Após chamar Friedrich Merz de “filhote de Hitler vagabundo” e “nazista” nas redes, Eduardo Paes expõe desequilíbrio político e risco diplomático com a Alemanha, parceiro estratégico do Rio de Janeiro, em plena fase de busca por investimentos e reconstrução de imagem internacional
Quintino Gomes Freire
Que a política brasileira, e em especial a carioca, está ladeira abaixo há tempo, ninguém nega. Mas até agora, Eduardo Paes ao menos fingia vestir a pele de estadista. Esse verniz se desfez hoje em pó: ele jogou no lixo todo o suposto equilíbrio emocional para correr atrás de holofotes e fazer papel de “patriota” barato, insultando o chanceler alemão de nazista, algo tão populista quanto infantil.
É inegável que Friedrich Merz
pisou na bola ao minimizar o Brasil, dizendo que os jornalistas alemães ficaram
“felizes” de deixar Belém após a COP30. Mas a reação descontrolada de Paes,
como se fosse um vendaval emocional de alguém prestes a disputar o governo,
revela algo muito mais profundo: um despreparo assustador. Ele não está
defendendo o Brasil, está explorando a provocação para se autopromover.
E aqui mora o perigo dessa relação entre Rio (e Brasil) e a Alemanha: não é só sentimentalismo mal colocado. A Alemanha é uma das grandes investidoras no Brasil e no Rio. Não basta bater no peito e gritar “defesa nacional”: uma declaração bombástica pode custar mais caro do que ganhar manchetes. Paes demonstrou que sua retórica nacionalista é superficial, uma prioridade egoísta mais próxima do powerpoint eleitoral do que de uma estratégia de Estado.
É assustador imaginar um
cenário em que o Rio, já fragilizado socialmente e com problemas crônicos de
gestão, se torne refém simbólico dessa retórica inflamada. A grosseria de Paes
não empurra só um embate ideológico: pode trazer consequências reais, fragilizando
parcerias estratégicas. É difícil separar patriotismo de populismo quando a
“defesa do Brasil” é feita com palavrões e insultos grosseiros em vez de
política institucional.
Paes revela duas fraquezas
perigosas, emocional e estrutural. Ele aposta no teatro da indignação para se
autopromover, mas deixa exposto um risco muito maior: que a relação com um
investidor tão relevante quanto a Alemanha se torne volátil, guiada por mexidas
de braço de cena, não por políticas de longo prazo. E isso, para o Rio, pode
custar muito caro.
Enquanto o Rio tenta
desesperadamente reconstruir sua imagem lá fora, gastando milhões em promoção
turística, captação de eventos e acordos internacionais para atrair
investimento, o prefeito consegue, em segundos, jogar tudo no ralo com um
ataque diplomático impulsivo. A cidade vive uma guerra diária contra o estigma
internacional da violência e da instabilidade. E esse trabalho de longo prazo
simplesmente não se sustenta quando o próprio líder municipal age como alguém
incapaz de controlar o próprio temperamento.
A relação com a Alemanha, um
dos maiores parceiros econômicos do estado, exige maturidade, previsibilidade e
profissionalismo. Paes entregou o oposto. Investidor não coloca dinheiro onde o
humor do prefeito dita a política externa. Turista não se sente atraído por uma
cidade cujo representante mais visível parece governar por impulso e insultando
sua própria pátria.
O Rio quer vender ao mundo a
imagem de uma cidade confiável, moderna e aberta a negócios. Não há campanha de
marketing capaz de compensar um prefeito desequilibrado. Quando quem deveria
ser a vitrine institucional vira um risco diplomático ambulante, todo o esforço
de reposicionamento internacional vira poeira.
De que adianta receber G20,
BRICS, Príncipe e centenas de prefeitos do mundo inteiro, gastar milhares de
reais com viagens internacionais para si e seus comensais, se tudo pode ser
jogado fora por causa de um tweet?
Menos, Paes, bem menos.
Título, Imagem e Texto: Quintino
Gomes Freire, Diário
do Rio, 18-11-2025
"Nenhuma dessas críticas foi realmente contestada pelo regime brasileiro. Em vez disso, transformou-se a constatação de problemas reais em pauta de ofensa 'patriótica'."
18-11-2025: Oeste sem filtro – Lula sugere boteco ao Chanceler alemão que criticou Belém + Dono do Banco Master é preso
"Chanceler diz que alemães 'ficaram contentes' ao irem embora de Belém"

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