O líder do Chega alimenta-se, com deleite e volúpia, dos ataques que os atores políticos, jornalísticos e comentadores lhe fazem. Cada ataque é mais uma dúzia de votos no bolso, atendendo ao que se tem visto nas últimas eleições e ao que se passa nas redes sociais, onde Ventura é praticamente o José Mourinho…
Vítor Rainho
Não tenho memória de um fenômeno
idêntico, mas as ‘forças’ têm-se unido para contribuir para o impensável há
meia dúzia de anos: André Ventura aproxima-se cada vez mais do cargo de
primeiro-ministro. Há seis ou sete anos, quando o entrevistei pela primeira
vez, achei que tinha uma certa loucura, no que dizia respeito às suas ambições
políticas – não era o único que me surpreendia com os cenários futuros que
idealizava.
Já em 2021 ou 2022, quando me
disse que vai ser primeiro-ministro, provoquei-o perguntando-lhe se estávamos a
beber o mesmo vinho à refeição. Mas eu também me tinha rido dele quando foi
eleito deputado único e me disse que iria subir muito nas eleições seguintes:
elegeu 12 deputados. Depois passou para 50 e nas vésperas das últimas eleições,
em todos os debates televisivos em que entrou, foi uma nódoa, um incompetente,
mentiroso, racista e xenófobo para a quase totalidade dos analistas que
encheram longas horas de televisão para comentarem um debate que teve à volta
de 50 minutos.
Só que nas eleições de 18 de maio deste ano, Ventura conseguiu que 1.437.881 portugueses votassem no Chega, elegendo 60 deputados. O Chega ficou a 533.677 votos da AD e a 4.313 do PS, embora tenha conseguido eleger mais dois deputados do que os socialistas.
De 2024 para 2025, o Chega
subiu 268.045 votos. E subiu como? Com os ataques sucessivos que políticos,
jornalistas e comentadores lhe fazem, alimentando-o dessa forma. O líder do
Chega parece um toureiro no meio da arena a picar os seus ‘opositores’, leia-se
jornalistas, comentadores, políticos e por aí fora.
E ao chamar os ‘adversários’
para o meio da ‘arena’, estes vão permitindo a Ventura executar chicuelinas e
verónicas na perfeição – leia-se ganhar mais milhares de votos. Quanto mais o
atacam, mais o povo lhe pede outra chicuelina. Faz-me um pouco confusão as
pessoas não perceberem isso, se o querem desacreditar não é, seguramente, com
ataques primários. Precisavam de fazer o jogo do líder do Chega e puxá-lo, em
vez de serem puxados, para o meio da arena.
Ventura faz-me lembrar, cada
vez mais, José Mourinho no início da sua carreira como treinador principal.
Rezam as crónicas que o treinador setubalense espicaçava os seus jogadores,
enchendo as paredes do balneário com entrevistas dos jogadores que iam enfrentar
na semana seguinte, onde os adversários davam conta da vontade de vencer o FC
Porto. «Vocês vão permitir isto?», questionava aquele que ficou
conhecido no Reino Unido como ‘special one’.
É um facto que Mourinho
conseguiu ganhar duas Ligas dos Campeões com equipas relativamente ‘modestas’:
FC Porto e Inter Milão. Depois disso, conseguiu mais uma Liga Europa pelo
Manchester United e uma Liga Conferência pela Roma, competições que ele num passado
não muito distante considerava menores. Mas alcançou o topo do mundo
futebolístico, andando há anos a tentar alcançar o topo de novo. Se isso será
possível, muitos duvidam.
Voltando a André Ventura, o
seu jogo irá permitir-lhe chegar a primeiro-ministro? É duvidoso, mas cada vez
mais parece possível, atendendo às chicuelinas que vai fazendo na arena
mediática.
Na semana passada publicámos
um texto sobre o relatório de 2024 da Direção-Geral de Reinserção e Serviços
Prisionais, que foi finalmente tornado público. Não vi nenhum político do
Governo, ministra da Justiça ou da Administração Interna, por exemplo, a explicar
os números divulgados, permitindo que se façam diferentes leituras. Há factos
que são indesmentíveis, como o número de violadores presos ter aumentado quase
50%, ou que o número de estrangeiros que cometeram homicídios também disparou.
Fugindo ao tema, vão dar espaço a quem? A André Ventura, como é óbvio.
Título e Texto: Vítor
Rainho, SOL,
8-8-2025, 16h15
O que seria uma ditadura liberal progressista?
"É a defesa de todos os que ainda acreditam que ser jornalista em Portugal é mais do que ser porta-voz do sistema."
"Quando estamos num país que não é nosso, nós é que nos temos de adaptar…"
André Ventura, um grande comunicador, voltou a marcar posição
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-