sábado, 24 de fevereiro de 2024

[Versos de través] Quanto tempo para o intervalo

Filipa Leal

Quanto tempo para o intervalo, perguntas.
Nenhum. Tempo nenhum.

O corpo é um corvo suspenso, uma aflição,
um corvo aos solavancos, abatido às vezes,
um pontapé, um reflexo de tule e rosmaninho.

O corpo deve ser de noite, sempre de noite,
enrolando os pés, enrolando tabaco na cama.

Que susto. Que medo do corpo que eles dobram
assim, cheio de nódoas que eu não sei limpar.
Que estranha a forma como saem de dentro
de água infinitamente secos e lúcidos.

Eu não sabia que dançar era por dentro.
Eu não sabia que dançar era até ao fim.

A vida, meu amor, é sem intervalo.


Filipa Leal, Fósforos e Metal sobre Imitação de Ser Humano

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