Rodrigo Constantino
A esquerda tem a hegemonia da
cultura e da política no Brasil há décadas, mas tem uma coisa que mudou – e
mudou muito! – de poucos anos para cá, graças em parte às redes sociais, em
parte aos movimentos liberais: a direita perdeu o medo de confrontar de forma
direta essa esquerda hegemônica.
Durante décadas, ficou
parecendo que o PSDB era a oposição a essa esquerda, sendo o próprio PSDB um
partido de esquerda. Estava implícito e explícito que os tucanos – os tucanos!
– eram o contraponto aos petistas. Que piada!
Durante esse tempo, a esquerda
fez a festa. E ficou mal acostumada, negligente, preguiçosa. Não a culpo: se
seu “oponente” de esgrima é um tucano, treinar para quê? Qual o intuito de
melhorar as técnicas se do outro lado tem um “adversário” que pede desculpas
quando lhe acerta um toque, oferecendo o corpo para uma “recompensa”?
E foi com tucanos que essa
esquerda radical “debateu” por tanto tempo. Até chegar a verdadeira direita,
até os liberais conseguirem preparar o terreno para jovens destemidos, corajosos,
com embasamento teórico, dispostos a partir efetivamente para a briga.
Os “moderados”, ou “isentões”,
reclamam: querem a volta do status quo, do tempo em que o “liberalismo” fazia
tantas concessões ao socialismo que ambos pareciam indistinguíveis a olho nu.
Não vai acontecer. A mudança veio para ficar, e para o desespero da esquerda.
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Foto: Karime Xavier/Folhapress |
Dou dois exemplos com base em
artigos publicados hoje na Folha de SP (ela mesmo um jornal do tipo “isentão”).
O primeiro é de Fernando Holiday [foto], vereador de SP e líder
do MBL, em resposta a um artigo de Alessandra Orofino. O jovem detona a moça
esquerdista sem dó nem piedade, sem medinho de ser acusado de “machista”, sem
acender vela para o politicamente correto ou para os movimentos de “minorias”
(até porque ele é negro, gay e pobre). Diz Holiday, sem rodeios:
Os devaneios de Orofino,
obviamente, não teriam sentido sem elementos comumente usados pela esquerda em
suas teses: mentira, distorção e omissão.
O pano de fundo era me colocar
como alguém que fugiu de suas lutas iniciais para se aventurar em pautas
culturais. Desde o início da minha militância, defendo pilares fundamentais da
civilização ocidental, por acreditar ser este dever de qualquer liberal.
Não me importo em ser chamado
de conservador por isso. Na verdade, muitos conservadores me inspiram, como
Nelson Rodrigues (1912-1980) e Edmund Burke (1729-1797). Essa defesa sempre
esteve alinhada com medidas que reforçam minha austeridade e respeito ao
dinheiro público.
[…]
Contudo, boa parte da
pantomima da moça se dedica a tentar refutar a importância do projeto Escola
Sem Partido, que avançou na Câmara de São Paulo. Fica evidente, pois, que a
esquerda ignora completamente contundentes denúncias divulgadas ao longo de
anos, vindas de alunos que foram prejudicados, humilhados, ou até mesmo
traumatizados por simplesmente dizerem o que pensavam em sala de aula.
E conclui, da forma mais
direta possível: “Eu sinto muito, Alessandra. Sua arrogância de esquerdista de
butique não cola mais. Essa juventude já se cansou dos falsos movimentos
estudantis, inundados com o dinheiro público”.
O segundo caso é de Alexandre Schwartsman, ex-diretor do
Banco Central, rebatendo as falácias cafajestes do ex-ministro Nelson Barbosa.
Eis alguns trechos:
O ex-ministro da Fazenda
Nelson Barbosa lamenta, em coluna publicada aqui na Folha, a baixa
velocidade de recuperação do país na saída da crise, aquela mesma recuperação
que afirmava não ser possível sob a política econômica adotada depois de sua saída do ministério, e aquela mesma crise que resultou das
escolhas de política econômica que subscreveu durante sua longa estadia como
secretário também na Fazenda.
Considerando que em janeiro de
2015 ele previa uma saída rápida da recessão, projeção que voltou a repetir em setembro daquele ano, ecoando,
aliás, promessa de 2013, deve estar mais do que claro que não levo
a sério nenhum pronunciamento seu. De qualquer forma, sua conhecida honestidade
intelectual serve de mote para entender o que vem acontecendo com o país.
Por exemplo, entre os lamentos
de Barbosa, destaca-se sua “surpresa” com a lentidão, dado que “o cenário
internacional se tornou bem mais favorável ao Brasil desde 2016”. […] A
verdade é que o cenário global, de maneira geral positivo, não é tão distinto
daquele vigente durante a recessão.
[…]
Isto dito, é óbvio que a
retomada da economia tem sido lenta, ponto que tenho feito repetidas vezes aqui neste espaço, bem como em outros. Em boa parte isso se deve à própria profundidade
da crise, que criou imensa capacidade ociosa, fenômeno que deve manter o
investimento baixo ainda por alguns anos.
A outra questão é a incerteza
fiscal. Ao contrário, porém, do que Barbosa argumenta (o medo da austeridade
renovada seguraria o investimento), é o receio do abandono prematuro do ajuste
fiscal à luz do quadro eleitoral para 2018 que leva investidores a evitar se
comprometer em prazos mais longos.
Se gasto público gerasse
crescimento, o Brasil seria uma nação próspera, e Barbosa, o ministro da
Fazenda. Tolerar Barbosa como ministro seria preço baixo a pagar pela
prosperidade, mas a realidade costuma prevenir esse tipo de absurdo.
Como fica claro nos dois
exemplos, ambos citam o nome de seus alvos, apontam suas falácias, mentiras,
desonestidade, e tudo isso sem rodeios, sem concessões, sem tentar parecer
“moderado” ou “isentão”. Não é agressividade; é objetividade, clareza e coragem
para dar nome aos bois.
Comparem isso às “críticas” de
Míriam Leitão, premiada jornalista da mídia mainstream – e ícone da esquerda
“moderada” -, ao PT. Para atacar petistas, Míriam quase pede desculpas, inclui
direitistas na lista para soar mais “imparcial”, e mal consegue citar o nome
dos alvos, fica mais nas abstrações.
Quando a esquerda radical
tinha que “enfrentar” só gente do tipo de Míriam Leitão era moleza!
Como a vida era mais fácil,
não é mesmo? Mas a moleza acabou. A “onda conservadora”, que tanto apavora FHC,
é real, e um de seus grandes méritos é esse: o confronto mais direto com a
esquerda jurássica.
Se Alckmin pediu desculpas ao
ser “acusado” de privatista, e colocou broches e boné com logos de estatais, a
“nova direita” aponta para os fracassos do estatismo, defende com orgulho a
privatização de todas as estatais e esfrega a corrupção
petista possível por conta dessas estatais na cara de pau desses críticos.
O mundo mudou. O monopólio da
virtude da esquerda acabou. Sua hegemonia confortável desapareceu. E é melhor
já ir se acostumando, pois não voltará a época em que a esquerda “debatia”
apenas com ela mesma, simulando uma pluralidade inexistente.
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