De pacato a feroz, em que grau o brasileiro
está hoje?
“Os pacatos toleram tudo, exceto que se lhes perturbe a pacatez. Pois então facilmente se fazem ferozes…”
Com estas palavras
Plinio Corrêa de Oliveira, há 36 anos, encerrava seu artigo na “A Folha de São
Paulo” (14 de dezembro de 1982).
No artigo, considerado uma das
peças históricas da sociologia e análise da Opinião Pública, ele discorre a
respeito da pacatez tão característica do povo brasileiro, fazendo, entretanto,
um alerta logo no título: “Cuidado com os pacatos!”.
Por brevidade, não
reproduziremos aqui o artigo em sua íntegra, que pode ser lido aqui.
Mas, como aplicá-lo para o dia de hoje? Não falamos de amanhã, do futuro, dos
próximos anos. Não. Vamos falar do dia de HOJE.
Enquanto a grande mídia
procura focar seus comentários sobre o que chamam de “greve dos caminhoneiros”,
desabastecimento dos supermercados, impedimento de mobilização por falta de
combustível, efeitos sobre a economia, sobre a saúde e a educação, como se
aplica a análise do ilustre pensador católico e líder da autêntica direita —
quiçá única — da época?
De 2014 para cá o pacato povo brasileiro
viu desvendado pela Lava Jato uma torrente de denúncias de corrupção ocorridas
nos últimos treze anos de governo da esquerda. Isso mesmo, daquela esquerda que
gostava tanto dos pobres que procurou saquear o país para aumentar o número
deles. Cartéis monumentais de corrupção operando com organização e desfaçatez
mesmo durante as investigações e inquéritos da Lava Jato. Algum fator
misterioso lhes dava essa segurança.
Pacatamente os brasileiros
saíram às ruas do Brasil inteiro para protestar contra o governo e pedir
o impeachment da presidente Dilma. Os políticos, em sua
maioria com “culpa no cartório”, mas pressionados pela estrondosa manifestação,
votaram o impeachment imaginando que, fazendo isso, o pacato
cidadão brasileiro voltaria para seu chinelo, seu sofá e administraria sua
vidinha.
![]() |
Instituto Plinio Corrêa de
Oliveira na manifestação a favor do impeachment da presidente Dilma
|
Na sua pacatez os brasileiros
assistiram animados o desmantelamento das esquerdas, mas o festival de habeas
corpus e de justiça alternativa não serviu para interromper seu
caminho rumo à ferocidade. A velocidade aumentou quando novos espetáculos foram
protagonizados pela esquerda moribunda, como a teatral prisão de Lula, o
ridículo acampamento diante da Polícia Federal de Curitiba, que se foi
esvaziando naturalmente, sem que qualquer medida de força fosse tomada.
E, agora, o pacato brasileiro,
em sua casa, sem poder sair por falta de gasolina e vendo os mercados
esvaziarem-se, assistem à última tentativa de serem enganados pela grande
mídia: “a culpa é dos caminhoneiros, a culpa é do preço do óleo diesel”.
A esquerda sucumbiu à
tentação, alertada por Plinio Corrêa de Oliveira em 1982, de, uma vez galgado o
poder, passar a tomar medidas policialescas, contrárias à índole pacata do povo
brasileiro, como ele escreveu:
![]() |
Bandeira anticomunista posta no Corcovado, no início deste mês |
A tudo isso assistimos e a
algo mais. Talvez o articulista na época tenha evitado falar da cachoeira de
corrupção — normal em todos os governos de esquerda — que esmagaria o Brasil.
Teria tido ele o receio de parecer fora da realidade para os ainda pacatos que
o liam? Mas seus discípulos, conhecendo-o, sabem perfeitamente que todo esse
panorama estava certamente previsto e bem avaliado.
Agora, entramos na guerra das
pesquisas eleitorais, quem é ficha suja, quem é limpa (como se isso houvesse!).
A direita, outrora excomungada, tornou-se grife. E surge uma com uma nova
agenda, impossível de se pensar há alguns anos atrás: economia de mercado,
valores morais, segurança, fim da ideologia de gênero nas escolas, e tudo o
mais que o Brasil pacato quer ouvir.
Quem ganhará: a direita? o
centro? a esquerda? — perguntava Plinio Corrêa de Oliveira e respondia —
ganhará “quem conhecer as verdadeiras fibras da alma brasileira e
souber entrar em diálogo pacato com essas fibras. Seja governo, seja oposição,
pouco importa. A influência será de quem saiba fazer isto.
Se a nova direita que desponta
(muitas vezes ainda envergonhada e se autodenominando de centro-direita), “não
souber manter-se no clima de pacatez, e passar para a violência física, legal
ou publicitária contra a esquerda, os pacatos lhes dirão: mas, afinal, qual é a
sinceridade, qual a dignidade de vocês, que quando eram oposicionistas [fracos,
fraquíssimos, omissos, diga-se de passagem] reclamavam para si liberdade e
respeito, e agora que são governo usam da perseguição e da difamação para quem
é hoje oposição?”
“E se os pacatos notarem
acrimônia nos de centro e de direita, dir-lhes-ão: está bem provado que é
impossível conviver com vocês, porque, nem vencedores, sabem ser de um trato
distensivo”.
Assim, Plinio Corrêa de
Oliveira finaliza seu alerta:
“E cuidado com os
pacatos que se indignam, senhores da esquerda, do centro e da direita. A hora
não é para carrancas, mas para as discussões arejadas, polidas, lógicas e
inteligentes. Os pacatos toleram tudo, exceto que se lhes perturbe a pacatez.
Pois então facilmente se fazem ferozes…”
Os outrora pacatos
caminhoneiros que o digam.
Relacionados:
Greve dos caminhoneiros: a verdade nua e crua
ResponderExcluir