Inquieta-me viver num país em
que as touradas, e tudo o que de profundamente repugnante e desumano a elas
está associado, são um tema ainda visto com relativa neutralidade por grande
parte da população. Uns são claramente contra, outros tentam justificar a sua
continuidade, ignorando a questão principal - o sofrimento causado nos animais
-, mas a maioria mantém-se neutra e equidistante. No meio da polaridade fica
a indiferença, a maior aliada da crueldade e a pior inimiga da humanidade.
Essa maioria, que opta
convenientemente por viver de olhos fechados, permite que uma minoria perpetue
a barbárie nas praças espalhadas por este país fora. A maioria indiferente, a
do "tanto me faz" e do "é-me igual", acaba por dar luz
verde a que milhões de euros sejam anualmente gastos pelo Estado,
dinheiro de todos nós, promovendo e patrocinando o sofrimento de animais,
através do financiamento da tauromaquia. Actividade que alguns, estranhamente,
apelidam de "arte" (!). "Cerca de 16 milhões de euros em
fundos comunitários, públicos e, sobretudo, locais, é o valor estimado de
apoios às atividades taurinas."
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Na foto, um touro ferido está prestes a morrer na praça de Las Ventas, em
Madri. Foto: Daniel Ochoa de Olza/AP, 16-05-2011
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É, de facto, uma vergonha o
massacre de animais em praça pública para gáudio e regozijo de meia dúzia. E os
milhões não me impressionam. A questão não é só essa. Um cêntimo que fosse
gasto em touradas continuaria a ser errado. Os tempos mudam e os maus
hábitos deviam perder-se. Por exemplo, a mutilação genital feminina, em
alguns países africanos, é (ainda) hoje uma realidade. As tradições não
justificam tudo. Imputar um sofrimento brutal, excruciante, a animais que,
infelizmente neste país, não estão devidamente protegidos pela lei não pode,
nem deve, continuar. O fim das touradas é um sinal de avanço da civilização,
basta olhar para os poucos países que mantém esta actividade... É um acto de
inteligência e de humanidade.
Título e Texto (e Grifos): Tiago Mesquita, Expresso, 20-02-2013
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