sexta-feira, 2 de maio de 2025

[Aparecido rasga o verbo] Tudo isso aqui trazido, consequências de uma ousadia alcoólica

Aparecido Raimundo de Souza

Desespero inevitável

Queria fugir de mim,
dos meus desencantos,
e não consigo...
Melhor seria assim,
do que viver pelos cantos
na triste espera do fim.


Perguntas irrespondíveis

O que faço dessa solidão
que me atormenta
o agora?
Sumir, morrer,
cair fora?
Não sei como o coração
aguenta!
Fica no ar outra pergunta:
quando chegará minha hora?

Mudez

Sentado na calçadado meu silêncio,
escuto vozes de parentes
que já se foram...
Não sei se irei revê-los
um dia,
em algum lugar, talvez, quem sabe...
e o silêncio, nada esclarece...
Apenas, como eu,
segue ao meu lado, sem dizer nada.

Trauma bucólico

Vivi, tanto tempo vivi
em busca de mim mesmo,
e nunca me encontrei...
continuo aqui,
sozinho, à esmo...
nem sei dizer se morri
ou se virei quiquiriqui

Coisa de louco

Gritar, berrar, não adianta,
tampouco pedir ajuda à parentes...
minha voz está, por conta, calada,
presa, no gogó da garganta,
bem aqui...
e eu, burro feito uma anta,
me esqueci
de escovar os dentes.

Pequeno tratado sobre a beleza

Beleza não se põe na mesa,
Já dizia o velho refrão:
“Beleza é coisa de realeza
e não de mendigos de pés no chão’.

Fatal

Subi pela escada
até lá no topo e espiei...
queria ver, bem do alto,
como tudo, cá embaixo ficou...
O problema é que a malvada,
posta sem eu perceber, num ressalto,
me derrubou:
fiquei assim, meio a meio, estropiado2

Foi assim que aconteceu...

A mulher gritou
Eu a xinguei...dei-lhe um tapa
bem dado no traseiro...
e em seguida fugi...
A beldade era mulher do açougueiro;
o desgraçado cortou a minha cabeça
e somente agora, foi que percebi.

Baygon3

Moscas
mortas:
menos chateação
na hora do almoço.

Rotina

O meu ontem,
ficou no passado...
o meu agora,
não existe; se fez acabado...

Bem assim...

Daquele ontem
sem volta,
restou a saudade...
E, ela, agora,
fala mais alto
e o coração,
num salto,
não suporta,
tamanha se fez
a adversidade,
que bateu
em minha porta

Fim da linha

O que eu fiz da minha vida?
Perdi tudo e aqui estou...
minha estrada se tornou sofrida;
tudo que construí, desmoronou!

Funesto

Corpos falecidos,
se levantam,
entristecidos,
ao lado de campas
carcomidas.
Choram,
os outros mortos
que ficaram:
almas solitárias,
embrutecidas.

Descoberta tardia

Ah, o meu amanhã...
é um porvir sem esperança!
Melhor não tivesse crescido:
continuasse feliz, sendo criança...

Inexplicável

Você chegou,
de repente,
e eu sorri
de felicidade...
Contudo,
logo depois,
você se foi...
Ainda agora,
Meu Deus, aqui estou,
preso, cativo,
acorrentado
e pior:
abandonado,
numa enorme saudade.

Explicação necessária:
1 – Quiquiriqui: coisa de pouco valor, algo insignificante.
2 – Estropiado: outra forma de grafar aleijado ou desfigurado.
3 – Baygon: uma marca famosa de inseticida.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 2-5-2025

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Reincantamento do cotidiano 
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Um comentário:

  1. Sempre um romântico acima de qualquer suspeita.
    Carina Bratt, de Jarinu, interior de São Paulo.

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