Pela primeira vez na história Supremo Tribunal Federal tem juízes
partidários
Guilherme Fiuza

E o que fizeram os brasileiros, que agora são revolucionários e esculhambam o trânsito a qualquer hora do dia para “mudar o Brasil”? Não fizeram nada. Os bravos manifestantes da Primavera Brasileira de 2013 assistiram ao novo assalto, como diria Anitta, ba-ban-do.
O golpe dos embargos infringentes
foi vexaminoso. Uma manobra tosca, que embaralhou um julgamento cristalino e
cindiu o direito e o bom senso — o que é uma cisão grave, mas não nesse Brasil
onde civismo é jogar pedra em vidraça. Votos como o do ministro Marco Aurélio
mostraram que o julgamento só poderia ser reaberto — decisão drástica — se não
pairassem dúvidas sobre a legalidade dos embargos.
Pois bem: o julgamento foi
reaberto em casos onde houve quatro votos contrários à sentença. E a própria
decisão de reabertura teve cinco votos contrários! Não seria então o caso de
entrar com embargos infringentes contra a aceitação dos embargos infringentes?
Não, não seria, porque nesse
caminho de prostituição da técnica, a lógica já foi abandonada no acostamento
há muito tempo, e o espírito da lei já foi pendurado na parede, ao lado de um
retrato do filho do Brasil. A blitz dos advogados milionários do PT fez o STF
virar as costas para a lógica e o espírito da lei. Normal. Quem está do outro
lado é só o Brasil, esse pobre coitado, que não tem nada concreto para
oferecer: nem cargos, nem prestígio, nem favores, nem negócios, nem mesmo a
emoção de um café da manhã com José Dirceu, o astro da penumbra.
Foi comovente ver a bancada
petista no Supremo, em ações grandiloquentes e tom épico, defendendo com garra
um futuro tranquilo e confortável. O PT inaugurou o patriotismo privado.
Para o pobre coitado do outro
lado, batizado com nome de madeira nativa (profetizando a cara de pau), o que
aconteceu no Supremo Tribunal Federal é apenas o fim. Se as massas (e os gatos
pingados) não sabem direito por que vão às ruas, se não é só por 20 centavos,
se é por tudo — e tudo, como se sabe, é igual a nada —, a zombaria do STF
contra o país inteiro, aliviando os maiores assaltantes da história da
República, cujo grupo político por acaso governa o Brasil, é a causa das
causas. É para inundar as ruas de gente, é para cercar os palácios da Justiça
Federal em todo o território, é para, aí sim, parar tudo e avisar que isso aqui
não é a casa da mãe Dilma e de seus companheiros parasitários.
Mas o que se viu por aí depois do golpe do STF? Bem, escolha a sua
manifestação preferida: black blocs vaiando e ameaçando artistas de cinema na
chegada ao Festival do Rio; revolucionários da Cinelândia recebendo a adesão do
Batman e do Saci Pererê; ninjas, fora do eixo e fora de órbita, discutindo a
relação com a polícia (decidindo o que veio primeiro, a pedra ou a pimenta);
sindicalistas privatizando as ruas e decidindo quem pode ir e vir.
Enquanto isso, estoura novo
escândalo na boquinha que Dilma Rousseff cultivou dentro do Ministério do
Trabalho — o mensalão redivivo na farra das ONGs piratas. Mais R$ 400 milhões
desviados para a turma que a presidente fingiu escorraçar em 2011, com o
inesquecível Carlos Lupi, mas que na verdade protegeu, porque é dando que se
recebe. Os réus que o STF acaba de refrescar fizeram escola, só não vê quem não
quer. E ninguém parece querer. Não apareceu um único mascarado no horizonte
para acuar os sócios do governo popular nesse novo escárnio. Eles preferem
rosnar contra artistas de cinema.
Não pode haver mais dúvidas:
os movimentos de protesto que levaram os brasileiros às ruas em 2013 passarão à
história como a Primavera Burra.
PS: o ministro do Trabalho passa bem, os ministros infringentes idem, e os mensaleiros
estão estourando champanhe com a nova disparada de Dilma no Ibope. Vêm aí mais
quatro anos de sucção pacífica.
Título e Texto: Guilherme Fiuza, jornalista, O Globo,
29-9-2013
Via Fernando Bihari
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-