Humberto Pinho da Silva
No passado domingo, a
minha neta fez-me embaraçosa pergunta: “Avô, o que é ser português?”
Mentalmente, pensei o que
havia lido nos velhos manuais escolares, recordei retalhos dos
"Lusíadas"; feitos gloriosos de patriotas, que ao longo da História
deram a vida pela Pátria; mas, acabei tecendo fastidiosa e insípida lengalenga.
De regresso a casa
consultei na minha biblioteca, pensadores, escritores, e filólogos, que
permanecem, em forma de livro, nas prateleiras das estantes, esperando
encontrar a resposta. Infelizmente pouco descobri, além de ligeiros pareceres.
Para Vasco Botelho do
Amaral ser português é imprescindível conhecer bem a língua: "Quem
aspira a ser português, digno de tal nome, deve estudar, quanto possa, a fala
que Deus lhe deu."
Acrescenta, recomendando,
a leitura de obras camilianas, que são tónicos, dos melhores, para curar
debilidades da língua – "Estudos Vernáculos".
No nosso século,
infelizmente, poucos são os que aprenderam a língua, com o leite materno, que a
conhecem bem.
Dizem-me agora que para
ser português basta-lhe correr nas veias sangue luso, mesmo que seja chocalhado
com o de outras nacionalidades.
Sendo assim, já não é
preciso conhecer bem a língua, nem os costumes, a História, e as tradições; nem
ser filho de portugueses e viver ou conhecer o país.
Conheci cidadão moldavo, que mal falava português, que orgulhosamente me disse – ter obtido o direito (não sei se os deveres) de ser português, após oito anos a viver em Portugal.
Possuía passaporte dos
dois países e usava-os consoante interessas de ocasião.
Amigos brasileiros andavam
num virote pesquisando ascendente português. Diziam-me: Assim temos porta
aberta para a Europa, onde se ganha em euros...
Em "Jornada em
Portugal", Antero de Figueiredo escreveu, inflamado de patriotismo e
orgulho: "Eu amo tanto a língua portuguesa, essa querida língua
portuguesa."
Para ele, ter nascido em
território luso e conhecer bem a língua era orgulho e privilégio.
Todavia, já em 1962,
Teixeira de Vasconcelos, previa o desinteresse e a ausência de patriotismo:
"Já não há portugueses. Essa gente que elege e é eleita, que faz leis
no parlamento, e as cumpre ou se ‘insurge’ contra elas, é gente estrangeira".
- Prólogo ao "Coração, Cabeça e Estômago".
Mas, isso era no século
XIX, dir-me-ão; mas Moita Flores pensava quase o mesmo ao escrever:
"Aqueles que são
eleitos e representam Portugal, descem os degraus da grandeza que receberam,
como herança, para discursar em inglês. Com todo o respeito pelo inglês, jamais
ouviremos uma rainha ou um ministro britânico fazer o mesmo.”. Revista Montepio: "A
Língua Portuguesa" Uma Pátria Imensa, 2015.
Fazedor de opinião disse: "Depois
de se vender empresas, vende-se nacionalidades".
Se fosse ao preço que o
tribuno a comprou, valeria a pena. Leia-se o que disse a São Paulo: "Eu
adquiri o título de cidadão romano, por muito dinheiro" – Acto22:28.
A concluir, confesso que
me encontro embaraçado para responder à pergunta "O que é ser
português?".
Será conhecer bem a
língua? Ser filho de portugueses? Viver em Portugal? Ser nascido e criado na
Pátria?
Não sei.
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, setembro de 2025
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