Aparecido Raimundo de Souza
A nossa juventude de hoje, no agora do nosso tempo sem amarras, aniquilada pela desonra dos poderosos e pela covardia dos políticos voltados unicamente para o bem-estar dos próprios umbigos –, ou dito de forma mais abrangente e ao meu entender (de enormes e bem nutridas ratazanas de esgotos e bueiros), irremediavelmente se vê arregaçada e perdida entre os escombros de um mundo devastado, fracassado, aniquilado e por que não dizer entulhado até o cu dos ossos pela derrota sádica.
Por conta dessas aberrações alinhadas, sonhos outrora vividos em campos dourados, quimeras nascidas em faces de rostos maleáveis, nesse exato momento –, repito –, nossos jovens e adolescentes se deitam esquecidos, deixados de lado, obumbrados em silêncios anuviados e embaçados, as gestações reprimidas e estranguladas, onde sequer conseguem encorajar o ar (o alimento primordial da alma) para o evento de uma respiração tranquila e serena.
Eles, os nossos adolescentes (de novo, batendo na mesma tecla), dançam desengonçados à simetria de uma orquestra despirocada e frenética, sem a validade de uma batuta gerindo cada instrumento a ser tocado. Mesma moldura, sem a realeza de um compositor renomado, e sem falar em um cantor à altura. Nesse bolo difícil de engolir, vinculado às mazelas de melodias esquisitas, ou pior, na busca de um significado que cure feridas, ou pelo menos acalme as suas ideias sem pé nem cabeça.
Percebo, estarrecido, que a inocência perdida, a esperança desvanecida, num mundo sem talvez, num planeta sem amanhã... numa órbita sem ventura, e num espaço que gira, gira, gira, indiferente às suas aspirações não chegaremos a lugar nenhum. Nas ruas, praças e avenidas, nos becos, desvão e reentrâncias, os olhares dos nossos meninos e meninas são de quem nunca viu o mar, ou beliscou a ousadia de um espaço glamoroso, o verde dos campos e a sintonia dos ventos batendo nos cabelos.
Igualmente se manietam presos em telas de celulares, gastando as vistas com jogos do capeta, filmes idiotizados que não educam, só ensinam um punhado de bandalheiras e putarias sem nexo. Nossas crianças, a cada minuto se distanciam das plataformas das normalidades e perdem a amplidão do saber mais, quando poderiam estar conectados em programas que os fizessem ter uma visão mais ampliada para as coisas boas da vida. A juventude que temos para ser contemplada pelos nossos esbugalhos, se mostra a nós, pais e mães, desamparada e atolada em gozo de um despenhadeiro sem regresso. Nossas crianças, de novo e acirradamente voltando ao mesmo ponto (meninos e meninas), procuram por respostas concretas que moram dentro de cada um. Apesar de todas essas tranqueiras, de todo esse lixo televisivo, percebo que ainda há fogo nos corações que ardem.
Também há chama espetaculosa no verdor da juvenilidade que se levanta e que não tardará, reclamará o seu espaço, a sua voz, a sua verdade e o seu agora. Nesse âmbito encontrará a largueza da própria liberdade, ao tempo em que se deparará com o sentido existente no âmago do crepúsculo onde os horizontes se encontrarão e se agigantarão em um mar de estrelas-guias ainda não contaminadas pelo distúrbio visual do oco volúvel e desabitado. Nossas crianças crescidas por agora, só na idade, um bocadinho na imaginação, talvez um dia, naveguem por aguas longevas, não mais turvas, barrentas ou ruidosas.
Seus corações em desditoso tormento e inconstância, deixarão de ser almas despedaçadas, vidas perdidas, o amanhã sem talvez. Eles sabem que existe um porto onde ancorar seus maiores medos. A nossa juventude sucumbida, apesar de tudo o que disse acima, ainda não se sente definitivamente jogada ao léu. Todavia, em sobrevivência acirrada, na incessante busca de um duradouro e infinitamente maleável. Seguirá sem esmorecer e, em cada novo passo, se deparará com as excitações avançando na noite fria, iluminadas pela lua, a companheira eterna.
Eles são poetas sem versos; artistas sem telas; escritores sem livros; músicos sem voz; sem melodia em suas canções. Compositores que ainda não tiveram a sorte de um amanhã resplandecente e belo. Mas, em oposto, só lembrando, dentro de cada um, há uma chama que persiste, insiste e não desiste. Encara, vai em frente, tropeça e se levanta em nome da esperança. A Expectação, para a juventude, de alguma forma, ainda se faz magnânima. No final, talvez, não estejam nossos meninos e meninas fora de foco, usque perdidos e “ferrados.”
Cada experiência vivida molda o que virá em segredo. A juventude não se perde, não se consome, apenas se transforma. E o faz, para o bem, ou para o mal. Nessa dança desvairada do tempo, cada jovem se conformará e não se deprimirá. Precisamos mudar essa situação ou não veremos jovens formosos e de personalidades. Teremos, sim, robôs vivendo a “vegetalidade,” a doença incurável de um futuro que nunca prosperará.
Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Represa de Guarapiranga,
São Paulo, 11-6-2024
A menina dos olhos sem luz
À margem do nada
O escuro alimento
Traumas
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