[Aparecido rasga o verbo] A lista

Aparecido Raimundo de Souza

BEBETO LEÃO MANSO chama a sua secretária sentada na recepção da sala ao lado, a linda e esfuziante Florbela, querendo saber dela se está tudo pronto para o grande evento que fará realizar no próximo final de semana no novo espaço cultural que ele acabou de construir ao lado do maior shopping da cidade. A moça se levanta e entra na sala de seu chefe às carreiras.

— E aí, senhorita Florbela, chamou o Humberto?

Florbela.

— De Campos? Sim. Trará o Chico Xavier e o Allan Kardec.

Bebeto Leão Manso.

— E o Machado?

Florbela.

— De Assis? Também.

Bebeto Leão Manso.

— E o Silvio?

Florbela.

— Esse convidado não virá.

Bebeto Leão Manso.

— Como não? Quem ele pensa que é para faltar nas festas que realizo?

Florbela.

— Seu Silvio viajou pra Santos.

Bebeto Leão Manso.

— E nem me avisou. Eu mato aquele filho de uma égua.

Florbela.

— No lugar dele, em substituição, convidei o Pabllo.

Bebeto Leão Manso.

— Que Pablo, Florbela? Não conheço nenhum Pablo.

Florbela.

— O Vittar, seu amigo. Esqueceu dele... ou dela, ou os dois, sei lá?

Bebeto Leão Manso, meio que desconcertado, se desvia saindo pela tangente.

— Você é mesmo uma coisa fofa. Pensa em tudo. Sem você minha vida seria uma barra.

Florbela.

— Uma barra enorme que me faria ficar de quatro na Barra Funda...

Risos de ambas as partes.

Bebeto Leão Manso.

— Lembra, minha princesa, que logo no início teremos a parada.

Florbela.

— Estou ligada...

Bebeto Leão Manso.

— Sabe o nome da parada?

Florbela.

— Claro.

Bebeto Leão Manso.

— E qual é?

Florbela.

— De Lucas.

Bebeto Leão Manso.

— Na mosca, na mosca. Ah, convidei o Bangu. Não lhe avisei, mas depois acrescenta o nome à lista. Lembra do Bangu?

Florbela, muito séria.

— Claro, seu amigo lá Santa Cruz?

Bebeto Leão Manso.

— Em carne e osso. Ah, o nosso querido marechal ligou não tem meia hora e confirmou presença. Virá sem falta.

Florbela.

— O Hermes? É mais fácil um boi voar do que ele faltar num dos nossos eventos.

Bebeto Leão Manso.

— E trará o Cascadura.

Florbela.

— Cascadura... Cascadura...?!

Bebeto Leão Manso.

— O Cascadura, moça. Amigo do Vaz ...

Florbela.

— Confesso que a ficha não caiu... Vaz, Vaz...?

Bebeto Leão Manso.

— Vaz Lobo, Florbela. Vaz Lobo. E o Teófilo vira na aba.

Florbela.

— Teófilo não vira. Acabou de cancelar a sua vinda. Brigou com Otoni. Ambos se rasgaram nos tabefes.

Bebeto Leão Manso.

— Otoni, o primo do Vicente de Carvalho?

Florbela.

— Sim senhor.

Bebeto Leão Manso.

— Florbela, uma pessoa que não teria como deixarmos de fora, jamais! Seria o fim da picada. Faço referência à nossa inimitável Gávea...

Florbela.

— Eu sei. Liguei. Comparecerá, esteja certo.

Bebeto Leão Manso.

— E a sapeca virá?

Florbela.

— Sim. E trará uma prima, a Lagoa.

Bebeto Leão Manso.

— Me lembro dela! Bonita, charmosa... mora de frente para o Cristo...

Florbela.

— Perfeito. Enviei um convite para nosso velho e querido governador. Porém, um imprevisto. Ela não poderá nos alegrar com as suas piadas.

Bebeto Leão Manso.

— Já imaginei! O governador se mandou pra Valadares.

Florbela.

— Acho que não esquecemos ninguém. O senhor ligou para o Frei?

Bebeto Leão Manso.

— Caneca? Sim. Será um dos primeiros a bater cartão...

— Florbela.

— Para terminar convoquei o Amado...

Bebeto Leão Manso.

— Batista?

Florbela.

— Esse mesmo. Aproveitei e cutuquei seu Jorge. Estava tudo certo. Por azar, de última hora, seu velho amigo Jorge desmarcou. Não poderá sequer sair de onde está.

Bebeto Leão Manso.

— Como não poderá nos agraciar com a sua presença? Festa sem seu Jorge... afinal, onde ele está?

Florbela.

— No hospital. Não podemos fazer nada...

Bebeto Cara de Leão:

— Não importa. Liga pra ele agora, de novo. Insista. Diga que o quero aqui, ou ficarei soltando fogo pelas ventas.

Florbela.

— Impossível.

Bebeto Leão Manso.

— E por que impossível, Florbela?

A estonteante Florbela se fecha num sorriso triste.

— O senhor não sabe o que aconteceu?

Bebeto Leão Manso.

— Fala, mulher. Desembucha!

Florbela.

— Seu Jorge... meu Pai Eterno... seu Jorge foi atropelado...

Bebeto Leão Manso.

— Atropelado?

Florbela.

— Com todas as letras. O senhor não ficou realmente sabendo?

Bebeto Leão Manso.

— Não, senhorita dona Florbela. Como, onde? Fale de uma vez...

Florbela.

— Pensei que o senhor tivesse tomado conhecimento...

Bebeto Leão Manso, subindo pelas paredes.

— Fale de uma vez, pombas. Quer me matar do coração?

Florbela.

— Seu Jorge estava no sítio dele, lá em Xerém, cavalgando. De repente, caiu do cavalo... a esposa, dona Vilma me disse que não foi culpa do animal. Aconteceu o seguinte: ao manipular a lança, o pobre coitado se descuidou. Caiu da montaria e foi parar debaixo do dragão...

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 25-6-2024

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