Presidenciais são terreno para gladiadores e André Ventura veste a armadura de homem forte como tantos outros líderes da nova direita pelo mundo
Rui Calafate
Desenganem-se os incautos muito ágeis a dardejar André Ventura [foto] na noite de domingo, num exercício doentio e pouco decente de vingança do politicamente correto, o líder do Chega está bem vivo e mais forte.
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Foto: Manuel de Almeida/Lusa |
Foi apenas vítima do excesso
de confiança de quem, em apenas seis anos, conseguiu levar um dito ‘partido de
um homem só’ a segunda maior força política com 60 deputados. O seu desígnio de
30 câmaras a conquistar era muito optimista por dois motivos.
Em primeiro lugar, ainda não
tem estrutura suficiente espalhada pelo território que lhe garantisse bons
cabeças-de-lista, conhecidos e respeitados pelas comunidades, em 308
municípios. Depois, a Marca Chega não bastou para empurrar os seus deputados
como ganhadores e futuros autarcas. André Ventura ainda teve a habilidade de
apelar ao voto útil da direita – nos concelhos em que o Chega podia bater PS e
CDU – mas foi infrutífero o seu esforço.
Mas foi um mau resultado?
Informo as hienas do politicamente correto que não. Passou de zero câmaras e 18
vereadores em 2021 para 3 e 137 vereadores e ao todo obteve mais de 1900
mandatos na totalidade. Com isso ganha influência local, vai criar gabinetes, o
que atrairá mais profissionais qualificados, e assim se cresce estruturalmente.
Sem esquecer o futuro, pois o eleitorado jovem está profundamente fidelizado
pelo líder e por Rita Matias nas redes sociais.
Um dia, quando aquela Anita do Bloco de Esquerda ganhou a câmara de Salvaterra de Magos (saindo depois por indecente e má figura), aqueles que agora tentaram apedrejar André Ventura quase que a ungiram a nova Santa da Ladeira, entretanto, nunca mais o BE venceu nada nas autárquicas. Portanto, desiludam-se o Chega está a iniciar o seu caminho e também aqui irá crescer.
É importante realçar que André
Ventura tem qualidades excelentes para a política atual. É um orador temível e
que sabe tocar as teclas fulcrais que o país real sente. Acompanha e domina por
completo as novas técnicas de comunicação, onde no TikTok é mestre. Sem perder
a essência: a televisão ainda é o suporte vital da política e aí é um bulldozer
de audiências. O único líder partidário que arrasta espetadores e garante
‘shares’ providenciais a todas as antenas.
O que falta então a Ventura?
Ser mais frio e cínico e menos emocional. Ser mais obstinado no rumo sem se
deixar afetar pela espuma dos dias da arena mediática. Precisa de atrair
melhores quadros académicos e da sociedade civil, semear e trazer para a decisão
mais juventude e pensar estratégia a longo prazo. Por exemplo, escolher alguém
que comece a preparar as coisas para ganhar 30 câmaras em 2029, uma espécie de
secretário-geral que olhe para dentro enquanto ele marca o ritmo para fora.
É certo que o próprio sempre
afirmou que as eleições mais difíceis para o partido são as autárquicas,
contudo, cresceu. Não como ambicionava, mas passou a molhar o bico no poder
autárquico. Agora vem uma eleição mais a seu gosto. Presidenciais são terreno
para gladiadores e ele veste a armadura de homem forte como tantos outros
líderes da nova direita pelo mundo. Tem todas as condições para garantir a
passagem à segunda volta, sabendo de antemão que posteriormente não chegará a
Belém. Mas se passar à segunda volta, nesse dia, o gozo total com o
politicamente correto será dele.
Título e Texto: Rui
Calafate, SOL, 19-10-2025, 14h
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