Aparecido Raimundo de
Souza
MEUS CAROS LEITORES da
“Revista Cão que Fuma” —, confesso que muitas vezes, em minha vida, me senti
como se estivesse à beira de um abismo. E pior, me flagrei olhando diretamente
para um fosso gigantesco com o rosto em pânico, assustado, temeroso, tudo por
conta da imensidão que ele me mostrava, ou seja, um fantástico cenário que se
estendia diante de meus receios com sinais tétricos e devoradores. Com isso, o
amor que outrora não me sustentava a contento, de repente, do nada, me deu
forças e me fez sentir vivo. Em dias de hoje, meu ontem me parece apenas uma
lembrança distante. A dor da perda (não importa que perda tenha sido) me
acompanhava. Era como um peso insano que esmagava, tornando difícil as mínimas
coisas, inclusive, o respirar. Nesses idos, me sentia como se estivesse, de
fato, caindo, despencando sem rede de segurança, sem nada para me segurar
naquele infausto mergulho.
A tal cissura se fazia
de concepção profunda e escura, e eu, em certas horas, não atinava em como sair
dela inteiro. Ao mesmo tempo, vejam que loucura —, me agasalhava uma estranha
sensação de liberdade. Estava alforriado, e me via consciente, para escolher o
meu próprio caminho e dentro dele, decidir como seguir em frente. O
despenhadeiro podia ser um sujeito chato, pegajoso, fútil, maldoso, de
semblante assustador, notadamente de espírito vulgar e sem precedentes, não
nego, mas também, em oposto, se me apresentava como uma porta aberta e larga
para o desafio. Nessas horas de puro aperreio, eu descobri que não estava
sozinho. Que diabo, se não estava sozinho, com quem poderia contar? Com a minha
Força de Superação, com a minha Coragem à flor da pele, com a Vontade Férrea,
ou com a ideia imorredoura de querer, com garra e ambição, alcançar os meus
objetivos mais prementes.
Muitas pessoas, tenho
conhecimento, já passaram por isso antes de mim. E sobreviveram. Se elas
conseguiram, por qual motivo eu não atingiria as minhas metas? Obviamente,
nessas horas amargas, não fiquei à espera de um milagre, como John Coffey,
(personagem vivido pelo magnífico Michael Clarke Duncan). Saí, como aliás, de
fato, fui em busca, a procura e a caça de meus objetivos e o mais importante,
tendo plena convicção de que encontraria uma maneira de me ver safo daqueles
“desassossegos agourentos”, e, ao final, me levantaria e seguiria vitorioso.
Não deu outra. A vida, bem sabemos, é
cheia de altos e baixos, de momentos de alegrias e dores, de aflições e
dissabores. E foi justamente no meio dessa mistura catastrófica de emoções as
mais diversas e desordenadas, ou à flor da pele, que encontrei a verdadeira
beleza da existência.