Aparecido Raimundo de Souza
Micome,
carinhosamente: — Oi chuchu, quanto tempo!
Dacongosto: — É
Messsssssssmo! Um bocado! E aí: tudo
bem?
Micome: — Melhor
agora. Chuchu. Chuchuzinha, mata uma curiosidade minha: é impressão ou você
anda sumida do pedaço?
Dacongosto: —
Impressão sua, Micome. Todo dia aqui.
Micome: — Estou
perguntando pelo fato de não ter mais “aparecido” lá em casa!
Dacongosto: — Falta de
tempo, meu caro. Estou com o Zé dos Pirulitos Ele me aluga o dia inteiro...
Micome: — Ué! Não
sabia que você havia dispensado o Fuzil...
Dacongosto: — De onde
você tirou essa ideia?
Micome: — Ora, Chuchu, você acabou de falar que
“largou” do Fuzil...
Dacongosto: — Em
absoluto. Lembro de ter dito “estar” com o Zé dos Pirulitos...
Micome: — Ah, agora
entendi. Imaginei que você mais o Fuzil...
Dacongosto: — Nada a
ver, cara. Ficou maluco?
Micome: — Desculpa.
Quando você mencionou o Zé dos Pirulitos, eu deduzi outra parada... me perdoa.
Foi mal!
Dacongosto: — Bota foi
mal nisso, meu caro. Acha que eu teria coragem de trocar o meu Fuzil por um
vendedor de doces? Ainda mais o Zé! Sabe quem é o Zé, não sabe?
Micome: — Claro. A galera em peso aqui nas redondezas conhece a figura. Ele andou vendendo uns docinhos pra mamãe, deu em cima dela, fez o mesmo com dona Nair. É um excelente vendedor... quanto a isto, nada a reclamar... sem falar que é barateiro... mas não pode ver rabo de saia...
Dacongosto: — Pois
então: me juntei a ele pra ajudar a vender doces. Vamos dividir os lucros.
Micome: — Pelo menos
agora a coisa vai andar. O Zé, embora mulherengo, é muito querido e
responsável, além de ter uma boa clientela...
Dacongosto: — Que
ideia foi essa de imaginar que eu trocaria o meu Fuzil pelo Zé?
Micome: — Nunca se
sabe Chuchu, nunca se sabe. Vocês, mulheres, são doidas e imprevisíveis. A
minha não me deu um pé no traseiro por causa do Barata? Lembra do Barata?
Dacongosto, fazendo
gracinha: — Lembro. Fazer o que, né? Vai ver a tara dela, naquela época, era
correr atrás de insetos. Nem sei se barata é um inseto... ou se tem parentesco
com lobisomens da cabeça vermelha...
Micome: — Sendo ou
não, não captei a essência da piada!
Dacongosto: — Deixa
pra lá. Bobeira minha. Micome, fala das
novidades que estão rolando...
Micome: — Por
enquanto, nada de novo, chuchu.
Dacongosto: — E o
barzinho?
Micome: — Fechei uma
parceria com o Grelhudo, filho da dona Maria da Muleta Aleijada.
Dacongosto: — Aquele
que tinha um antigo boteco na rua da estação?
Micome: — Esse
messsssssssmo.
Dacongosto: — Então
você vai passar a vender cachaça e cerveja?
Micome: — A ideia é
exatamente essa, Dacongosto...
Dacongosto: — Pensei
que ele não voltaria a reabrir o bar.
Micome: — Ledo engano.
E vamos botar refeições e delivery de marmitex.
Dacongosto: — Legal.
Micome: — Bem,
Dacongosto, este fato não é desconhecido pra ninguém aqui do bairro. Você mesma
sabe o motivo de nos tornarmos sócios. Precisamos de uma grana extra...
Dacongosto: — Uma
graninha a mais não faz mal a ninguém...
Micome: — Você por
exemplo, com o Zé, pode circular por aí com dois pirulitos enterrados, um em
cada orelha. É uma forma de propaganda, ou melhor, de criar um marketing
diferente. Imagine a criançada...
Dacongosto: — To fora,
Micome. To fora! Não gosto de pirulito. Aliás, odeio qualquer tipo de produto
que contenha açúcar.
Micome: — Explica
então, minha nobre Dacongosto, como esse pirulito foi parar aí no decote da sua
blusa?
Dacongosto se abre num
sorriso amarelo. Parece furiosa com a observação meio que marota do companheiro
de periferia. Tenta explicar, sem complicar: — Micome, pega a visão: Quando
vinha pra cá, o Zé dos Pirulitos cruzou comigo. A gente iniciou um papo de acerto
da sociedade e ao final ele acabou me dando um piru...
Micome: — Como é que
é, Dacongosto? Um piru?
Dacongosto: — Deixa de
ser besta, Micome. Sua cabeça só tem espaço pra pensamentos podres e selvagens?
Onde já se viu? O Zé me deu um pirulito para eu levar pra minha netinha
Toniquinha...
Micome: — Chuchuzinha,
só falei para descontrair...
Dacongosto: — Esquece.
Vamos lá. E aí, namorada nova?
Micome: — Nada em
vista...
Dacongosto: — Chegou
aos meus ouvidos que uns e outros viram você com um belo moçoilo, melhor dito,
com o Topete Levantado, o filho de dona Cafiaspirina da Mosca Abatida.
Micome: — Intriga da
oposição. Ele é só um amigo. Mudando o
rumo da prosa. Posso fazer uma observação? Voltando ao pirulito. Você leva
jeito para carregar pirulito no decote da blusa. Esse aí combinou com a sua
vestimenta...
Dacongosto: — Qualé,
resolveu fazer hora comigo?
Micome: — Nada, minha
linda. Só fiz um elogio...
Dacongosto: — Ok.
Voltando ao Topete Levantado. Tá rolando um clima?
Micome: — Sou homem,
sua idiota. E muito macho!
Dacongosto: — Mamão é
macho e é fruta!
Micome: — Sou uma
espada bem afiada...
Dacongosto: — Espada,
né? Espada, até onde sei, vive com o cu enterrado numa bainha...
Micome: — Chuchu,
vamos deixar de lado esse papo furado. Acabaremos brigando. Antes que me
esqueça: Um passarinho azul me segredou que você está espalhando por aí que a
minha ex-mulher, a Barbiela está de caso com o Rubenval da farmácia?
Dacongosto: — Bobeira,
Micome. Falei pra encher o seu saco. Você sabe que gosto muito de você e da
Barbiela. Mas cá entre nós. Eu acho que se você largasse do pé dela, ou seja,
desse uma oportunidade, à Barbiela, a “encantadora” já teria se deitado com o
Rubenval e amassado todos os lençóis do hotelzinho pulguento da cidade vizinha.
Micome: — O mesmo digo
eu. Soube que você está traindo o meu amigo Fuzil com o Zé dos
Pirulitos...
Dacongosto: — Era só o
que me faltava...
Ambos caem na
gargalhada. Todavia, Micome observa a amiga muito séria. Em seguida, alfineta.
Micome: — Percebo que
a fofoca que está sendo espalhada aí pelos quatro cantos, procede. Acho que
você está de “terê-tetê” com o Zé dos Pirulitos.
Dacongosto: — Deixa de
onda, moço. Sou mulher direita.
Micome: — Sei lá. Vai
ver o palitinho do pirulito do Zé é mais interessante do que o gatilho do
Fuzil...
Dacongosto: — Pirou,
Micome? Endoidou o cabeção? Deu agora para viajar na maionese?
Micome: — Acha que
estou viajando?
Dacongosto: — Acho.
Acho não, tenho certeza.
Micome: —
Messsssssssmo?
Dacongosto: —
Messsssssssmo! Venha, vamos almoçar lá em casa. Aproveita que o Fuzil não está
por perto...
Micome: — Até que não
seria má ideia. Sua comida é boa. Apetitosa! Porém, pesando os prós e contras,
você sabe que o Fuzil é meio inteiro maluco e pode chegar num abrir e fechar de
olhos. Já pensou na hipótese do meu amigo estar por aí disfarçado de cachorro?
Dacongosto, ri a mais
não poder: — E qual seria o problema?
Vamos supor que ele chegue na hora em que estivermos comendo?
Micome, muito sério: —
Imediatamente eu me disfarçaria de pneu de avião e sairia voando...
Mais risadas.
Dacongosto: —
Chiiiiiiiii...!!! Não iria prestar. Esquece o almoço. Cada um no seu canto...
ou como você costuma dizer. “Cada um no seu quadrado...”
Micome: — Por quê? Me
dê um motivo justificável para suspender o ato de não comer da sua comida?
Fala, Chuchuzinha...
Dacongosto: — Fuzil,
com certeza, ao vê-lo, apesar de vocês dois serem amigos, unha e carne, meu
marido arrancaria a arma dele da cintura, colocaria o ferro comprido em sua
boca e, em seguida, kikikikiki... ainda que você pretendesse sair voando num
pneu de avião, ele daria uma bela mordida em sua jugular e terminaria com uma
clássica mijada em seus cornos. E faria isso sem tirar seus óculos...
Título e Texto:
Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo, 16-12-2025
O defunto inconformado
Sexta-feira 13
Por conta de um cochilo...
Gambiarra profana
Só ficou, de fato, a escuridão

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