Rafael Nogueira
Não é “mais um caso”. É O
Caso. E não por falta de material, mas por excesso de despropósito. Filipe,
jovem inteligente, conselheiro do presidente (sem poder de decisão), virou peça
de uma máquina que, em nome da democracia, desaprendeu o ABC da lei e do
respeito ao indivíduo. O leitor faça a bondade de trocar o nome pelo de alguém
próximo: filho, amigo, noivo, neto. Se não mexe com você, o problema deixou de
ser jurídico. É de consciência.
A prisão preventiva nem
deveria ter sido cogitada. O tal “risco de fuga” que lhe daria justificativa
está baseado numa viagem que não houve. Quando ele já estava preso, brotaram
registros migratórios nos EUA — todos falsos — para mantê-lo por mais de 185
dias no cárcere. Contagem de hoje. Vai saber onde isso vai parar? A história
agora viaja, ora ora, para uma investigação nos EUA.
No mérito, tudo se baseia numa
delação de terceiro, aquela da suposta reunião antecipatória de “golpe”.
Delação não é prova. É buzina para chamar a prova. Daí veio o depoimento de um
general e uma caderneta de entradas no Alvorada. Depois, por escrito, o general
avisou que não podia cravar presença nenhuma, e um “possivelmente” foi
promovido a “esteve lá”, por força mesmo.
A defesa trouxe geolocalização, corridas de aplicativo e versões oficiais anteriores, via Lei de Acesso à Informação, que desmentiam viagens e quaisquer papéis da vez. Encerrada a instrução, surgem cópias reprográficas do nada. Ao olhar de perto: rasuras, caligrafias que trocam de mão, assinaturas com humor variável. Erguem andares e mais andares sobre a lama da confusão e/ou da mentira. Uma hora dá bode.
E que tal o agravante do
momento? Em ofício ao STF, o delegado tenta converter crítica pública em crime:
“milícia digital” é o de novo o espantalho da semana, levando advocacia,
imprensa e cidadãos questionadores para o rol dos criminosos. Na mesma peça, há
uma confissão involuntária de que se pode prender sem atentar ao básico. Nada
de checar cadastros, companhias aéreas, bancos, bases públicas, Diário Oficial.
Bastaria o mínimo: voo doméstico posterior, residência em Ponta Grossa, cartões
passando, listas de passageiros sem o nome do sujeito desde janeiro de 2023.
Desde outubro de 2023, a geolocalização monitorada dizia: no Brasil. Mesmo
assim, mantém-se o cárcere.
A Constituição protege a
advocacia e a imprensa. A Democracia repousa na liberdade de expressão. A
defesa chamou o conjunto de “conduta ultrajante” e pediu a anulação do
inquérito, a limpeza dos ataques a advogados e jornalistas, a apuração
disciplinar, a produção das provas suprimidas e as devidas representações a
órgãos de controle daqui e de lá.
Não é só Filipe. O caso o
transcende. Hoje é ele; amanhã, qualquer CPF. Quando o papel dos burocratas é
ignorar dúvidas públicas mais que razoáveis e submeter cidadãos por serem
opositores ao regime do momento, quando a conveniência dos poderosos manda na
probidade processual, esquerda e direita já não importam mais. O vocabulário
perdeu o sentido. Porque Direito não tem lado. Direito tem processo, limite e
equidade. O que sobra chama-se humanidade.
Se aceitamos o padrão,
assinamos cheque em branco. E o caso nos devolve a pergunta: quando for
conosco, preferiremos a frieza da lei ou um direito conforme a torcida?
Ano que vem, na urna, façamos
o mínimo: vamos prestigiar quem não foi negligente com Filipe e com os presos
de 8 de janeiro. Vamos negar o voto a quem, por oportunismo ou
irresponsabilidade, empurrou gente comum para o rótulo de “perigosa”. Se a
soberania é do povo, não de grupos infiltrados no Estado, nem de elites que se
julgam donas do país, voltemos aos fatos, e me responda, por gentileza: com
esses elementos, você condenaria alguém? E, se não, tolera que condenem em seu
nome?
Título e Texto: Rafael
Nogueira, O
Dia, 22-10-2025; Arte: Paulo Márcio
21-10-2025: Oeste sem filtro – PF pede investigação de advogados que criticaram prisão de Filipe Martins + Fux diz que STF cometeu injustiças em julgamentos do 8 de Janeiro + Lula embarca em mais uma viagem internacional
20-10-2025: Oeste sem filtro – Lula entra na crise entre EUA e Venezuela para atacar americanos + Chefe do MST quer enviar brigadas para defender Maduro + Caso de Filipe Martins volta a repercutir na imprensa internacional
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-