quinta-feira, 20 de novembro de 2025

[Daqui e Dali] O mono palrador

Humberto Pinho da Silva

O grande Aquilino encontra-se um pouco esquecido, todavia é dos maiores prosadores da língua portuguesa. 

Pena é, a meu ver, que o nome do extraordinário prosador, esteja manchado por atividade política pouco recomendada, e pelo facto de ser testemunha no testamento de Manuel Buiça, realizado três dias antes do regicídio, segundo Rocha Martins, e registrado por António Manuel Ferreira, no livro "De Marquês de Pombal ao Dr. Salazar”.

"Ora o Mestre Aquilino em "Escritor Confessa-se", afirma "Na nossa terra, basta esbracejar, dar murros na mesa, bramar, romper contra a corrente do bom senso, armar em teso, para ganhar fama de valente ou superioridade, e fama que não é fácil extirpar com duas razões, no bestunto do nosso próximo."

É o que fazem, em geral, sindicalistas e alguns políticos, que arrastam multidões...

Essa valentia lusa é igualmente utilizada por cabeças ocas, que passam por sábias, e abundam pelas empresas, impressionando dirigentes “medrosos”, que ocupam cargo por favor do partido que militam, cuja ideologia asseveram acreditar.

Ninguém melhor os retratou do que o nosso Bocage, em "O Macaco Declamador": 

"Um mono, vendo-se um dia
Entre brutal multidão
Dizem lhe deu na cabeça
Fazer uma pregação.

Creio que seria o tema
Indigno de se tratar
Mas isso pouco importava,
Porque o ponto era gritar

Teve mil vivas, mil palmas,
Proferindo à boca cheia
Sentenças de quinze arrobas,
Palavras de língua e meia.

Isto acontece ao poeta,
Orador, e outros que tais;
Néscios o que entendem menos,
É o que celebram mais
."

Quem não conhece, na política, na associação cultural e desportiva, o mono palrador que berra de cátedra e de voz ardilosa, pretendem esmagar tudo e todos?

Encontram-se nas empresas, em bicos de pés, "para serem vistos" (como disse Diderot) com voz de bordão e ares doutorais, pretendem impressionar, para subirem na hierarquia.

António Lopes Ribeiro, em "Anticoisas & Telecoisas", escritor e cineasta famoso, conhecedor perfeito da nossa sociedade, afirma:

"Fazer barulho e dar nas vistas – tal é a chave do êxito em nossos dias."

E mais adiante "(...) Quem for discreto, modesto, púdico, reservado, recatado e respeitador, não vai longe em qualquer carreira,” mormente, escrevo eu, na política e funcionalismo público. 

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, novembro de 2025 

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