Humberto Pinho da Silva
Começo por dizer que não se chamava Miquelina,
mas, como o que vou relatar é verdadeiro, devo, por respeito, ocultar o
verdadeiro nome.
Miquelina era moça recatada, tímida e modesta.
Trabalhava como mulher de limpeza, num hospital.
Diariamente era solicitada por médicos,
enfermeiras, e pelas Religiosas, que mantinham o respeito, a ordem, e a
manutenção da Casa.
Se demorava a responder, quando a chamavam, logo
vinha, de mau humor, a severa reprimenda:
"Miquelina, não sabe que o serviço era para
ontem?!; Miquelina, são horas de chegar?!; Miquelina, mexa-se, parece que tem
ovos debaixo dos braços?!; Miquelina, acha que isto está bem limpo?!” - Dizia a madre, mostrando a ponta do indicador
depois de o passar pela mesa.
E a moça, acabrunhada, tudo ouvia de cabeça baixa,
sem altercar, sem se desculpar...
Não tinha namorado. Bem o desejava, mas ninguém se
interessava por ela. Era faxineira, ganhava pouco, e os rapazes não queriam
sustentar mulher, mas, que ela os sustentasse.
Uma noite fria, que estava de serviço, saltou-lhe a ideia de buscar outro emprego; mas não descortinava qual, quando se lembrou de ser Religiosa.
Os anos passavam... a idade avançava... e os
rapazes já não eram como os do tempo de seus pais – o que procurava era beleza
e dinheiro.
Falou do intento, e como era educada, obediente,
sisuda e respeitadora, foi aceite como noviça.
Uma década se passou. Por mero acaso foi parar ao
mesmo hospital em que trabalhou.
Logo na portaria sentiu a diferença: o segurança
cumprimentou-a com a boca cheia de sorrisos.
As Irmãs tratavam-na com deferência; os médicos e
enfermeiras, pediam-lhe por favor, e tratavam-na por Irmã; e até o Senhor
Administrador, fazia reverência e apertava-lhe respeitosamente a mão.
Admirou-se de tal mudança. Não era a mesma? Até os jovens médicos olhavam-na dissimuladamente e pensavam: "Que pena uma jovem tão engraçada e trabalhadeira, não se ter casado!..."
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, março de 2025
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