João Bosco Leal
Soprando sua mão espalmada
repleta de plumas, um sábio mostra a seu pupilo um ensinamento secular, que
palavras ditas são como papéis picados, que esparramados pelo vento, jamais
poderão ser totalmente recolhidos.
Em uma leitura, soube da
história de um pescador que chegando ao rio pela madrugada, ainda escuro,
encontrou um saco contendo pedras e ficou atirando, uma a uma, na água até que
o dia clareasse e quando ia jogar a última delas, já com os primeiros raios
solares, percebeu que era uma pedra preciosa.
Imagino o arrependimento do
pescador, que atirou dezenas de pedras no rio, por uma atitude impensada,
jogando-as antes mesmo de observar se possuíam alguma importância, se eram
preciosas ou se com o polimento dos séculos, ficaram belas o suficiente para
servir como objeto de decoração, ou apoio de livros.
Durante a vida, não observamos
as pedras que atiramos ou nas quais tropeçamos, dizemos palavras, fazemos
brincadeiras ou tomamos atitudes, que desagradam ou ofendem as pessoas, algumas
desconhecidas, outras muito próximas, queridas e só nos lembramos que não há
como recolhê-las ou apagá-las, após o arrependimento.
A necessidade, cada vez mais
comum, de residirmos em apartamentos ou condomínios fechados, faz com que o
cidadão urbano perceba, mais rapidamente, que não está só, em uma propriedade
rural, longe de tudo e de todos, onde suas atitudes e decisões não influirão na
vida do vizinho bastante distante.
Atitudes mínimas,
corriqueiras, como fazer barulho durante a noite ou estacionar de qualquer
forma na garagem do prédio, podem irritar, criar constrangimentos, ou até mesmo
prejudicar outras pessoas que compartilham do mesmo espaço residencial.
Só a maturidade e essa
convivência em sociedade, partilhando espaços comuns e cada vez mais
concentrados, são capazes de nos mostrar a necessidade de seguir um antigo
ditado: ‘fomos criados para ouvir mais do que falar e por isso possuímos dois
ouvidos e só uma boca’.
Não há como ignorar as
ocorrências diárias, mas sempre dizemos coisas ou tomamos atitudes sem pensar
nas consequências, se prejudicaremos ou ofenderemos alguém, ou nos igualamos às
pessoas que nos ofenderam, possibilitando, dessa maneira, que continuem a nos
ofender e que as revidemos.
Ouvimos muitas pessoas dizer
que não levam troco para casa, que não assinam recibo ou algo parecido, mas se
esse comportamento for generalizado, coletivo, certamente retornaremos à idade
da pedra, com brigas constantes onde só sobreviverão os mais fortes e
violentos.
Para melhor conviver em
sociedade, precisamos aprender a calar e pensar, antes de dizer algo ou de
tomar atitudes, pois cada ação provoca uma reação e nossa vida é repleta de
ações, passos, caminhadas, trilhas e rodovias, cabendo a cada um a escolha das
suas e das consequentes reações.
Resposta ou atitudes
precipitadas normalmente causam reações também intempestivas, que poderão nos
agredir, mesmo quando essa não era a intenção do outro, que simplesmente reagiu
à nossa ação de imediato, sem pensar e provavelmente não reagiria daquela forma
se tivesse pensado mais.
O silêncio é a melhor resposta para todos os
assuntos, em qualquer situação. Mais tarde, pensando com calma sobre o fato,
certamente veremos que poderíamos, ou deveríamos, ter respondido ou agido de
outra forma.
Quando falarmos ou atirarmos
pedras, precisamos observar o que irão atingir, pois como as palavras, mesmo
quando atiradas na água as pedras podem provocar algo que não deveria.
Para não nos arrependermos do
que fizemos, devemos analisar, antecipadamente, as palavras que diremos e as
pedras que atiraremos.