Carina Bratt
EU LI E RELÍ a ‘REDOMA DE VIDRO’, acredito, umas três vezes. E concluí essas leituras, como uma delicada e
melancólica observação que, sem dúvida alguma, envolveu tragicamente a vida da
protagonista em sua vivência no correr do dia a dia. Falo da escritora e
poetisa Sylvia Plath. Com maestria, ela nos conduziu por uma narrativa angustiante,
onde o horror silencioso se escondeu sob a aparência da normalidade. A
personagem base do texto, a jovem Esther Greenwood, uma universitária perdida
em plena Nova York, parecia ter tudo: festas, roupas elegantes, amigas e
amigos, namorados os mais variados e também uma bolsa para os trilhos da
universidade. No entanto, por trás dessa fachada podre e ‘glamourosa,’ a
‘redoma de vidro’ da beldade se fechou ao seu redor. A depressão se instalou em
seguida, como uma maré insidiosa e a consumiu lentamente. Entre conversas
vazias e maquiagens, Esther afundou titanicamente em seu próprio inaudito:
A ‘Redoma de vidro’ nada
mais é que um sinal de alerta para que não ignoremos os sinais. Mesmo norte,
uma prova contundente de que a literatura, como um todo, pode ser um farol de
esperança (e é), em meio ao agitado mar proceloso que está bem ali à nossa
frente. Essa agitação descomedida, não outra coisa senão a ESCURIDÃO.
Minhas amigas da ‘Grande
Família Cão que Fuma’, percebam. A vida no seu ‘todo dia, na sua toda hora, no
impassível do minuto a minuto.’ não se resume só no trivial. Entendam que o habitual, com suas festas e
luxos, encontros sem eira nem beira, mata aos poucos. Nos leva para o buraco
sem fundo, nos translada para uma sufocação lenta, contudo, gradativa e sem a
esperança da volta triunfal. Esther se sentia assim: presa; tolhida; vencida;
acuada; sem talvez. Acorrentada ao incapaz de fugir daquele mundo fantástico e
ao mesmo tempo inconcebível que aos goles poucos a consumiu. O silêncio pétreo
da sua dor ingente chegou a ser, em certa altura, meio que ensurdecedor. Nesse
ponto nevrálgico, Sylvia Plath nos escoltou e nos capitaneou, sempre com sua
linguagem simples e corriqueira para dentro dessa ‘arapuca,’ onde tudo é fiel,
mas distorcido. O flagelo do martírio pela qual passou, se transformou numa
espécie de ‘amiga falsa e silenciosa.’’
Ao nosso lado, se prestarmos mais atenção, nos depararemos com um punhado delas. As falsas amigas. A cada página (voltando ao texto), sentimos o peso dessa masmorra invisível onde a Esther se enfiou sem pestanejar. A ‘Redoma de vidro,’ em resumo, nada mais é que um lembrete de tudo aquilo que desconhecemos, de tudo o normal (anormal) que se esconde como uma sombra negra pelas costas das aparências. Existem pelejas, lutas internas, percalços e tropeços que muitas vezes nos passam despercebidas. Seja pela correria do anfêmero que nos desfoca do prumo, seja pela inocência que todas nós trazemos de berço.
Numa terceira hipótese, pela euforia doentia de
querermos com ansiedade e acima do nosso limite e força, uma coisa boba e besta
que parece nos direcionar para um horizonte esplendoroso, quando na verdade, o
fulgor dessa conquista nos mete, de cabeça, corpo e alma para o interior de um
buraco ‘afogoso,’ ou seja -, o da
fístula sem volta. Por tudo o que disse acima, minhas caras leitoras, que eu
possa, ou melhor que possamos olhar com empatia para todas aquelas pessoinhas
ao nosso entorno, lembrando, nossas supostas amigas que vivem sob as suas
próprias campânulas particulares, lutando se emborrascando se sublevando contra
a repulsa, à execração, o assombro inquietante do qual conhecemos somente por
uma visão tacanha, ou seja, esse nosso querido velho e indigesto amigo
inseparável, o C O T I D I A N O.
NOTA DE
RODAPÉ: Sylvia
Plath, nasceu em 27 de outubro de 1932 em Jamaica Plain, Boston,
Massachusetts, EUA e veio a óbito, por suicídio, em 11 de fevereiro de 1963,
aos 30 anos, em Primorose Hill, Londres, Reino Unido. Deixou os filhos Frieda
Hughes e Nicholas Hughes. Nicholas em 16 de maio de 2009 como a mãe, também pôs
fim a vida, pelos caminhos do suicídio.
Para a construção do presente texto, além da leitura do livro, ‘Redoma
de vidro’ me concentrei em farta pesquisa disponível nas redes sociais que merecidamente
citaram e engrandeceram a autora.
Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha, no Espírito
Santo, 18-2-2024
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