Paulo Hasse Paixão
Enquanto estas linhas são escritas, dezenas de milhar de tratores bloqueiam ruas de centros urbanos e artérias fundamentais de vários países na Europa. Em Bruxelas e em Paris, os agricultores chegaram durante a madrugada para serem de pronto cercados pela polícia. A maior parte deles dormiram nas suas cabinas. Alguns montam churrascos ao ar livre enquanto bebem umas cervejas.
De forma algo ingénua,
fazem declarações indignadas à imprensa corporativa, que os trata como nazis, e
ao mesmo tempo que despejam estrume à entrada de edifícios governamentais e
apupam os poucos políticos liberais que têm a coragem de comparecer nos seus
improvisados comícios, esperam sinceramente que as elites no poder ouçam as
suas queixas e aliviem os seus fardos e acreditam convictamente que os
protagonistas do populismo institucionalizado façam mais do que utilizá-los
como adereços da narrativa dissidente.
A quantidade de equívocos em
que mergulham é imensa, mas a sua inocência é tocante. E o poder real que
congregam é assustador para muitos dos intérpretes do dirigismo político
contemporâneo.
(…)
O Contra não tende a
considerar plausível a hipótese de uma alteração revolucionária, de carácter
violento e abrupto, por parte das massas. Mas, por outro lado, não coloca de
parte que a reação das elites à rejeição popular das suas políticas seja feroz
e, a cada momento, mais opressora.
Devemos estar preparados para
isso. E resistir a tentações jacobinas. A revolta campesina do século XXI, ou
outra de carácter populista que possa emergir, não pode ter como modelo
movimentos congéneres de outros séculos, porque nós, no Ocidente, não fomos
educados nem estamos mental ou materialmente equipados para essas agruras e
essas tragédias e esses sacrifícios. E porque devemos manter uma posição moral
consistente com os nossos valores ideológicos e espirituais, independentemente
do niilismo dos nossos inimigos.
A referência ética para uma
revolução decisiva, pacífica e holística é, porém, a de sempre. Encontra-se na
história que é por quatro vezes contada, no Novo Testamento.
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