domingo, 1 de junho de 2025

[As danações de Carina] Todos esses ‘anônimos’ merecem ser lembrados

Carina Bratt 

OS TEXTOS que abaixo seguem, não são de autores renomados, como Mario Quintana, Fernando Pessoa, Aníbal Beça, Olavo Bilac, Aparício Fernandes, ou Gonçalves Dias. Menos ainda vieram da alma em festa de Luiz Vaz de Camões, Auta de Souza, Raul de Leoni e Machado de Assis.  

Passaram longe dos imaginosos e imortais Vinícius de Moraes, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado, Manuel Bandeira e Luiz Fernando Veríssimo.  Sequer chegaram perto de Charles Chaplin, Cecília Meireles, Cora Coralina e João Cabral de Melo Neto. 

Acredito nunca terem tomado conhecimento de Willian Shakespeare, Casimiro de Abreu, Ferreira Gullar, Claudio Manoel da Costa, Patativa de Assaré, Ana Cristina Cézar, Hilda Hilst, Raimundo Correia, Humberto de Campos e Fagundes Varela. 

Foram criaturas que nasceram viveram e morreram no esquecimento. Nunca saíram no ‘anonimato,’ tampouco tiveram o prazer de ter ou ver um livro publicado. Em tempo algum se tornaram alvos das luzes dos holofotes. 

Até onde sei, esses ‘esquecidos ilustres’ não galgaram a honra de ver seus nomes figurando em calçadas da fama, ou no pior dos mundos; seus patronímicos citados em textos de literatos conhecidos mundialmente. 

Minhas ‘Danações’ de hoje prestam essa singela homenagem a esses seres maravilhosos, que mesmo à margem da fama, indo e vindo em ruas e avenidas sem uma réstia de luz sobre seus rostos, partiram desconhecidos e abandonados. Contudo, deixaram um legado importante para todos nós. Vamos conferir?  

Você ontem me falou
que não anda, não passeia,
como é que hoje cedinho
eu vi seu rosto na areia?

Já fui galo, já cantei,
já fui dono de terreiro.
Não me importo que outros cantem
Onde eu já cantei primeiro.

Coração entristecido,
por que tanto te magoas?
Se estais cercado de penas,
o que fazes que não voas?

Se eu pensara quem tu eras,
quem tu havias de ser,
não dava meu coração
para tão cedo sofrer.

Vai-te, carta venturosa,
vai ver a quem quero bem,
diz-lhe que eu fico chorando
por não poder ir também.

Não furtar
nada que dos outros são;
mas você bem que furtou
meu pobre coração.

Ó lua que vais tão alta
Redonda como um tamanco!
Ó Maria traz a escada
Que não chego lá co’ o banco!

Coração de pedra dura
da mais dura que houver;
eu jurei de te amar,
enquanto vida tiver.

Morena, quando eu morrer,
me enterre no mesmo dia;
eu quero ser enterrado
no coração de Maria.

Não opino, nem me meto
em brigas de namorados;
Vocês hoje, estão brigando
e amanhã estão abraçados.

Tigelinha d’água morna
o que faz na prateleira?
Esperando o meu benzinho
que chega segunda-feira.

Quero cantar, ser alegre,
Que a tristeza não faz bem;
Inda não vi a tristeza
Dar de comer a ninguém.

Segunda-feira eu te amo,
terça te quero bem;
na quarta morro por ti,
Quinta por mais ninguém,

Minha mãe, case-me cedo,
enquanto sou rapariga,
que o milho achado tarde
não dá palha nem espiga.

Se esta rua fosse minha
eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas de brilhante
para meu amor passar.


Título e Texto: Carina Bratt, do ‘EVENTO CIENTÍFICO E CULTURAL’ promovido pelo Instituto Principia, acontecendo até o dia 12-6, na Rua Pamplona, 145 Casarão - Bela Vista - São Paulo, Capital. 1-6-2025

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