quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Diplomacia de Boteco: Eduardo Paes e o preço da imaturidade

Após chamar Friedrich Merz de “filhote de Hitler vagabundo” e “nazista” nas redes, Eduardo Paes expõe desequilíbrio político e risco diplomático com a Alemanha, parceiro estratégico do Rio de Janeiro, em plena fase de busca por investimentos e reconstrução de imagem internacional

Quintino Gomes Freire

Que a política brasileira, e em especial a carioca, está ladeira abaixo há tempo, ninguém nega. Mas até agora, Eduardo Paes ao menos fingia vestir a pele de estadista. Esse verniz se desfez hoje em pó: ele jogou no lixo todo o suposto equilíbrio emocional para correr atrás de holofotes e fazer papel de “patriota” barato, insultando o chanceler alemão de nazista, algo tão populista quanto infantil. 

É inegável que Friedrich Merz pisou na bola ao minimizar o Brasil, dizendo que os jornalistas alemães ficaram “felizes” de deixar Belém após a COP30. Mas a reação descontrolada de Paes, como se fosse um vendaval emocional de alguém prestes a disputar o governo, revela algo muito mais profundo: um despreparo assustador. Ele não está defendendo o Brasil, está explorando a provocação para se autopromover.

E aqui mora o perigo dessa relação entre Rio (e Brasil) e a Alemanha: não é só sentimentalismo mal colocado. A Alemanha é uma das grandes investidoras no Brasil e no Rio. Não basta bater no peito e gritar “defesa nacional”: uma declaração bombástica pode custar mais caro do que ganhar manchetes. Paes demonstrou que sua retórica nacionalista é superficial, uma prioridade egoísta mais próxima do powerpoint eleitoral do que de uma estratégia de Estado.

É assustador imaginar um cenário em que o Rio, já fragilizado socialmente e com problemas crônicos de gestão, se torne refém simbólico dessa retórica inflamada. A grosseria de Paes não empurra só um embate ideológico: pode trazer consequências reais, fragilizando parcerias estratégicas. É difícil separar patriotismo de populismo quando a “defesa do Brasil” é feita com palavrões e insultos grosseiros em vez de política institucional.

Paes revela duas fraquezas perigosas, emocional e estrutural. Ele aposta no teatro da indignação para se autopromover, mas deixa exposto um risco muito maior: que a relação com um investidor tão relevante quanto a Alemanha se torne volátil, guiada por mexidas de braço de cena, não por políticas de longo prazo. E isso, para o Rio, pode custar muito caro.

Enquanto o Rio tenta desesperadamente reconstruir sua imagem lá fora, gastando milhões em promoção turística, captação de eventos e acordos internacionais para atrair investimento, o prefeito consegue, em segundos, jogar tudo no ralo com um ataque diplomático impulsivo. A cidade vive uma guerra diária contra o estigma internacional da violência e da instabilidade. E esse trabalho de longo prazo simplesmente não se sustenta quando o próprio líder municipal age como alguém incapaz de controlar o próprio temperamento.

A relação com a Alemanha, um dos maiores parceiros econômicos do estado, exige maturidade, previsibilidade e profissionalismo. Paes entregou o oposto. Investidor não coloca dinheiro onde o humor do prefeito dita a política externa. Turista não se sente atraído por uma cidade cujo representante mais visível parece governar por impulso e insultando sua própria pátria.

O Rio quer vender ao mundo a imagem de uma cidade confiável, moderna e aberta a negócios. Não há campanha de marketing capaz de compensar um prefeito desequilibrado. Quando quem deveria ser a vitrine institucional vira um risco diplomático ambulante, todo o esforço de reposicionamento internacional vira poeira.

De que adianta receber G20, BRICS, Príncipe e centenas de prefeitos do mundo inteiro, gastar milhares de reais com viagens internacionais para si e seus comensais, se tudo pode ser jogado fora por causa de um tweet?

Menos, Paes, bem menos.

Título, Imagem e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 18-11-2025

Relacionados:
"Nenhuma dessas críticas foi realmente contestada pelo regime brasileiro. Em vez disso, transformou-se a constatação de problemas reais em pauta de ofensa 'patriótica'." 
18-11-2025: Oeste sem filtro – Lula sugere boteco ao Chanceler alemão que criticou Belém + Dono do Banco Master é preso 
"Chanceler diz que alemães 'ficaram contentes' ao irem embora de Belém"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-