quarta-feira, 30 de julho de 2025

Nobres e vulgares

Rafael Nogueira

Thomas Jefferson tinha uma ideia, que hoje, se dita em voz alta, termina em tiro, porrada, bomba ou inquérito: nem todos são iguais. Melhor: podem sê-lo perante a lei, e só. Fora disso, há diferenças gritantes. De caráter, de talento, de espírito. Ele chamou isso de "aristocracia natural". Uma tentativa republicana de preservar alguma hierarquia depois que a guilhotina fez o trabalho sujo.

Ortega y Gasset, mais direto, falou em homem nobre e homem vulgar. O primeiro exige muito de si; o segundo exige tudo dos outros — e ainda se ofende se não recebe. O excelente se envergonha do erro, busca superação, aspira a servir algo maior. O vulgar está satisfeito com o que é. Vive para si e por si, certo de que isso é liberdade. Usa, abusa e desperdiça do que não conquistou, apenas herdou. 

O século XIX criou esse sujeito mimado. Deu-lhe conforto, saúde, ciência, lazer, e o abandonou a si mesmo. O resultado é a proliferação de um tipo de homem tecnicamente hábil e moralmente falido. É o barbeiro suburbano de Ortega: não o barbeiro real, figura respeitável, diga-se, mas aquele que, sabendo conversar direitinho com o cliente, por acidente, chega, sei lá, a ministro. E uma vez lá, governa com a mesma mentalidade tacanha de quem nunca saiu do boteco.

Esse tipo hoje domina tudo, e não por acaso. Numa sociedade que teme hierarquias, o medíocre vira modelo. Veja nossos influenciadores digitais: o que vendem senão umbiguismo burguês a que dão o nome chique de lifestyle? Ou nossos políticos: quantos conhecem algo além de seus próprios interesses eleitorais? A vulgaridade virou critério de prestígio. Quem tem virtude, cultura e gosto é elitista. Quem distingue o belo do feio, o justo do torpe, o santo do revolucionário, corre o sério risco de ser perseguido como antidemocrático. E quem ousa servir algo mais alto que seus próprios desejos é visto como fanático.

O espírito se encolheu. E o corpo, com seus apetites, ocupou o trono.

Contra isso, resta a vida nobre. E não falo aqui de brasões nem sobrenomes, mas de sacrifício, disciplina, vocação, reverência. De um tipo de ser humano que não suporta a ideia de viver à toa, que tem o olhar voltado para os séculos que passaram e para os que virão. Que prefere a dureza da responsabilidade ao conforto da irrelevância. E que, se não encontra deveres, inventa uns quantos, porque servir é sua natureza. E o prazer imediato, sua tentação constantemente vencida.

Essa vida, quando falta, empobrece tudo em volta.

Por isso, quando vejo um rapaz sem farda, sem arma, sem patente – armado com fé, leitura e coragem – suportar pressões que têm feito militar treinado pedir socorro, eu sei que estou diante de um nobre. Este é Filipe Martins, o estudioso mais valente que muitos dos que se dizem preparados para a guerra, mas se apressam em entregar os próprios colegas à jaula dos leões. Não sei se por medo ou cálculo equivocado de carreira.

A história saberá distinguir uns dos outros. E reservará seus melhores capítulos não para os espertos que sabem explorar e mentir, preocupados tão somente consigo mesmos, mas para os que souberam o que, quando e como falar e que deveriam falar, mesmo que isso custasse caro. Mesmo que custasse tudo.

Título e Texto: Rafael Nogueira, O Dia, 30-7-2025

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