A canção original “Mãe Preta” é brasileira, sendo seus
autores Piratini (António Amabile) e Caco Velho (Matheus Nunes). A letra,
todavia, fora proibida pela censura em Portugal (o momento político ditatorial
que vivia Portugal não recomendava textos que fizessem referência à
escravatura), sendo a sua letra considerada subversiva.
Pode ser um adendo
desnecessário, mas, para quem não sabe, Portugal viveu mais de 40 anos de
ditadura, de 1933 a 1974, quando havia um serviço de censura prévia às
publicações periódicas, emissões de rádio e de televisão, protegendo permanentemente
a doutrina e ideologia do Estado Novo Português e defendendo a moral e os bons
costumes.
A letra foi proibida em
Portugal. David Mourão-Ferreira escreveu, então, outra letra falando da
tragédia de um desaparecido no mar. Eis a letra:
Barco Negro
De manhã, que medo, que me
achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada
n’areia
Mas logo os teus olhos
disseram que não,
E o sol penetrou no meu
coração.[Bis]
Vi depois, numa rocha, uma
cruz,
E o teu Barco Negro dançava na
luz
Vi teu braço acenando, entre
as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que
não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu’estás sempre comigo.
[Bis]
No vento que lança areia nos
vidros;
Na água que canta, no fogo
mortiço;
No calor do leito, nos bancos
vazios;
Dentro do meu peito, estás
sempre comigo.
A primeira a gravar Barco
Negro foi a portuguesa, “Maria da Conceição”. No entanto, a lusitana que
transformou “Barco Negro” num dos fados mais conhecidos de todos os tempos foi
Amália Rodrigues, no tema do filme “Amantes do Tejo”. Apenas em 1978 que Amália
Rodrigues gravou a versão original com a letra de Caco Velho.
Um fado combina com lamento;
combina com saudade; com a tristeza de um barco que vai longe. Uma melodia.
Duas tristezas. A da mãe que embala o filho do sinhô enquanto seu filho apanha;
a tristeza da saudade de quem foi no Barco negro...
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Prestem atenção nos versos de Teixeirinha. Apreciem como um bom vinho, o lirismo e a magnificência de "Barco Negro" de Caco Velho. Bem diferente desse lixo que a mídia nos enfia, goela abaixo, como Pablo Vittar, Rico Dalasam, Aretuza lovi e outras bostas cheirando a merda que a cada dia surgem dos quintos com força total. Cadê a magia dos apaixonados? Onde estão os ouvidos maviosos dos sonhadores? Para onde foram os seresteiros que faziam suspirar as moças debruçadas nas janelas? Aparecido Raimundo de Souza, 65 anos, jornalista. (de São Paulo, Capital).
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