terça-feira, 25 de novembro de 2025

[Aparecido rasga o verbo] Sombras de uma alma inquieta

Aparecido Raimundo de Souza

Explicação necessária: achei essas frases num caderno esquecido num banco dentro do ônibus. Não sei se foi levada pelo propósito, ou se a jovem que as escreveu, deixou de propósito, ou de alguma forma queria ser lida, de forma anônima mostrando evidentemente a sua alma silenciosa. Talvez quisesse dar seu grito de um desespero sem limites. Resolvio trazer a baila. No fim uma assinatura. Alma complexa.

Em meus olhos,  sombras lúgubres dançam num baile dantesco. O silêncio rouba o caminho. Perdido, respiro o desespero.

Vento contra folhas. Algo sem endereço. Busca sem traços. Me perco entre estrelas desfalecidas. Nenhuma se faz cadente.

Dor de um amor proibido que não respira. A   sombra aperta o pulso lento. Em algum lugar o silêncio gira descompassado.

No escuro, um peso. Lágrimas caem sem dor. Dor que não some, apenas cria vazios imensuráveis.

Sol nas linhas de minhas mãos abertas. Risos de felicidade ecoam em meus ouvidos. Uma alegria sem fim me prende num redemoinho.

Pétalas dançam leves. O coração pula. A luz transborda, a felicidade flui. Contudo, não a encontro em mim.

Rodas no asfalto dessa estrada sem fim giram atormentadas. Horizontes logo à frente se fazem sem fronteiras. A liberdade do amanhã  nem ao menos dá sinais de vida. Tampouco sussurra.

Passos sem destino. A sua sombra some., o vento grita, a liberdade numa poça se afoga.

Coração pulsa leve. Mãos invisíveis me tocam sem calor. Parece até silêncio de amor sem talvez.

Rodas cortam o vento. Estradas sem fim logo a frente. Vejo uma caurva. O medo dança. Liberdade se faz em fuga.

Pedaços no chão, a dor vira um cachorro que  late raivoso. Silêncio sangra  temendo o pior.

Mãe, são mãos que abrigam a vida. Cuidados existem em cada gesto, em cada dobra, entretanto, o amor sem medida prevalece.

O tudo é um suspiro sem nada. As ondas somem. O vento quebra. É o fim

Sombras me cercam. Olhos vazios, fazem mil  perguntas e eu nem sei os porquês. Pra variar, uma dor se agiganta sem resposta coerente.

Asas de um pássaro de fogo cortam o vento. Nuvens são degraus de alma solta, elas flagram a liberdade e a deixam sem peso.

Meus pensamentos desmancham num tremendo céu escuro. O real do meu agora se desfaz em uivos  esvoaçantes

Lua nova brilha no meu céu tresloucado. Sombras dançam. Sonhos se fazem tremer na base. A noite esconde segredos que nunca desvendarei.

Achei um coração em chamas. Vi setas no ar, enquanto sombras bebiam refri. De repente, uma dor sem voz, gritou em vão

A morte me envolve. Respiro a vida. Estrelas riem de mim. O silêncio se faz cada vez mais presente. Endoideci.

A chuva  rasga o chão de terra batida. Raízes bebem a vida que ainda resta ao redor. No horizonte, nada vejo, apenas o medo do amanhã.

Rodas giram num baile sem o fluxo normal, vidas somem, o tempo se esvai. Caminho sem saída me espera logo ali adiante.

Meus passos seguem pela calçada. No meio da rua, olhos incertos se cravam em mim. Cada passo que dou, é um risco a ser superado;

O espelho do meu "eu" interior, mente. Os reflexos que vejo nele,somem. A dor fustigante que me espia, fica em estado de alerta. Nada por aqui me faz acreditar que é real.

Bordas traiçoeiras no abismo, pés nús, vento esquisto sopra ruidoso. Percebo queda sem freio. Não tenho como me parar. A qualquer minuto despenco dentro de mim mesmo

Sombras dançam ao meu entorno. A luz clara, do nada se ofusca. Toques silenciosos me amedrontam. Meu espírito se desmancha. Nada por aqui é verdade.

Cinzas no meu céu enegrecido. Sussurros se findam sem dizer nada. O silêncio  que me abraça é apenas uma miragem.

Três luas vejo no céu. Todas dançam ao redor dele. Melhor fugir e me esconder no não sei onde.

Nos trilhos, um trem corta a noite. As sombras que se projetam  nele, parecem medrosos. O vento  que vem do maquinista se esconde num vagão de carga. Dizem foi uma partida sem adeus.

Gotas na pele ardem como remédio em machucado aberto.  O dia se fecha, o corpo da menina grita por liberdade. Perduram em seu âmago segredos insondáveis.

Beijos desesperados em bocas entreabertas não trazem amor. O coração que ele suporta no peito, quer parar, mas os lábios ressequidos lhe enviam sinais estrepitosos. Sabe que não é o amor. Tudo não vai além de uma louca ilusão

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da cidade de Atafona, no Rio de Janeiro, 25-11-2025

Anteriores: 
O Ódio e a sua doce face adulterada 
Tipo assim: meus dias em formatos cada vez mais curtos 
Provocado 
A casa das bundas ditosas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-