dias após o início do tratamento. O
protocolo exige que as etapas sejam seguidas rigorosamente. O soro antirrábico,
crucial para a imunização, precisa ser aplicado imediatamente — mesmo pacientes
vacinados podem morrer de raiva se não receberem o soro.
Fezes e urina de morcego
também transmitem doenças graves
Mesmo sem mordida, o contato
com fezes e urina de morcego pode causar doenças. Entre elas:
·
Histoplasmose: afeta pulmões, baço e
fígado;
·
Criptococose: pode evoluir para meningite
e levar à morte;
·
Leptospirose: transmitida pela urina,
caso o animal esteja contaminado por determinadas bactérias.
Rosane relatou tosse
persistente, sintoma comum da criptococose, desenvolvida após contato com fezes
deixadas pelo morcego em sua casa. Ela alerta: as fezes não devem ser varridas,
pois os esporos se dispersam no ar. Segundo ela, os dejetos são pequenos,
pegajosos e grudam facilmente em superfícies.
Ação da Prefeitura e
análise laboratorial
Rosane acionou o número 1746
da Central de Atendimento ao Cidadão. Uma equipe de Investigação Zoossanitária
do Centro de Controle de Zoonoses foi enviada ao local no mesmo dia. O agente
Rafael Pereira, com 20 anos de atuação na Prefeitura e no SUS, encontrou um
morcego morto, provavelmente por fome — a espécie era insetívora e pode
consumir até 150 insetos por dia.
O animal foi encaminhado ao
Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, responsável por
análises laboratoriais que monitoram riscos à saúde pública.
Perigos do contato com
morcegos: até o toque pode ser fatal
Segundo Rafael Pereira, até o
simples toque em um morcego pode causar infecção por raiva. Ele relata o caso
de um jovem de 22 anos que morreu após acariciar um morcego encontrado pela
família em uma piscina.
Rafael alerta: todos
os morcegos podem transmitir raiva. O contato com saliva (lambidas),
arranhões ou mordidas é altamente perigoso. Animais domésticos, como cães e
gatos, também devem ser vacinados anualmente, independentemente da idade ou do
acesso à rua.
Limpeza hospitalar e
prejuízo financeiro
Diante da contaminação por
dejetos biológicos, Rosane precisou contratar uma empresa especializada em
limpeza hospitalar para higienizar seu apartamento. O custo elevado a levou a
contrair um empréstimo. O sofá onde foram encontradas fezes foi doado, por
motivo de trauma.
Morcegos mais comuns no Rio
de Janeiro
O Brasil abriga cerca de 182
espécies de morcegos, sendo que 84 podem viver em áreas urbanas. No Rio de
Janeiro, os mais comuns pertencem às famílias Phyllostomidae e Molossidae:
Família Phyllostomidae:
·
Artibeus lituratus: frugívoro, com
listras na face; ajuda na dispersão de sementes.
·
Platyrrhinus lineatus: frugívoro, também
contribui para polinização.
·
Glossophaga soricina: nectarívoro e
polinívoro, poliniza flores à noite.
·
Desmodus rotundus: conhecido como
morcego-vampiro, se alimenta de sangue de animais; principal transmissor da
raiva.
Família Molossidae:
·
Molossus molossus: insetívoro, adaptado
ao meio urbano.
·
Tadarida brasiliensis: insetívoro que
forma colônias em telhados e pontes.
Na Lagoa Rodrigo de Freitas,
pode-se observar o morcego-pescador, que se alimenta de peixes.
O que fazer em caso de
ataque ou contato com morcegos
·
Lave imediatamente a área afetada com
água corrente e sabão;
·
Procure atendimento médico urgente para
avaliação e início do protocolo vacinal;
·
Evite contato com morcegos —
principalmente os encontrados no chão, voando de dia ou em locais incomuns;
·
Isole o local onde o animal morto
foi encontrado. Se vivo, cubra-o com um balde até a chegada da equipe da
Prefeitura.
Importante: morcegos são
protegidos por lei
A Lei Federal nº
9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) proíbe a caça, perseguição ou
eliminação de morcegos. Esses animais silvestres são essenciais para o
equilíbrio ecológico, participando da polinização e dispersão de sementes.
Descumprir a legislação pode
resultar em multas e até prisão. A responsabilidade de controle
populacional e vigilância cabe às secretarias municipais de Saúde, em parceria
com instituições de pesquisa.
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