Jaime Otelo
Amigo, cá te escrevo, pois a ânsiaescapula do meu peito, tanto agora
que departes daí. Longe de mim
sondar as tuas horas, ou guardar,
como um cão, a demora que sobeja;
longe de mim deter-te com questões
sedentas de por quantos e porquês.
Mas ao saber de como cada impasse
se desinfla perante o teu arbítrio
(gosto tanto de ti, mas só por isso),
como não quer mais? Aonde estás
não poderei lançar a explicação
dos meus porquês; tampouco há claridade
nos meus recantos. Sei que rejubilo
não poderei lançar a explicação
dos meus porquês; tampouco há claridade
nos meus recantos. Sei que rejubilo
cada triunfo teu como se meu,
e que os faço chapéu, quando Lisboa
troca abril pela chuva (talvez chore
cada passo que dês. Tens tu chapéu?).
Não creio que ressinta a tua ausência,
ou que seja ressaca do teu riso…
ressinto apenas uma gravidade
que não atrai um nome, e puxado
por essas correntezas, lanço as mãos
a estas letras. Cede-me um desconto:
só me deixo alarmar por gente boa.
Ora, da costa, poucas novas há,
senão que, se não escrevo, nem trabalho,
a ti anexo os frutos do meu ócio.Tomara (penso) ser ligeira a carne,
elemento transeunte da atmosfera,
que voasse daqui perante a chance
de saciar a espera, que abonasse
nuvens melhores, ágeis pra regar
a seca deste impasse. Delegar
o carinho à feição de cada dedo
faz a história de ausentes e emissários,
mas a mensagem não és tu… serias
se a tecla diluísse a latitude,
se estes ecrãs tragassem cada metro
e me mostrassem, claro como o espelho
da minha falta, “trago-te a mim mesmo”.
Ora, enfim, cá te escrevo, quase perto,
mas longe de ser sério: tu bem sabes
as fronteiras das minhas digressões.
Tudo é humor, não vás pensar demais.
De facto, cada verso me atraiçoa,
mas quem sou eu? Amigo, no retorno,
não espero o teu melhor. Virás exausto
da soma dos quilômetros, exausto
de cada aventurança, e eu infausto
com cada mais trabalho, enfastiado
co’a soma de tão pouco. Nós teremos
bolor entre as sinapses, haverá
heras no peito, galhos nos cabelos,
e as semanas nas folhas como um ano.
Eu cá ajeito tanta mil maneira
pra podar os excessos, mas e tu,
que te dizes só? Como a canção, eu
mais ‘tou… se não puderes te podar,
liga-me, e talvez também te poda.
Às vezes teu,
J.
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A meus olhos
O pedreiro
O Eremita + Portugal
Ser poeta
e que os faço chapéu, quando Lisboa
troca abril pela chuva (talvez chore
cada passo que dês. Tens tu chapéu?).
Não creio que ressinta a tua ausência,
ou que seja ressaca do teu riso…
ressinto apenas uma gravidade
que não atrai um nome, e puxado
por essas correntezas, lanço as mãos
a estas letras. Cede-me um desconto:
só me deixo alarmar por gente boa.
Ora, da costa, poucas novas há,
senão que, se não escrevo, nem trabalho,
a ti anexo os frutos do meu ócio.Tomara (penso) ser ligeira a carne,
elemento transeunte da atmosfera,
que voasse daqui perante a chance
de saciar a espera, que abonasse
nuvens melhores, ágeis pra regar
a seca deste impasse. Delegar
o carinho à feição de cada dedo
faz a história de ausentes e emissários,
mas a mensagem não és tu… serias
se a tecla diluísse a latitude,
se estes ecrãs tragassem cada metro
e me mostrassem, claro como o espelho
da minha falta, “trago-te a mim mesmo”.
Ora, enfim, cá te escrevo, quase perto,
mas longe de ser sério: tu bem sabes
as fronteiras das minhas digressões.
Tudo é humor, não vás pensar demais.
De facto, cada verso me atraiçoa,
mas quem sou eu? Amigo, no retorno,
não espero o teu melhor. Virás exausto
da soma dos quilômetros, exausto
de cada aventurança, e eu infausto
com cada mais trabalho, enfastiado
co’a soma de tão pouco. Nós teremos
bolor entre as sinapses, haverá
heras no peito, galhos nos cabelos,
e as semanas nas folhas como um ano.
Eu cá ajeito tanta mil maneira
pra podar os excessos, mas e tu,
que te dizes só? Como a canção, eu
mais ‘tou… se não puderes te podar,
liga-me, e talvez também te poda.
Às vezes teu,
J.
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