Paulo Hasse Paixão
A Casa Branca começou a realizar despedimentos em grande escala na sexta-feira passada, como retaliação pela paralisação prolongada do governo, incluindo o fecho total de uma agência do Departamento do Tesouro dos EUA.
De facto, toda a equipa do
Fundo de Instituições Financeiras Comunitárias (CDFI) recebeu um aviso de
despedimento na sexta-feira. A eliminação do programa ocorre depois de os
funcionários da Casa Branca terem alertado repetidamente que o governo iria procurar
despedimentos em massa e cortes orçamentais se os democratas não invertessem o
rumo e reabrissem o governo.
A agência emprega 102
funcionários a tempo inteiro, de acordo com o seu mais recente relatório anual,
publicado no início deste ano. O fundo CDFI afirma “expandir as oportunidades
económicas para as pessoas e comunidades carenciadas, apoiando o crescimento e
a capacidade” das instituições financeiras, mas os críticos argumentam que a
agência se desviou da sua missão, para servir de braço político dos democratas.
“Os RIF começaram”, escreveu Russ
Vought, chefe do Gabinete de Gestão Orçamental (OMB) do presidente Donald
Trump, no X na sexta-feira, usando a sigla para “reduções na força de
trabalho”. Espera-se que os despedimentos afetem departamentos de todo o
governo, mas não é claro quantos funcionários federais receberão avisos de
demissão.
Antes do prazo final para a paralisação, a 1 de outubro, o OMB aconselhou as agências a elaborarem planos de redução da força de trabalho para indivíduos empregados em programas que não têm fonte de financiamento atual. nem estão alinhados com a agenda do presidente.
O fundo CDFI foi visado porque
o programa distribuiu ilegalmente prémios com base na raça e adoptou a
ideologia de género e políticas climáticas radicais, de acordo com o
funcionário do governo.
Trump assinou uma ordem
executiva em março que restringe as agências federais, incluindo o fundo CDFI,
às funções a que são legalmente obrigadas, como parte dos seus esforços mais
amplos para reduzir os elementos e as ações do governo federal considerados
“desnecessários”.
O fundo concedeu 4,9 milhões
de dólares à “Local Initiatives Support Corporation”, que publica material que
condena a “brancura” no desenvolvimento comunitário. Apoiou também clínicas LGBTQIA+ que oferecem a chamada
“terapia hormonal de afirmação de gênero” a clientes “de qualquer idade” e atribuiu 6,7 milhões de dólares à
Clearinghouse CDFI, que organizou um desfile de moda promovendo as “políticas
transgénero”.
Resta saber se os cortes de
pessoal realizados durante a paralisação resistirão a contestações legais.
Vários sindicatos federais apresentaram já uma ação judicial para impedir o governo de realizar
despedimentos em massa durante a paralisação.
Everett Kelley, o presidente
nacional da Federação Americana de Funcionários Públicos (AFGE), o maior
sindicato de funcionários federais do país, que representa mais de 800.000
trabalhadores, disse em comunicado na sexta-feira.
“É vergonhoso que a
administração Trump tenha usado a paralisação do governo como desculpa para
despedir ilegalmente milhares de trabalhadores que prestam serviços essenciais
às comunidades de todo o país.”
Vough, diretor do Gabinete de
Gestão Orçamental da Casa Branca, há muito que procura reduzir o tamanho do
governo e tomou medidas concretas para cortar nas despesas federais desde o
início do segundo mandato de Trump.
O financiamento do governo
expirou a 1 de outubro, depois de a maioria dos democratas do Senado ter
rejeitado veementemente um bipartidário projeto-lei para evitar uma paralisação
da máquina federal. O líder da maioria no Senado, John Thune, já apresentou o
mesmo projeto-lei seis vezes, à medida que a paralisação se arrasta, e os
democratas rejeitaram o projeto em todas as ocasiões, com a contagem dos votos
praticamente inalterada.
Os democratas exigiram 1,5
biliões de dólares em novas despesas para uma série de prioridades de esquerda.
Os republicanos classificaram a proposta de contrafinanciamento dos democratas
como morta à chegada.
Trump disse na quinta-feira
que a sua administração estava a concentrar-se em cortar programas
governamentais favorecidos pelos democratas.
“Estamos apenas a cortar
nos programas democratas, lamento dizer, mas estamos a cortar nos programas
democratas. Vamos cortar alguns programas democratas muito populares que não
são populares entre os republicanos”.
O governo já cortou mais
de 7 biliões de dólares em financiamento para projetos
energéticos da era Biden e congelou 18
biliões de dólares em projetos de infraestruturas na cidade de Nova
Iorque e mais de 2 biliões de dólares em Chicago.
O Speaker da Câmara dos
representantes, Mike Johnson, disse numa entrevista no segundo dia da
paralisação que acolhe favoravelmente os cortes na administração federal
durante o período de interrupção do financiamento à administração pública.
“A grande ironia é que é [o
líder da minoria no Senado] Chuck Schumer quem está a oferecer esta
oportunidade. Sempre acreditei, disse e agi de acordo com isso, que o governo
federal é demasiado grande, e não faz quase nada bem. Isto dá-nos uma
oportunidade real, uma oportunidade muito rara, de reduzir o tamanho e o âmbito
do governo. E espero que seja isso que vão ver em breve.”
Schumer criticou a
notícia das demissões em massa nas redes sociais na sexta-feira, qualificando a
iniciativa da Casa Branca nestes termos:
“Isto é o caos deliberado.”
Mas na verdade, quem está a
promover deliberadamente o caos é precisamente o conjunto de senadores que
Schumer lidera. Por exemplo: a interrupção do financiamento dos programas de
alimentação às populações desfavorecidas (food stamps), decorrente da
paralisação da função pública, pode levar a levantamentos populares significativos, principalmente
nas grandes cidades da federação.
Título, Imagem e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 31-10-2025
 

 
 
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