Branca Nunes
Valeu a pena o empenho de boa parte dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral, da imprensa velha, do jornalismo militante, dos artistas/intelectuais de manifesto. Graças a uma vantagem inferior a 2 pontos porcentuais, Lula entrará no gabinete hoje ocupado por Jair Bolsonaro em 1º de janeiro de 2023.
O esforço para eleger o único
político considerado de esquerda que não sofre de raquitismo eleitoral produziu
as mais improváveis parcerias. Uma delas: Guilherme Boulos, acusado de vadiagem
por Henrique Meirelles, está de mãos dadas com Henrique Meirelles, acusado por
Boulos de “explorador do povo brasileiro”. Outros namoros atraíram para o
palanque de Lula os banqueiros do Plano Real, classificado pelo PT como uma
“pura tapeação”, ou José Sarney, considerado por Lula em 1988 “o maior ladrão
do Brasil”.
As cerejas do bolo foram o
vice Geraldo Alckmin (que em 2018 garantiu que Lula queria mais um mandato para
voltar à cena do crime) e Fernando Henrique Cardoso, responsabilizado por
deixar-lhe no colo uma “herança maldita” que nunca existiu. Há poucos anos, FHC
achava que o PT quebrou o Brasil.
Essa babilônia brasileira
pariu o terceiro mandato do homem que assombrou o país por 42 anos, oito dos
quais na Presidência e mais cinco com o codinome Dilma Rousseff. Como avisa o
artigo de Ubiratan Jorge Iorio, um esclarecedor regresso ao passado recente o
que podemos esperar é, por exemplo, “a volta dos bancos públicos como
fomentadores de projetos escolhidos politicamente Nunes para beneficiar setores
de empresários amigos”.
Iorio também prevê “tentativas de reverter privatizações; fortalecimento dos sindicatos, com a marcha à ré da reforma trabalhista feita no governo Temer; tentativa de ingerência na autonomia do Banco Central; explosão de gastos públicos; BNDES colocado para financiar projetos em países amigos; recuos nos marcos regulatórios de diversos setores; ideologia de gênero e muito mais”.