Cesar Maia
1. Nesta semana, na Itália, o MV5 – antissistema -, que obteve uma
vitória por maioria simples, e a Liga Norte, que no bloco majoritário da
direita foi a mais votada, fecharam um acordo para formar maioria parlamentar e
assumir o governo italiano.
2. Mas, para isso, deixaram de lado seus conflitos ideológicos e
abriram mão de suas principais bandeiras que os levaram à vitória, como a
rejeição ao Euro e a União Europeia.
3. Até se entende que durante o processo eleitoral os candidatos ou
partidos flexibilizem seus programas, de forma a construir maioria que os leve
a vitória e a governabilidade. O ponto que caracteriza oportunismo e
pragmatismo é quando uma vez eleitos alterem seus compromissos de campanha de
forma a construir uma maioria artificial para assumir o governo.
4. Em Portugal foi assim. A
centro-direita do primeiro-ministro Passos Coelho venceu com maioria simples. A
centro esquerda do Partido Socialista ficou sem maioria parlamentar. Mas atraiu
a esquerda radical, que fez sua campanha contra o Euro e contra a União
Europeia. Mas, para constituir o governo, firmou um compromisso que negava as
bandeiras da campanha. Dessa forma, o PS constituiu uma maioria parlamentar
oportunista/pragmática e assumiu o governo.
5. Na Alemanha, os dois partidos de centro-direita, que
historicamente formavam uma maioria parlamentar, não puderam refazer a aliança
na eleição passada porque o FDP – liberal - não ultrapassou a cláusula de
barreira. Mas, na última eleição, o FDP cresceu e formou bancada de
deputados.
6. Surpreendentemente, não aceitou formar maioria parlamentar com o
CDU, alegando que essa aliança o prejudicava eleitoralmente. Com isso, a
primeira-ministra Merkel teria que convocar novas eleições ou repetir um
governo híbrido como o anterior. E foi isso o que ocorreu. O FDP, temendo uma
nova eleição, preferiu decidir se mantinha a coligação híbrida anterior, embora
na campanha tenha negado isso taxativamente. Convocou uma assembleia que
decidiu manter a coligação. Só que agora com exigências muito maiores na
composição do governo. Merkel achou melhor aceitar para não correr riscos de
redução de sua bancada.
7. O governo espanhol do PP, de certa forma, foi salvo pelo
radicalismo anti-euro do Podemos e pela crise na Catalunha. O Podemos não abriu
mão de suas bandeiras anti-União Europeia e o PSOE não formou maioria que
queria o PSOE. Coube, paradoxalmente, ao Podemos -digamos- por coerência,
evitar que o PSOE constituísse uma maioria parlamentar oportunista e
pragmaticamente. Na Catalunha a vitória dos independentistas reforçou a
necessidade de se dar estabilidade ao governo do PP.
8. Mas as pesquisas já acusam que o bipartidarismo espanhol está
acabando e é provável que o Ciudadanos – liberal - venha a ultrapassar o PP na
próxima eleição. Sendo assim, teríamos um quadripartidarismo, tornando ainda
mais complexa a formação de um governo nas próximas eleições, abrindo espaços
para o pragmatismo e o oportunismo.
9. Aqui no Brasil, a pulverização parlamentar, onde nenhum partido
alcança 15% das cadeiras, impulsiona o pragmatismo e o oportunismo na formação
dos governos.
10. Curiosamente, uma consciência crescente do eleitorado em
relação a questão econômica levou a candidatos ajustarem suas posições. De
certa forma, foi um avanço, pois ocorreu durante a campanha e não após. Foi o
caso de Lula em 2002 e agora de Bolsonaro.
11. Numa eleição imprevisível, onde blocos de opinião e corporações
podem ser decisivos, já se notam os ajustes de posição de candidatos para
aumentar as suas competitividades.
12. Bem, ocorrendo em campanha sem dar um golpe após a eleição como
os exemplos citados, e informando ao eleitor suas novas posições, é um processo
mais orgânico do que mudar de posição depois, para governar.
Título e Texto: Cesar Maia, 22-5-2018
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