Cesar Maia
1. A reação
dos pré-candidatos a presidente da República à greve dos caminhoneiros foi um
festival de oportunismos. Flavio Rocha, dono da Riachuelo, postou sua opinião
totalmente favorável à greve. Ainda mais à direita que ele, Bolsonaro fez a
mesma coisa em suas postagens.
2. Mas, no
extremo oposto, a esquerda fez o mesmo, com postagens de líderes do PSOL e PT.
Em geral, os candidatos a governador dos Estados preferiram manterem-se
omissos, a maioria reclamando que não querem participar da "vaquinha"
promovida pelo governo federal com seus tributos. Mas há uma estranha e
paradoxal exceção: Pezão, que encaminhou projeto de lei reduzindo o ICMS do
óleo diesel de 16% para 12%, uma redução significativa de 25%.
3. Em geral,
foi tudo como se a greve dos caminhoneiros e suas consequências gerassem um
consenso ideológico. As imagens da greve, com milhares de caminhões parados nas
beiras das estradas ou as obstruindo, teve uma cobertura geral da mídia, em
tempo integral, e em tempo real.
4. Isso apavorou
os candidatos que, a menos de três meses das convenções, resolveram tirar uma
casquinha eleitoral da greve. Nos jornais, as suas declarações tiveram pouco
espaço. A TV entrevistou as autoridades e os atores da greve – patrocinadores e
vítimas, mas não os candidatos.
5. Mas, nas
redes sociais, os pré-candidatos deitaram e rolaram. Pré-candidatos e seus
porta-vozes, em todos os níveis políticos, postaram seus vídeos, suas
declarações e seus memes. Todos na mesma direção. Num extremo, Bolsonaro. Em
outro extremo, o PSOL e o PT, passando pelo empresário Flavio Rocha – protoliberal.
Flávio Rocha fez sua estreia no oportunismo político-eleitoral, mostrando o
quanto é igual aos demais e à média política brasileira.
6. Mas quem
perde e quem ganha -política e eleitoralmente – num ano crítico e estratégico
como 2018? De nada adiantam as postagens, as entrevistas e os discursos? O
fundamental é o perfil e a imagem acumulados, de cada um dos pré-candidatos.
7. Lula
manteve-se silente, talvez por orientação de seus advogados. O PT não tem outro
porta-voz e nem consenso para nada, hoje – exceção do repetitivo "fora
Temer". Continuou fora do jogo. Alckmin tem uma imagem suave, que nada tem
a ver com a violência da greve. Da mesma forma, Marina, que no limite fala da questão
ambiental e do impacto do transporte rodoviário. Álvaro Dias não construiu uma
imagem, um perfil na pré-campanha fora do Paraná.
8. Dessa
forma, restam Bolsonaro e Ciro Gomes, com perfis mais explosivos e
histriônicos, harmonizando com os caminhoneiros. Ambos – potencialmente – poderiam
capitalizar eleitoralmente a greve dos caminhoneiros.
9. O governo
federal e Temer ganharam mais um desgaste com uma crítica generalizada de que
não se anteciparam e se atrasaram nas ações mais incisivas. E ainda receberam
as críticas dos economistas liberais contrariados com os subsídios aprovados
pela repercussão fiscal das medidas.
10. Cabe um
exercício de silogismo, projetando o futuro da greve. Independentemente de suas
consequências e do prazo, a greve vai terminar, até por exaustão. E que imagens
estarão associadas ao fim da greve? Com certeza apenas as imagens generalizadas:
o Exército, seus soldados, seus veículos e tanques nas ruas.
11. As
pesquisas todas mostram a confiança popular-institucional nas Forças Armadas,
só ficando atrás da "Igreja". A percepção será que a greve terminou
graças às FFAA.
12. E quem é
o político e pré-candidato com imagem associada às FFAA e reforçada pelas
afirmações verticais de autoridade? Obviamente, Bolsonaro, que sempre galopou
em sua condição de ex-oficial do Exército e defensor do regime autoritário. E
quem corre maior risco com isso? Ciro Gomes, que por desenvolver um perfil
primo-irmão de valentia, na medida em que o eleitor deduzir que o mais
confiável nas crises é Bolsonaro, tenderá a transferir suas intenções de voto
de Ciro para ele.
13.
Paradoxalmente, se beneficia o extremo oposto, com perfil de suavidade: Marina
e Alckmin, que poderão passar a ser favoritos para um segundo turno com a perda
de competitividade de Ciro Gomes.
14. Agora há
que acompanhar.
Título e Texto: Cesar Maia, 28-5-2018
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