Roubos de fios e cabos, bueiros e até obras de arte no
Rio têm destino certo: os ferros-velhos. É hora de medidas duras para impedir
que sucateiros lucrem mais ainda com o crime e a cidade siga no prejuízo, no
escuro e com seus trens parados
Quintino Gomes Freire
Quem acompanha o DIÁRIO
DO RIO já deve estar cansado de ler matérias sobre roubos de fios,
estátuas de bronze, placas, grades, bueiros ou qualquer outra peça que possa
ter valor para os cracudos que infestam nossa cidade. Isso sem contar a
destruição dos sobrados históricos que pertencem a particulares, e os
transtornos causados pela falta de luz ou mesmo do funcionamento dos trens da
cidade por culpa dos ladrões, mas, principalmente, dos receptadores.
A situação chegou a tal ponto que a Prefeitura do Rio precisou retirar do Passeio Público obras de arte como os Jacarés do Mestre Valentim para evitar a depredação do patrimônio.
Mas será que esses paliativos realmente resolvem? Trocam os bueiros de metal por uma espécie de plástico duro. Resultado: os cracudos deixam de roubar aquela peça, mas passam a levar as placas de sinalização, que também são trocadas por plástico. Em seguida, roubam os fios de cobre — esses, até agora, não têm substituto. No caso dos postes históricos do Centro, a situação é quase ridícula; primeiro trocaram as cúpulas por plástico, de tanto que os cracudos quebravam-nas para arrancar peças internas e a presilha superior; agora que é tudo de plástico, esses criminosos continuam destruindo, talvez até aprenderem que não adianta mais.
Roubaram até as bolas de canhão e os gradis fundidos com os canhões da Guerra
do Paraguai do monumento a Osório na Praça XV. Nossa história, indo pelo ralo.
E o que fazem com tudo isso? Vendem, claro. A venda é simples: não faltam
ferros-velhos espalhados pelo Rio de Janeiro. Muitos compram peças valiosas —
inclusive essas obras de arte que antes embelezavam nossas praças — pelo preço
de sucata. Para eles, não passa de ferro-velho. Para a cidade, é também um
prejuízo milionário quando cabos de energia e dados são levados. Até os números
nas fachadas de condomínios estão sendo arrancados!
O Rio de Janeiro se enfeia, perde sua história, sofre prejuízos — tudo para que o viciado compre sua pedra e para que empresários inescrupulosos lucrem com os infortúnios da cidade. É necessária uma reação dura e urgente, antes que não sobre nada.
Políticos fanfarrões ficam
fazendo leis virtualmente inúteis falando em “cassar alvará” desses
estabelecimentos ruinosos, quando sabem que os que realmente estão causando
problemas nas regiões do Centro e Zona Sul funcionam irregularmente sem licença
nenhuma, e os que têm licença não são fiscalizados, chegando a ocupar ruas
inteiras, enchendo-as de lixo e bagunça. São diversos os casos; tem na rua
Leandro Martins, na rua Frei Caneca, na Senador Pompeu, na rua da Gamboa. Por duas vezes o ridículo de ver um ferro velho ilegal funcionando em imóveis de propriedade do governo do Estado ocorreu. Todo mundo sabe desses negócios
ilegais e finge que não vê. Quem ganha com isso? Isso sem contar nos que
funcionam junto à subida de favelas.
Há anos os ferros velhos
irregulares se alimentam da miséria e da doença mental de cracudos e mendigos,
que são instrumentalizados a furtar, roubar, danificar e destruir, como uma
horda de gafanhotos, a história e o patrimônio de todos. Dependentes, essas
pessoas doentes não vão parar enquanto houver quem compre aqui o que roubam
ali.
A proibição total de
ferros-velhos em áreas não industriais no município, permitindo apenas alguns
poucos, mediante rigoroso processo de checagem de antecedentes e comprovação de
idoneidade, é medida indispensável. Outra saída seria transformar essas
atividades em concessões públicas, garantindo a continuidade da reciclagem de
resíduos sem abrir espaço para o crime.
O que não podemos mais aceitar
é permanecer reféns, obrigados a esconder peças históricas, assistir ao
patrimônio privado e público ser dilapidado e perder tempo e qualidade de vida
com os roubos de cabos. É preciso revolta. É preciso que o Poder Público aja, e
que os políticos deixem de nos fazer de palhaços fazendo estardalhaço com
medidas inúteis e fantasiosas. Chega de ferros-velhos em zonas comerciais e
residenciais: que sejam todos fechados, com ou sem alvará, antes que até nossos
talheres tenham que ser de plástico.
Título e Texto: Quintino
Gomes Freire, Diário do Rio, 20-8-2025
Governo do RJ desmonta ferro-velho irregular no Jardim de Alah
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