quinta-feira, 2 de outubro de 2025

[Daqui e Dali] O que é ser Português?


Humberto Pinho da Silva 

No passado domingo, a minha neta fez-me embaraçosa pergunta: “Avô, o que é ser português?

Mentalmente, pensei o que havia lido nos velhos manuais escolares, recordei retalhos dos "Lusíadas"; feitos gloriosos de patriotas, que ao longo da História deram a vida pela Pátria; mas, acabei tecendo fastidiosa e insípida lengalenga.

De regresso a casa consultei na minha biblioteca, pensadores, escritores, e filólogos, que permanecem, em forma de livro, nas prateleiras das estantes, esperando encontrar a resposta. Infelizmente pouco descobri, além de ligeiros pareceres.

Para Vasco Botelho do Amaral ser português é imprescindível conhecer bem a língua: "Quem aspira a ser português, digno de tal nome, deve estudar, quanto possa, a fala que Deus lhe deu."

Acrescenta, recomendando, a leitura de obras camilianas, que são tónicos, dos melhores, para curar debilidades da língua – "Estudos Vernáculos".

No nosso século, infelizmente, poucos são os que aprenderam a língua, com o leite materno, que a conhecem bem.

Dizem-me agora que para ser português basta-lhe correr nas veias sangue luso, mesmo que seja chocalhado com o de outras nacionalidades.

Sendo assim, já não é preciso conhecer bem a língua, nem os costumes, a História, e as tradições; nem ser filho de portugueses e viver ou conhecer o país.

Conheci cidadão moldavo, que mal falava português, que orgulhosamente me disse – ter obtido o direito (não sei se os deveres) de ser português, após oito anos a viver em Portugal.

Possuía passaporte dos dois países e usava-os consoante interessas de ocasião.

Amigos brasileiros andavam num virote pesquisando ascendente português. Diziam-me: Assim temos porta aberta para a Europa, onde se ganha em euros...

Em "Jornada em Portugal", Antero de Figueiredo escreveu, inflamado de patriotismo e orgulho: "Eu amo tanto a língua portuguesa, essa querida língua portuguesa."

Para ele, ter nascido em território luso e conhecer bem a língua era orgulho e privilégio.

Todavia, já em 1962, Teixeira de Vasconcelos, previa o desinteresse e a ausência de patriotismo: "Já não há portugueses. Essa gente que elege e é eleita, que faz leis no parlamento, e as cumpre ou se ‘insurge’ contra elas, é gente estrangeira". - Prólogo ao "Coração, Cabeça e Estômago".

Mas, isso era no século XIX, dir-me-ão; mas Moita Flores pensava quase o mesmo ao escrever:

"Aqueles que são eleitos e representam Portugal, descem os degraus da grandeza que receberam, como herança, para discursar em inglês. Com todo o respeito pelo inglês, jamais ouviremos uma rainha ou um ministro britânico fazer o mesmo.”. Revista Montepio: "A Língua Portuguesa" Uma Pátria Imensa, 2015.

Fazedor de opinião disse: "Depois de se vender empresas, vende-se nacionalidades".

Se fosse ao preço que o tribuno a comprou, valeria a pena. Leia-se o que disse a São Paulo: "Eu adquiri o título de cidadão romano, por muito dinheiro" – Acto22:28.

A concluir, confesso que me encontro embaraçado para responder à pergunta "O que é ser português?".

Será conhecer bem a língua? Ser filho de portugueses? Viver em Portugal? Ser nascido e criado na Pátria?

Não sei.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, setembro de 2025 

Anteriores: 
"Honra teu pai e mãe" 
Conhecem os políticos as dificuldades do povo? 
Onde se fala de imigrantes e incêndios 
Trrim...trrim... Trrim... 
"Isso é em Portugal e na Europa!..." 
A língua e a gramática 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-