terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

[Livros & Leituras] Casa-grande & senzala, Gilberto Freyre

Global Editora, São Paulo 2006, 12ª reimpressão, 2020, 728 páginas.


Na Wikipédia.

Em 1933, após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre publica "Casa-grande & Senzala", livro que revoluciona os estudos no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade literária. É considerado o livro capital da cultura brasileira. Passados 80 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura, mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela mistura de raças e culturas. A atual edição (da Global) possui introdução de Fernando Henrique Cardoso. 

Juliana Bezerra, Professora de História, toda matéria:

O livro "Casa Grande e Senzala", do sociólogo Gilberto Freyre, foi lançado em 1933.

Nesta obra, Freyre discute a formação da sociedade brasileira a partir de temas como a comida, arquitetura, hábitos, sexualidade, vestimentas, etc.

O livro está estruturado em cinco capítulos onde são analisados três povos que constituíram o Brasil: o indígena, o português e o negro.

Um dos objetivos do livro é responder às teses racistas que vigoravam nos anos 20 e 30 no mundo. Nesta época, muitos defendiam que existiam raças humanas superiores e inferiores; e o cruzamento entre elas resultaria num povo degenerado e incapaz. Portanto, a mestiçagem é negativa, segundo estas teorias.

Gilberto Freyre defende que a mestiçagem não causa nenhuma “degeneração”. Muito pelo contrário, o resultado da miscigenação é positivo, como prova o caso do povo brasileiro.

Monteiro Lobato, 1944:

O Brasil futuro não vai ser o que os velhos historiadores disseram e os de hoje ainda repetem. Vai ser o que Gilberto Freyre disser. Gilberto Freyre é um dos gênios de palheta mais rica e iluminante que estas terras antárticas ainda produziram.

Darcy Ribeiro, 1977:

Casa-grande & senzala é o maior dos livros brasileiros e o mais brasileiro dos ensaios que escrevemos.

[…]

Creio que poderíamos passar sem qualquer de nossos ensaios e romances, ainda que fosse o melhor que se escreveu no Brasil. Mas não passaríamos sem Casa-grande & senzala sem sermos outros.
Gilberto Freyre, de certa forma, fundou – ou pelo menos espelhou – o Brasil no plano cultural tal como Cervantes à Espanha, Camões à Lusitânia, Tolstói à Rússia, Sartre à França.

É certo que houve em nosso caso como nos outros alguns gestos mais, uns antes – ontem, o Aleijadinho, entre poucos – outros, depois – hoje, Brasília, de Oscar – mas, sem dúvida, entre eles está o de Gilberto.

[…]

Casa-grande & senzala é uma façanha da cultura brasileira, como aliás foi visto desde os primeiros dias.

Fernando Henrique Cardoso, 2003:

O Brasil urbano, industrializado, vivendo uma situação social na qual as massas estão presentes e são reivindicantes de cidadania e ansiosas por melhores condições de vida, vai continuar lendo Gilberto Freyre. Aprenderá com ele algo do que fomos ou do que ainda somos em parte.

[…]

De alguma forma Gilberto Freyre nos faz fazer as pazes com o que somos. Valorizou o negro. Chamou atenção para a região. Reinterpretou a raça pela cultura e até pelo meio físico. Mostrou, com mais força de que todos, que a mestiçagem, o hibridismo, e mesmo (mistificação à parte) a plasticidade cultural da convivência entre contrários, não são apenas uma característica, mas uma vantagem do Brasil.

Li este livro nos primeiros anos da década de 70 do século passado, me fez compreender a miscigenação única do Brasil. E ficou para sempre na memória e na alma.
Cinquenta anos depois releio esta cuidada edição. Foi um privilégio!

A Redenção de Cam (1895), pintura de Modesto Brocos y Gomes

Leitura obrigatória para quem ama e se interessa pelo Brasil. 

⭐⭐⭐⭐⭐

Anteriores: 
Medo do conhecimento: contra o relativismo e o construtivismo 
O segredo de Espinosa 
Brigitte Bardot: Le Pape c’est un branquignol! 
Ces statues que l’on abat 
Front Populaire 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-