Joshua Wong pede que o mundo apoie a luta pró-democracia
do território e afirma que os protestos vão continuar
Gabriel Oneto
Aos 23 anos, Joshua Wong (foto] faz
parte da última geração que nasceu em Hong Kong quando o território ainda
pertencia ao Reino Unido. Um dos nomes mais conhecidos das manifestações contra
a tirania chinesa, Wong rejeita o rótulo de líder e afirma que as manifestações
vão continuar apesar da repressão policial crescente.
Foto: Studio Incendo/Flickr |
Em entrevista exclusiva
à Oeste, ele fala sobre a nova lei de segurança nacional que a
China quer impor a Hong Kong, o risco de perseguição e como a repressão
policial chinesa está interferindo no território. Confira:
Como você avalia a nova lei
de segurança nacional que a China quer impor a Hong Kong?
A nova Lei de Segurança
Nacional em Hong Kong irá acabar com futuros movimentos democráticos, uma vez
que todos os protestos e manifestações serão considerados atentados de
subversão aos poderes da China. Para fazer a lei ser cumprida, Pequim quer
instalar um órgão de segurança nacional sem precedentes na cidade. Esse órgão
secreto da polícia provavelmente substituirá as forças policiais e
governamentais e realizará prisões secretas dos dissidentes, como já acontece
na China. Em outras palavras, a nova lei serve como uma arma para exterminar as
aspirações democráticas de Hong Kong.
Essa lei pode levar a um
aumento das manifestações em Hong Kong?
A lei irá despertar uma nova
rodada de protestos. Em 2019, mais de 2 milhões de pessoas foram às ruas contra
a lei anti-extradição com o objetivo de proteger as futuras gerações. Os
habitantes de Hong Kong também realizaram grandes protestos em 2003 contra a
Legislação de Segurança Nacional. A nova lei é ainda pior, porque coloca em
risco as liberdades individuais de todos. A estratégia de Pequim é enfiar essa
lei controversa goela abaixo dos moradores, sem nenhuma votação legislativa. É
previsível que os habitantes de Hong Kong estejam preparados para lutar para
manter sua liberdade. Peço ao mundo que, mais uma vez, nos apoie.
Teme ser alvo dessa nova
lei?
Provavelmente serei o primeiro
alvo dessa nova lei, já que tenho recebido críticas de autoridades de Pequim
por comparecer a audiências internacionais e contar ao mundo a verdade sobre a
opressão do regime e a brutalidade da polícia. A China aponta eu e Nathan Law
como os líderes por trás do movimento, embora não haja líderes.
Hong Kong é um centro
financeiro global. As empresas sediadas aí podem fazer alguma pressão no
governo chinês?
Para proteger o interesse
comercial da cidade, especialmente daqueles que escolhem Hong Kong como sede
regional, é crucial que as empresas expressem sua opinião e se oponham à
aprovação da lei. Manter o status de autonomia de Hong Kong é a única maneira
de preservar o interesse comercial. No passado, Hong Kong tinha barreiras para
combater a influência política da China, como garantias de proteção aos
direitos humanos, um judiciário independente e regulamentos comerciais livres.
Essas são as razões pelas quais as empresas escolhem Hong Kong como destino de
investimento.