Humberto Pinho da Silva
São frequentes os casos de
amizade de cachorros pelos donos, mas de gatos, como o "Príncipe
Garfield", são raríssimos.
No mês de janeiro do
presente ano, na cidade da Póvoa do Varzim, faleceu o Senhor Bernardino
Pereira. Seu gato ficou contristado e cheio de dor.
Dias depois, a Senhora
Susana Vilar, funcionária do cemitério, deparou sobre a sepultura do Senhor
Bernardino, bonito e gordo bichano, de cor amarela, dormitando.
Como o gato permanecesse
sobre a campa, não mostrando intenção de sair, a Senhora Susana, enternecida,
condoeu-se, dando-lhe de comer.
Soube a família do Senhor
Bernardino o que aconteceu, e resolveu deixá-lo ao cuidado da Senhora Susana,
contribuindo nas despesas de alimentação.
Considero este caso inédito, por se tratar de um gato; já que são vulgares com cachorros, como a amizade do Argos por Ulisses. Certa vez, este teve de partir para a guerra. Regressou após dez anos de aventuras. Vinha desfigurado, velho, irreconhecível, mas quando o Argos o viu saltou de contentamento, e tal foi sua alegria que morreu.
Também Adolfo Destroyes conta no semanário parisiense: "La Mosaïque", em 1874, a história de "Moustapha".
Uma noite o cachorrinho
apareceu coberto de ferimentos e enlameado. Roberto, compadecido, lavou-o e
tratou das feridas.
Durante anos foram alegres
companheiros, até que "Moustapha" foi atacado por horrorosa doença.
Roberto resolveu afogá-lo no Havre, mas ao fazê-lo caiu-lhe o bonito boné grego
que trazia. Fez tentativas para o reaver, mas foram infrutíferas. Regressou
taciturno, talvez corroído de remorsos.
Pela madrugada sentiu que
mexiam na porta da rua. Levantou-se sonolento. E o que viu? O “Moustapha“,
ensanguentado e enlameado, com o boné entre os dentes.
Atirou para o dono um
olhar de amargura, e dando um grito de aflição morreu.
Agora um caso verídico:
Em 1850 faleceu o Senhor
Gray. Após o funeral desapareceu o Boby. Encontraram-no, mais tarde, no bar,
onde o dono, às quartas-feiras, tomava o pequeno-almoço na companhia do cão,
dando-lhe sempre um bolo.
Os empregados, ao ver o
cachorro, tiveram compaixão e enternecidos deram-lhe o habitual bolo;
estranhamente não o comeu, mas levou-o na boca.
Curiosos, os empregados
seguiram-no, e ficaram varados quando o viram dirigir-se para Greyfriare, e
sentando-se na sepultura, onde estava o dono, comeu-o morosamente.
Embora fosse proibido aos
animais permanecerem no cemitério, abriram exceção, ao dedicado animal. Boby
morreu em 1872.
Foi erguida uma estátua em
Edimburgo, em sua memória.
Se o felino da Póvoa vivesse em Inglaterra talvez se levantasse um monumento, mas vive em Portugal, e não creio que o Município, nem a população, pense em tal.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, março de 2025
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