De pedra bruta ergo uma prisão
Mas em redor não há cidade: é a Zona cercada.
No céu límpido um milhafre plana e espreita. Vento na estepe… E não passa ninguém,
Para perguntar: constróis, para quem?
Vigiam-nos com arame farpado, cães, metralhadoras –
É pouco! Precisam de outra prisão dentro da prisão…
De colher na mão, trabalho com moderação,
E o trabalho arrasta-se por si mesmo.
Veio o major: parede mal aparelhada!
Seremos os primeiros presos – prometeu.
Se fosse só isso! Digo uma palavra livre
E no processo prisional alguém por travessura
Disse alguma coisa em denúncia
Ligando-me a mais alguém.
À porfia os martelos quebram e moldam.
Atrás do muro cresce um muro,
Um outro muro para lá dos muros…
Gracejamos depois de fumar
Junto à caixa da argamassa.
Esperamos o pão para o jantar,
Um pouco mais da papa absurda.
E do andaime, por entre as pedras
Os buracos sombrios das celas.
Muda profundeza dos tormentos de alguém…
E todo o fio entre eles – um automóvel
E o zumbido dos fios dos postes recentes.
Meu Deus! Como somos impotentes!
Meu Deus! Que escravos somos!
Aleksandr Soljenítsyn
O Eremita + Portugal
Ser poeta
Nús + Selva de pedra
Para merecer a poesia + Pastoral
Um Deus + A Liberdade
A Palavra + O Sol

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