Marcos Paulo Candeloro
Há algo de profundamente
constrangedor em assistir o suicídio cerimonial de uma civilização que já foi o
pináculo do espírito humano. Não um suicídio tradicional, rápido, mas uma
espécie de eutanásia ideológica consentida. A Europa, que nos legou Aristóteles
e Santo Agostinho, que ergueu Notre-Dame e escreveu “Dom Quixote”, hoje se
ajoelha — não diante de Deus, mas dos globalistas, suas fundações, ONGs, ONU e
das seitas identitárias. O berço da civilização ocidental virou um gulag
cultural, onde o pecado capital é lembrar que existe uma história anterior ao
século XX.
A velha Europa está cansada,
está exausta de si mesma. Recusou o próprio passado como se fosse uma lepra
moral. E como todo ente em negação profunda, começou a punir os que ainda se
lembram. Hoje, o herege europeu não é mais o ateu — é o patriota, aquele que
valoriza suas raízes. Não é o blasfemo — é o cidadão que insiste em proteger
sua fé, sua família e sua nação.
A crise migratória? Apenas o
sintoma mais visível. A verdadeira crise é interna: moral, política e
espiritual. Não é que somente os imigrantes sejam o problema. O problema é o
vácuo de sentido que os recebe. E a maior chaga do velho continente são os próprios
europeus. Um continente que já não acredita em Deus, na tradição ou na própria
soberania não tem anticorpos culturais. Importa povos, mas proíbe fronteiras.
Implora por diversidade, mas proíbe diferenças. O multiculturalismo europeu é,
no fundo, a negação de qualquer cultura concreta — inclusive a própria.
Bruxelas é o centro nervoso dessa rendição organizada. Seus tecnocratas não falam idiomas vivos — balbuciam jargões neutros em novilíngua progressista. Definem as normas de curvatura da banana com o mesmo zelo com que ignoram os atentados jihadistas em Paris ou Estocolmo. Governam sem povo, sem rosto e, sobretudo, sem responsabilidade. São os assassinos da soberania. A União Europeia se tornou aquilo que Tocqueville temia: uma rede invisível de pequenas regras que mantém os homens em eterna infância.
A liberdade de expressão — uma
das maiores conquistas da modernidade ocidental — virou artigo de luxo. Na
Alemanha, quem compartilha um meme errado pode ver a polícia bater à porta. No
Reino Unido, o berço do parlamentarismo e da Magna Carta, velhos são levados em
camburões por “ofensas digitais”. Enquanto isso, Marine Le Pen enfrenta
perseguições jurídicas por ser, essencialmente, conservadora. Farage, por sua
vez, é tratado como ameaça existencial, enquanto radicais islâmicos gozam da
benevolência do Estado e da proteção da BBC.
O que resta da cultura
europeia virou peça de museu — e nem isso sem censura. Bach foi trocado por
Beyoncé, São Tomás de Aquino por Judith Butler. A academia é um culto ao
niilismo. A arte, um panfleto autoflagelante. As igrejas, centros turísticos
vazios ou abrigos inter-religiosos, onde o único dogma permitido é a negação de
todos os anteriores.
Mas o mais trágico não é a
destruição em curso. É o entusiasmo com que ela é celebrada. A Europa não está
sendo invadida — está se dissolvendo. Está promovendo sua própria irrelevância
com orgulho cerimonial. E isso é celebrado e patrocinado pelas duas potências
orientais que têm como objetivo sobrepujar a hegemonia histórica Ocidental,
China e Rússia.
Enquanto isso, o europeu já
não quer ter filhos. O hedonismo é a nova teologia; a eutanásia, uma escolha
digna; e o suicídio civilizacional, um gesto de progresso. Um continente que
trocou fé pelo conforto, identidade por interseccionalidade e liberdade por
likes.
O resultado é este: uma
federação de ex-nações que legisla sobre o carbono, mas não sobre a própria
continuidade. Onde o que resta de oposição conservadora é tratado como fascismo
e o islamismo radical como diversidade vibrante. Onde se combate o aquecimento
global com fervor quase religioso, mas se ignora o congelamento das almas.
A Europa não está sendo
apagada. Está se apagando. E o faz com uma elegância lúgubre, como só ela
saberia fazer. E mesmo em sua decadência final, permanece fiel a um traço
essencial: sua vocação para ensinar. O único problema é que agora só ensina
aquilo que não deve ser praticado. Como em Roma, o que levará a Europa à ruína
não são os bárbaros em seus portões, mas aqueles que se escondem atrás de suas
muralhas.
Título, Imagem e Texto: Marcos
Paulo Candeloro, ContraCultura,
15-4-2025
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