quinta-feira, 20 de março de 2025

[Daqui e Dali] A amizade de cães e gatos pelos donos

Humberto Pinho da Silva

São frequentes os casos de amizade de cachorros pelos donos, mas de gatos, como o "Príncipe Garfield", são raríssimos.

No mês de janeiro do presente ano, na cidade da Póvoa do Varzim, faleceu o Senhor Bernardino Pereira. Seu gato ficou contristado e cheio de dor.

Dias depois, a Senhora Susana Vilar, funcionária do cemitério, deparou sobre a sepultura do Senhor Bernardino, bonito e gordo bichano, de cor amarela, dormitando.

Como o gato permanecesse sobre a campa, não mostrando intenção de sair, a Senhora Susana, enternecida, condoeu-se, dando-lhe de comer.

Soube a família do Senhor Bernardino o que aconteceu, e resolveu deixá-lo ao cuidado da Senhora Susana, contribuindo nas despesas de alimentação.

Considero este caso inédito, por se tratar de um gato; já que são vulgares com cachorros, como a amizade do Argos por Ulisses. Certa vez, este teve de partir para a guerra. Regressou após dez anos de aventuras. Vinha desfigurado, velho, irreconhecível, mas quando o Argos o viu saltou de contentamento, e tal foi sua alegria que morreu. 

Também Adolfo Destroyes conta no semanário parisiense: "La Mosaïque", em 1874, a história de "Moustapha".

Uma noite o cachorrinho apareceu coberto de ferimentos e enlameado. Roberto, compadecido, lavou-o e tratou das feridas.

Durante anos foram alegres companheiros, até que "Moustapha" foi atacado por horrorosa doença. Roberto resolveu afogá-lo no Havre, mas ao fazê-lo caiu-lhe o bonito boné grego que trazia. Fez tentativas para o reaver, mas foram infrutíferas. Regressou taciturno, talvez corroído de remorsos.

Pela madrugada sentiu que mexiam na porta da rua. Levantou-se sonolento. E o que viu? O “Moustapha“, ensanguentado e enlameado, com o boné entre os dentes.

Atirou para o dono um olhar de amargura, e dando um grito de aflição morreu.

Agora um caso verídico:

Em 1850 faleceu o Senhor Gray. Após o funeral desapareceu o Boby. Encontraram-no, mais tarde, no bar, onde o dono, às quartas-feiras, tomava o pequeno-almoço na companhia do cão, dando-lhe sempre um bolo.

Os empregados, ao ver o cachorro, tiveram compaixão e enternecidos deram-lhe o habitual bolo; estranhamente não o comeu, mas levou-o na boca.

Curiosos, os empregados seguiram-no, e ficaram varados quando o viram dirigir-se para Greyfriare, e sentando-se na sepultura, onde estava o dono, comeu-o morosamente.

Embora fosse proibido aos animais permanecerem no cemitério, abriram exceção, ao dedicado animal. Boby morreu em 1872.

Foi erguida uma estátua em Edimburgo, em sua memória.

Se o felino da Póvoa vivesse em Inglaterra talvez se levantasse um monumento, mas vive em Portugal, e não creio que o Município, nem a população, pense em tal. 

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, março de 2025

Anteriores: 
Somos primos uns dos outros 
No tempo em que se queimavam bíblias 
Descer à Capital 
A geração desenrasca 
Uma opinião sobre os médicos no século XVII 
Ser doutor é preciso

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-