Karina Michelin
O Senado Federal aprovou nesta terça-feira,18 de novembro, um voto de censura contra o chanceler alemão Friedrich Merz, acusado de “ofender o Brasil” ao afirmar que sua delegação deixou Belém aliviada após a COP30. A decisão foi apresentada como um gesto de defesa da “dignidade nacional”. Na prática, porém, revela muito mais sobre o estado emocional da política brasileira do que sobre qualquer desrespeito vindo da Alemanha.
A fala de Merz - dura, direta e desconfortável - foi apenas um diagnóstico do que delegações internacionais testemunharam na sede do evento climático: infraestrutura improvisada, insegurança nas ruas, atraso nas obras e caos logístico. Nenhuma dessas críticas foi realmente contestada pelo regime brasileiro. Em vez disso, transformou-se a constatação de problemas reais em pauta de ofensa “patriótica”.
Ao mirar na Alemanha, o Senado escapa de mirar no espelho; é mais fácil censurar um chanceler estrangeiro do que admitir que Belém não estava pronta para receber a COP30 e que o país falhou em entregar o que prometeu ao mundo. A censura simbólica funciona como cortina de fumaça: produz manchete, rende discurso inflamado, mas não resolve nenhum dos problemas reais expostos pelo próprio evento.
O voto também expõe o contraste entre democracias maduras e a política brasileira atual. Enquanto governos estrangeiros tratam críticas como material para revisão e aperfeiçoamento, o Brasil reage com teatralização e sensibilidade institucional. O recado passado ao mundo é que apontar falhas logísticas virou afronta à soberania - e que a diplomacia nacional se move mais por orgulho do que por profissionalismo.
O voto de censura não apaga os
problemas revelados pela COP30 e tampouco neutraliza a percepção internacional
em relação ao Brasil. Apenas reafirma que, diante de críticas incômodas, o
regime prefere punir palavras em vez de corrigir fatos. Essa, sim, é a
verdadeira censura que o país precisa superar.
Imagem e Texto: Karina Michelin, X, 19-11-2025, 11h38

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