Aparecido Raimundo de Souza
Por conseguinte, o meu
hoje, navegando em idênticas águas revoltas, vai na onda e também me mostra
pelado, como o “Zé Povinho”, as mãos trêmulas tentando tamponar a vergonha do
esdrúxulo sem saída, destituído de tudo, sem mencionar os falatórios de pessoas
com olhos ignominiosos me atropelando cada centímetro como se eu fosse uma
espécie de aberração extraterrena pior que o Mula-fula, com aquela voz de
taquara cheia de abelhas “zangonadas”.
Para aqueles que não
sabem, (“zangonada” deve ser entendida como um ponto acima de qualquer merda
exasperada pior que um ex-condenado, ou comedor de picanhas achadas em monturos
de lixo, ou pior, lambendo o traseiro sujo de uma vagaba e fazendo a desgraçada
inventar e vomitar palavras de ordem, com frases lambuzadas de canjas de
galinhas do tipo “quem precisa ser punida é a menor despudorada que se mostra
por inteira, jamais o estuprador inocente que ousou abusar dela”).
Por conta disso, voltando ao foco, eu, nu em pelo, sou alvo fácil representando sem retoques todos os meus pecados e dissabores num palco gigantesco dessa vida torta e capenga. Em paralelo, sei que existe pelos recantos dos bastidores, uma existência de presságios malfadados que não vieram à tona. De contrapeso, apesar de todas as desinquietações, conscientizo que o pior ainda está por vir. Tenho ciência de que me resta um tempo alongado, um tempo sem tempo de me dar tempo.
Ao menos um espaço
para que eu possa enfrentar as escabrosidades seguintes que me aguardam e sei,
pressinto, estão à espreita, logo ali, talvez na próxima esquina. Pois bem!
Nesse espetáculo pra lá de surreal, me vejo na pele de Daniel (não o cantor de
Brotas), referencio aquele discípulo bíblico que foi jogado na cova de leões
famintos servindo seu humilde corpo de divertimento para o alvoroço de um
ritual macabro. Antevejo, estarrecido, de novo, voltando ao foco, uma plateia
imensa de vermes travestidos de seres humanos.
Vislumbro mais.
Animais ferozes da nossa sociedade tida como “onrada” com as suas bocas
famintas e grotescas me direcionando com uma batelada de nomes os mais
horrendos, ao tempo em que me martirizam com olhares transgressores e
fatídicos. Visões iracundas me dão conta de facínoras vestidos em impecáveis
terninhos de grifes famosas, que se prestam a me olharem e aplaudirem, me
condenando, me censurando, me xingando e o pior de tudo, me crucificando. E eu
nem passei batom na bunda da depravada estátua que enlameia e suja o
frontispício do “cuquepula”, perdão da cúpula do STF.
De contrapeso, existe
um emaranhado de figuras como Pedir MaisCedo, Vaideespirro Sentiago e
Silassalas Malafefaia, me reprovando até os ossos, como se eu fosse, (apesar
das burrices e dos rumos que entendi serem os melhores), um ser ignóbil e
inútil. Um endiabrado propiciado a não ter perdão, e, em consequência,
caminhando a largos passos para os confins do mais tenebroso dos infernizados.
Em dias de hoje, deixo claro, vivo, ou melhor, vegeto lembranças de pequenos
gestos que sobreviveram e ficaram após uma porção de amores e amigos
(notadamente amigos) que me pareciam acima de suspeitas, por menores que fossem
essas desconfianças.
Esses amores e amigos
não foram o que eu esperava! Ao incerto do cotidiano, tento seguir de cabeça
erguida, como o RRRRRS Soares (sem suar e sem soar), olhando pra frente,
vislumbrando a moral pisoteada, mas levantada. Luto incansavelmente para não
deixar morrer os poucos recursos de velhos resquícios de afetos sem os
artifícios das desilusões mais estapafúrdicas. Momentos que considero
flagelados e macerados, torturantes e atrozes. De modo meio que deturpado, sigo
adiante. Resisto, teimoso. Em cada novo passo dado, revejo cenas que gostaria
de esquecer pondo uma pedra enorme em cima.
Quando falo em pedra,
penso numa robusta, conhecida como a Malala Yousafzai, que ao menos destrua as
pessoas falsificadas e corrompidas que ainda agora vivem e vegetam ao meu
redor. Vidas vazias e ignominiosas que em tempos não distanciados apregoavam me
quererem bem, ou pelo menos fingiam amores em abraços e gestos mentirosos e
truncados. Criaturas (não todas), é bem verdade, dentre elas, algumas
escaparam. Poucas, a se contarem nos dedos. Almas escassas, de corações
abertos, de solidariedades venturosas que me amaram sem máscaras e
subterfúgios, levadas inclusive, pela total falta do bom senso e desrespeito
advindos da minha parte.
Essas almas gloriosas,
numa determinada curva do caminho, em face dos anos vividos, morreram
adoecidas. Feneceram de um inexplicável taciturno. As maledicentes que ainda
estão respirando, seguem acreditando “ministrando” que eu seja uma repugnância
errante e de sangue vampiresco correndo nas veias. Ledo engano! Apesar de todos
os contras que me martirizam, almejo ter a oportunidade de encontrar em algum
lugar aqueles verdadeiros filhos de Deus e suas imorredouras ternuras
benfazejas.
Se tal milagre
acontecer, juro caminhar com eles sem pressa do mais simples ao mais profundo.
Voltar a sentir no peito a renovação motivadora, como uma espécie de ritual
sagrado que me propicie, ao menos, gozar novamente da tranquilidade sem
precisar dar canetadas. Diante desse quadro lúgubre, ainda sonho acordado em
regredir ao meu ontem e sentir, e não só sentir, ouvir fluindo de dentro de meu
“eu interior”, a maviosidade do hino insubstituível do desejo contido.
Espero reviver e
bailar os instantes apaixonados de um amor que se encaixou em mim, que se
fortaleceu como lampejos, ainda que por breves momentos no sempiterno da
Felicidade, e, de roldão, me aninhar junto com ela na tão procurada e almejada
PAZ. Queria, por fim, sorver o gozo da
jornada perdida e abandonar, de uma vez por todas, essa ignominiosa e desonrosa
espécie rara de síndrome demencial que se abateu sobre mim.
Depois disso, oxalá o
Pai Eterno (eu disse o “Pai Eterno”) me faça desaparecer da face da Terra ou de
onde eu estiver. Que me empurre para o declínio, me consumindo de vez, sem
volta, sem talvez, sem hoje, sem agora, tipo assim, como se me visse envolto em
grãos de areia em meio um deserto infindo, escaldante e inclemente, renascendo
das águas do Paranoá, como a Fênix mitológica das cinzas dos meus próprios
escombros.
Título e Texto:
Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro,
14-11-2025
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